domingo, 30 de maio de 2004

Historiografia de almanaque



O que é o tempo? O tempo é para o homem “uma planície, sem forma, sem caminho, sem fim, sem luz, onde ele transita guiado pelo almanaque, que segura pela mão, o vai puxando e a cada passo murmurando: aqui estás em setembro!.. Além, finda a semana!... Em breve alcanças o 28... Hoje é sábado!! Se o almanaque de repente, por facécia ou perfídia lhe soltasse a mão, o abandonasse, o homem vaguearia, irremissivelmente confuso e perdido, dentro da vacuidade e do não ser do tempo. Sumida a noção do ano, do mês, do dia ele não poderia cumprir, com ordem proveitosa, os atos da sua vida urbana, rural, religiosa, política e social (Queiroz, apud. Freire, 1990).
Com esse feliz comentário, Eça de Queiroz antecipa definições de dois importantes objetos de pesquisa do final do século XX: o tempo e o impresso almanaque. O primeiro é categoria fundamental para o historiador. Traduzido, configurado e controlado inicialmente por expressões com século, ano, dia, como progresso e revolução e, contemporaneamente, como continuidade e mudança, o tempo vem sendo tema de reflexão entre os historiadores que buscam identificar os traços diacríticos do saber histórico em sua versão científica. Dentro dessa perspectiva, o tempo seria então um traço relevante; uma abstração, uma construção virtual (embora indispensável para a existência humana), como a noção de identidade elaborada por Levis-Straus (1977). Já o almanaque, definido por Eça, teria origem no calendário. Ele é o instrumento responsável pela materialização da virtualidade tempo assim como da noção de espaço (Park, p. 35, 1999).
O almanaque dos últimos dois séculos tem sido um tipo de impresso intermediário entre a folhinha e a enciclopédia. A folhinha – de santo, de foto de criança de mulheres nuas etc. – registra as fases da lua, os dias fastos e nefastos e é indispensável nos lares mais humildes, até mesmo nas secretarias de suntuosas empresas. A enciclopédia sobre tudo informa e ensina: a massa de uma palha de coqueiro, a altura do Everest, e a biografia de Adolf Hiler. Portanto, o almanaque, em sua versão genérica, comercial, agrícola ou de remédio pode mesmo ser considerado uma espécie de enciclopédia popular. Ele serve para controlar o tempo social e como meio de instrução, principalmente quando divulga lições de português, literatura e história. Isso é o que se pode encontrar, por exemplo, no Almanaque Sergipano, publicado na virada do século XIX para o século XX em Aracaju.
O almanaque em questão circulou entre 1892 e 1914. Dele ainda existem vários exemplares na Seção Sergipana da Biblioteca Pública Epifânio Dória (relativos aos anos 1892, 1897, 1898, 1899, 1901, 1902, 1904 e 1914) e no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (anos 1899, 1900 e 1902).
O Almanaque sergipano compunha-se por duas sessões que tratavam, respectivamente, de assuntos comuns à maioria dos impressos congêneres nesse período. Na parte relativa ao “calendário”, concentravam-se as indicações sobre os santos do dia, os feriados “nacionais” e religiosos, os dias propícios aos tratos em determinadas culturas, os dias nefastos para matrimônios, negócios e viagens.
Ainda na primeira parte apresentavam-se as “informações úteis”: listagens de autoridades do executivo, legislativo e judiciário; listagem de cidades, vilas, povoados e arraiais de Sergipe; nomes e endereços de instituições civis, de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviço, além de uma exposição didática da divisão administrativa e judiciária do Brasil.
A parte “recreativa” ou “literária” publicava acrósticos, charadas, enigmas, logogrifos, receitas culinárias, máximas, lendas, crônicas, contos, poemas, generalidades sobre o conhecimento científico – as propriedades medicinais da manga, os malefícios do uso da bicicleta, a invenção do aerostato etc. – impressões de viagem, descrições de costumes, a exemplo da “serração da velha”, do “casamento no campo”, e textos de crítica literária.
Com essa configuração, o primeiro veículo que utilizou o título Almanaque Sergipano foi dirigido pelo historiador Francisco Antônio Carvalho de Lima Júnior, em 1892, homem de larga experiência nas lides jornalísticas. No tempo de Lima Júnior, o Almanaque intitulava-se “literário”. Talvez por isso não tenha obtido o êxito esperado pelo empreendedor. Parou de circular no primeiro número. Sobre o insucesso dessa espécie de arauto e, ao mesmo tempo, crítico do republicanismo, Laudelino Freire chegou a concluir, exageradamente, que a sociedade sergipana, por ser anêmica, apática e desanimada, não poderia compreender a importância da iniciativa do seu organizador (Freire, p. 299, 1900).
Em 1897, porém, o Almanaque Sergipano volta a circular. O seu gerente dá nova feição ao periódico. Passa a intitular-se “Comercial e literário”. Pode ter sido o apelo que faltava. Sob a direção de um outro historiador, Manuel dos Passos de Oliveira Teles, e dos “artistas” Jonas de Araújo Pinto e João Pinto de Mendonça, o periódico sofreria mais um golpe em 1902 com a morte do seu proprietário, o filantropo capelense, da Loja Maçônica Continguiba, da Confraria de São Benedito, o animador do Club Cordovínico, Guilherme Vieira Filho (1861/1901).
Esse bem sucedido comerciante também foi o inovador no ramo gráfico. Fundou o primeiro estabelecimento “moderno” em Sergipe, a Tipografia e Papelaria Comercial (Dória, p. 160, 1961). Com a sua morte, tanto o Almanaque e a empresa gráfica passaram às mãos do historiador Elias Montalvão, que ali imprimiria um dos primeiros livros didáticos de História local, o Meu Sergipe (1914).
O Almanaque Sergipano era obra coletiva, independentemente de quem o tenha redigido. Elaborado a partir da contribuição de dezenas de colaboradores de Sergipe e de outros estados, os responsáveis pela edição chegavam a promover concurso de melhor charada, divulgando os mais votados e publicando as cartas dos próprios leitores. A continuidade da relação editor-leitor era garantida com a publicação das respostas aos enigmas e charadas no final do exemplar seguinte. As cartas e as resenhas sobre o periódico também ganhavam espaços no corpo textual.
Dentre as inúmeras contribuições enviadas ao Almanaque, muitas tratavam de História. A freqüência maior foi de colaboradores sergipanos, já bem conhecidos no meio local. O historiador Laudelino Freire, por exemplo, remeteu três trabalhos. No primeiro, denunciou o “erro histórico” que era comemorar o 24 de outubro como a data da emancipação e independência de Sergipe, em detrimento do 8 de julho de 1820, data em que D. João V elevou Sergipe à capitania independente. Na segunda contribuição, Laudelino dissertou sobre as origens do povo sergipano. Não acrescentou muito ao capítulo I do livro didático lançado em 1898 – História de Sergipe – quando afirmava que os sergipanos, como os demais brasileiros, resultaram da mestiçagem entre as “raças” branca, vermelha e preta, representadas pelos povos: português, índio e africano, aos quais correspondem os “tipos” branco, caboclo e negro. A principal contribuição de Laudelino, porém, não se encarrega efetivamente da história de Sergipe. Trata-se de um esboço sobre a história do periódico almanaque desde a experiência dos caldeus, assírios, passando pelas influências cristãs e cientificistas. Mesmo assim, Laudelino não deixa de tecer considerações sobre a vida cultural do estado na passagem do século XIX para o século XX.
Manoel Curvelo de Mendonça (1870/1914) publicou “No tempo da revolta: cena impressionista do momento” (1901), narrando o sofrimento de uma mulher e seus três filhos durante o bombardeio da esquadra revoltada na bahia do Rio de Janeiro. Sobre Sergipe, publicou “Uma fase histórica de Laranjeiras” (1899). Nesse artigo, ressaltou a “riqueza material e social” de Laranjeiras onde “ecoou”, em 1887, a última fase da campanha republicana em Sergipe. Tanto a revolta da Armada quanto o republicanismo em Laranjeiras são excertos de duas obras deste autor: Contos e divagações e Sergipe republicano, este último, publicado em 1896. Curvelo de Mendonça (1892) também esboçou aquilo que seria, talvez, um futuro livro sobre a contribuição dos intelectuais sergipanos para a “transmutação literária, jurídica, científica e filosófica” por qual passou o Brasil no último quartel do século XIX. É claro que tratava-se de enfatizar a importância de Tobias Barreto, Silvio Romero e toda uma geração influenciada por estes pensadores.
Um certo “Pastor Sergipano” assina uma breve notícia sobre a cidade banhada pelo rio Piauitinga. “Estância”, ocupa apenas duas páginas, mas o suficiente para informar sobre logradouros, hospital, fábrica de tecidos, condições do porto, produção fabril e principais edificações, imprensa e o movimento republicano no município em 1816. A mesma Estância também foi descrita nas impressões de viagem de Pedro Franco Lima, em 1904.
O município de Lagarto, contudo, ganhou monografia mais circunstanciada. É o mais extenso texto publicado sobre municípios. Nele, Severiano Cardoso retrata as origens da localidade, debruçando-se sobre os primeiros povoadores, templos, párocos, criminosos e, principalmente os costumes do povo do lugar. De Boquim, é estudada a “origem dessa denominação”, por Terêncio de Carvalho.
Os historiadores locais também esboçaram traços biográficos de filhos ilustres. Manoel dos Passos de Oliveira Teles, provavelmente, foi o autor dos textos sobre o deputado e magistrado lagartense, José Martins Fontes (1829/1895) e do professor e escritor baiano, Luiz Carlos da Silva Lisboa (1850/1903). Aníbal Freire biografou Tobias Barreto e o mesmo Oliveira Teles. Nesse último trabalho, há uma informação preciosa para os estudos sobre o pensamento geográfico em Sergipe: a Corografia de Sergipe, de Oliveira Teles, anunciada por Armindo Guaraná como obra inédita aparece como publicada no [jornal de Sergipe em 1896]. O artigo sobre Tobias é também um excerto de um livro a ser publicado, o Sergipe Intelectual.
Armindo Guaraná tratou da vida do bispo Domingos Quirino de Souza (1813/1863) e do poeta sancristovense, José da Costa e Silva, e Flaviano de Andrade e Hevécio de Andrade depuseram sobre a vida do acadêmico de medicina sergipano, nascido em Divina Pastora, Alfredo Acioli (1875/1903). Como sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Acioli produziu “uma longa e minuciosa monografia” sobre o seu município natal.
Já o historiador Francisco Antônio Carvalho de Lima Júnior ocupou-se do poeta sergipano Constantino Gomes de Souza (1824/1877) e, provavelmente, foi o autor da sinopse sobre o bacharel positivista e, depois, republicano carioca, Silva Jardim (1861/1891). Dos textos sobre o jurista Gumersindo Bessa (1859/1913), o empresário Guilherme José Vieira, e o político José do Faro Rollemberg não conhecemos os autores. Deve-se registrar que alem dos filhos sergipanos, baiano e carioca, o periódico divulgou traços biográficos de três pernambucanos: Manoel Xavier Paes Barreto, Pedro da Silva Marques (1887/1902) e Francisco Pedro Boulitreau.
O Almanaque Sergipano também publicou documentos à época considerados históricos, mas não foram muitos. Além de correspondência oficial que trata da participação de Sergipe na reedificação de Lisboa, apenas o número relativo ao ano de 1892 editou massivamente algumas fontes deliberadamente oferecidas aos futuros historiadores da experiência sergipana. A iniciativa coube a Francisco Antônio Carvalho de Lima Júnior. Como redator da primeira versão do Almanaque Sergipano, o historiador entremeou toda a publicação com breves notas sobre a instrução pública, a Revolução de Santo Amaro, o poder legislativo provincial, o soldo de militares, estatística populacional de Aracaju, e despesas da província para o exercício 1834/1835. Eram, certamente, notas de pesquisa acumuladas ao longo de sua vivência em Aracaju, quando da organização dos “papéis antigos” do acervo da Biblioteca provincial. Notas que seriam publicadas em meados da década de 1910 no periódico do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Como pudemos constatar, a despeito de ser redigido e editado por historiadores como Carvalho Lima Júnior, Oliveira Teles, Silva Lisboa, e Elias Montalvão, não há diferenças na relação entre a escrita da História produzida para o Almanaque e a historiografia veiculada em outros periódicos da época. Apesar de o historiador constituir-se num organizador do tempo alheio e do almanaque constituir-se no demarcador do tempo social, sobretudo, no lapso de doze meses, não constatamos singularidades na articulação presente, passado e futuro na escrita produzida para esse veículo em particular. A historiografia funcionou como um produto entre os vários que os intelectuais chamados a contribuir com a empresa dispunham no momento da composição do periódico.
Ressalvas devem ser feitas ao número organizado por Lima Júnior (1892), onde as informações sobre o passado serviam como memória referencial e base para a autocrítica do regime político em vigor. Isso fora, a historiografia de almanaque configurou-se nas sinopses biográficas, nas memórias sobre municípios e nos excertos de obras recentemente publicadas pelos historiadores sergipanos. É curioso que neste caso, a publicidade da historiografia tenha sido efetivada a partir de fragmentos dos originais. A resenha, mesmo de caráter apresentativo e comercial foi matéria rara no Almanaque Sergipano. Essa tipologia, história de vidas ilustres e história dos municípios, encontrará o seu apogeu na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, criada por esses mesmos autores/colaboradores de almanaques em 1913.
No âmbito da pesquisa historiográfica, todavia, no que diz respeito à recepção dos textos, o impresso Almanaque ganha relevância como difusor dessa espécie de saber, na medida em que apresenta vantagem sobre o periódico jornal (diário, hebdomadário ou mensal) no número de exemplares produzidos (chegou à casa do milhar), no formado (livro, portátil, armazenado em estantes) e na abrangência da circulação (cobria outros estados do Brasil).
Para citar este texto:
FREITAS, Itamar. Historiografia de Almanaque (I)..A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 30 maio 2004.
Este artigo foi publicado no livroHistoriografia sergipana.

domingo, 23 de maio de 2004

Para a história de Itabaianinha

E a história de Itabaianinha? Como foi contada no livro lançado na semana passada? Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Itabaianinha (Editora da UFS, 2003) é anunciado como livro de memórias e de crônicas – as memórias de José Carlos de Oliveira (1919/...), oficial do registro civil aposentado do Tribunal de Justiça do Estado. Seu filho, Gilmário Macedo de Oliveira, organizador e co-autor, explica bem a situação limite da escritura: “avisado do crepúsculo que se aproximava, ele reuniu suas forças, suas últimas energias e, com dedicação e zelo, entregou-se à tarefa de ser um dos cronistas da sua terra natal.”
Repostos o gênero e as circunstâncias, cabem ainda as perguntas: a proximidade da morte modificaria a estrutura da narrativa? Que tipo de crônica fora escrita sobre Itabaianinha? Trata-se, na verdade, de um clássico relato de história local ao modo da primeira geração do IHGS.
O livro é aberto com curtas relações de filhos ilustres, intendentes e prefeitos, juízes e promotores, vigários e senhores de engenho, ou seja, gente que inscreveu suas memórias na política e na economia do lugar, deixando marcas – umas trágicas, outras cômicas – nas lembranças dos “sem nome”. Mas, o seu José Carlos era um “sem nome”? Certamente que não.
As curtas relações que tratam dos “com nomes” situam-se entre a apresentação e o prólogo. É preciso registrar que, independentemente do plano original dos manuscritos, elas não parecem contribuir para a harmonia do livro que ganha a forma narrativa e não tópica, a partir da página 33. Além disso, não entendi o porquê do título: “Freguesia”, já que as experiências relatadas extrapolam os limites dessa jurisdição eclesiástica.
Seguem-se os capítulos sobre religião, política, festas populares, e sobre o trabalho. O período mais “lembrado” remete-nos às décadas de 1920 a 1940.  Há perfis biográficos de personalidades dos três poderes, de professores, jornalistas, artistas e religiosos; relatos sobre fatos inusitados, como a chegada dos trens, dos automóveis e sobre a seca de 1932.
Grande parte do livro é também ocupada pela descrição de edifícios públicos e privados, de ruas praças e becos. Em quaisquer desses segmentos, além da descrição – às vezes, rigorosa e adjetivada em excesso –, há freqüentemente a inserção de saborosos contos [a parte “inventada”?], dos quais destaco o episódio em que o funcionário público Antônio Pinto de Abreu fraudou os boletins meteorológicos, chamando a atenção dos técnicos da SUDENE para “o fenômeno do micro-clima estável” de Itabaianinha.

Algumas informações desse livro me chamam a atenção pela regularidade com que estão aparecendo nas histórias locais recém publicadas: a idéia de que o mundo se encerra nas cercas de cada cidade; a partidarização (em dois cordões) de instituições culturais – filarmônicas, clubes carnavalescos, procissões; e a idéia de progresso e decadência baseada na fortuna do comércio – os algozes de Itabaianinha são a BR 101 e a cidade de Umbaúba.
Outros dados aguçam a curiosidade pelas luzes que lançam sobre a história de Sergipe (síntese): o trânsito de mão-de-obra entre Itabuna/Ilhéus e Itabaianinha, a importação de práticas carnavalescas do Rio de Janeiro – sem passar por Aracaju –, e a “invasão da cidade pelos fanáticos do ‘Céu das Carnaíbas’ são exemplos destacados. Deste fenômeno messiânico, alguns pesquisadores da UFS têm buscado pistas nos arquivos, sem resultados alentadores. No livro existe página e meia de história.
Mas, há também aquela informação sutil que provoca uma dúvida insuportável: o relato sobre casas, homens, ruas, trabalho, sobre a vida enfim, transmite ao leitor a idéia de tranqüilidade que beira a monotonia. Tem-se a impressão de que o tempo passa lentamente, apesar das rusgas eleitorais, das esporádicas aparições do circo e do cinema. O tempo só parece ser quebrado com a chegada da ferrovia. A minha dúvida é se as pessoas de Itabaianinha, nos primeiros anos do século passado, assim percebiam o movimento das suas vidas, um cotidiano “circular”, “miúdo” e “triste” ou se esse sentido costuma ser construído pelos cronistas/historiadores que não conseguem despir-se do “bem estar” da nossa civilização.
Também por conta dessa dúvida, a escritura desse livro fortaleceu ainda mais os meus juízos quanto às dificuldades de se escrever uma história do município ou uma história da cidade. Sem medo de exagerar, é tão difícil fazer história local quanto ensaiar uma história do homem sobre a terra – a história geral, antiga história universal. Vê-se como os autores esbarram com problemas de seleção dos agentes históricos – as autoridades, o vulgo, a classe –, de períodos a enfocar, de dimensão da experiência – o religioso, o político etc. – e de ordenamento dos textos a expor – a sincronia ou a diacronia? –, não obstante o esclarecimento de que o(s) autor(es) prefere(m) seguir os “fios da memória” e não os clássicos modelos corográficos.
Mas, a dificuldade não indica o limite entre o autodidata – o memorialista – e o historiador por formação acadêmica – a iniciativa da Editora da UFS é meritória. O grande problema é mesmo o da impossibilidade de apreender a totalidade, de abranger o máximo de fatos e dimensões da experiência dos homens em determinada comunidade, num golpe de vista, numa centena de páginas. Neste e em outros livros, o real, sempre fascinante, sempre fugidio (Cf. Veyne, 198.), acaba representado, não raramente, como “as contas do colar histórico” (Cf. p. 40-52) ou como inventário de lembranças – peça por peça, desconexas e com inoportunas repetições.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Para a história de Itabaianinha. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 23 maio 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
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domingo, 16 de maio de 2004

Do outro lado da Germânia

Já tratei noutra Semana sobre a germanofilia de João Ribeiro. Comentei acerca dos seus pendores historicistas, a declarada opção pela história dos costumes, dos valores artísticos e religiosos de um povo e transcrevi os argumentos de Joaquim Ribeiro (1957) e de Patrícia Hansen (2000) que demonstraram a filiação do laranjeirense à História da Cultura. (cf. A Semana, 25-31 jan. 2004).
Ocorre que a Alemanha não era só o historicismo. Não contemplava apenas o estudo da alma ou do gênio nacional ao modo de Gustav Freytag (1816/1895), nem a defesa de um estatuto de cientificidade para a História – ciência do espírito – distante do modelo das ciências naturais, como empreendeu Wilhelm Dilthey (1833/1911). Do outro lado da Germânia, havia um professor de Zoologia, advogando por uma teoria do conhecimento que contemplava, tanto as coisas da natureza, quanto as produções espirituais.
Ernest Haeckel (1834/1919), o mentor desse “monismo”, acreditava que “todo” universo é acessível aos nossos meios de investigação: todos os fenômenos físicos ou morais eram regidos por leis fixas e imutáveis. (cf. Cardoso, 1894). E foi também das teses desse alemão que o nosso João Ribeiro extraiu alguns argumentos para demonstrar a sua versão da História como ciência.
Por que esse interesse em defender um lugar de destaque para a História no quadro dos conhecimentos humanos? É provável que João Ribeiro estivesse esboçando uma resposta ao positivismo filosófico (de August Comte) que afirmava ser a História uma simples serva da Sociologia. Esta sim, a verdadeira ciência das causas, das generalizações.
Vigorando ou não a hipótese, vejam como o lente do Pedro II inseriu um ensaio de teoria da História num livro didático de História Antiga, afirmando que os subsídios fornecidos aos historiadores pela economia política, estatística e biologia possibilitavam a interpretação científica dos fatos históricos. Podia-se, então, falar numa ciência da História (autônoma) em 1894. Vejamos apenas uma contribuição – a biologia haeckeliana – para evidenciar essa “a possibilidade”.
Ernest Haeckel partilhava da corrente dos princípios divulgados por Charles Darwin (1809/1882) e creditava à evolução e à seleção natural o desenvolvimento de todos os órgãos existentes – uma célula, um grão de milho, uma sociedade. A continuidade  desse progresso era explicada por uma lei chamada biogenética, cujo enunciado pode assim ser resumido: a vida de cada indivíduo é uma recapitulação progressiva, indefinida e abreviada da sua própria espécie, ou seja, “cada geração que surge traz já em si a elaboração de todas as gerações passadas: a longa história da espécie acha-se já condensada no indivíduo atual.” (Ribeiro, 1894).
Estava elaborada, portanto, uma explicação que favoreceria a interpretação dos fatos históricos, bastando apenas que as nações, as civilizações e os povos fossem vistos pelos intérpretes – os historiadores – como “organismos” sociais. E era assim que pensava boa parte dos intelectuais atingidos pelas “novas idéias” professadas por Tobias Barreto e Silvio Romero a partir dos anos 1870. Assim João Ribeiro demonstrou a aplicabilidade da lei biogenética: é “fácil ver-se que nos organismos sociais se verificam fenômenos idênticos; as civilizações coloniais oferecem o mais frisante exemplo. As camadas humanas que pela emigração se estabelecem em qualquer habitat, constituem organismos novos que reproduzem, em rápido período, todo o progresso longa e secularmente realizado pelas respectivas metrópoles. Dá-se aí a recapitulação sumária da vida ontogênica.”
Dessa forma se explica, continua João Ribeiro, “a civilização da América feita em três séculos, representando uma equivalência ao trabalho cem vezes secular que pesou sobre as civilizações européias, antes que elas atingissem o grau de desenvolvimento atual. Se a América ainda não nos apresenta uma equivalência exata da vida social européia, deve-se isto atribuir à interferência de outras causas menos poderosas, porém assaz eficientes: a diversidade do meio que exige longo trabalho de adaptação para a raça colonizadora, a presença de elementos étnicos inferiores que perturbam o progresso no sentido da retroação, a falta de tempo e de população para elaborar-se a produção e a distribuição das riquezas, facilitando assim a ação reguladora completa que todo o organismo elevado exige no seu desenvolvimento.”
Depreende-se desse exemplo que a teoria esboçada por João Ribeiro é plena de Filosofia da História, ainda que não centrada nos estágios teológico, metafísico e positivo. Ela fundamenta cientificamente os porquês do atraso da América frente à cultura da Europa. Ela justifica sem ressentimento as reduzidas possibilidades de o povo latino-americano vir a contribuir com o “caudal” da história humana – e, conseqüentemente, de entrar para a historiografia em termos de arte, ciência e política. Isso tudo, graças a Darwin.
O curioso é que o veleiro “H. M. S. Beagle” passou ao largo da região cotinguibeira, enquanto esteve no Brasil (1832). O naturalista inglês também não teria muito a dizer ainda sobre a evolução de plantas, pedras e bichos – sobre a historicidade da natureza. Entretanto, por um desses imprevisíveis cruzamentos da história, Sergipe transformou-se num dos maiores celeiros de darwinistas, spencerianos e haeckelianos. E o mais instigante: eram darwinistas que buscavam um estatuto científico para a história. Pena que esses autores, ainda pouco conhecidos, sejam muitas vezes confundidos como historiadores positivistas – no sentido comtiano.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. A Semana em Foco, Aracaju, 16 mai. 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
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domingo, 9 de maio de 2004

“Os anos dourados da Urbis Propriaensis"

Abençoada por Deus e bonita por natureza. Essa foi a sentença cunhada pelo ouvidor Antonio Pereira de Magalhães de Passos (1801) para convencer o governador da Bahia sobre a conveniência de a pequena povoação “Propriha” – nome de um riacho próximo – vir a ser ereta em vila. Boa situação geográfica – o relevo, o rio São Francisco –, bons ares (?) e bom clima fizeram-no vaticinar: é “a melhor para o comércio, que não decairá, porque parece que Deus Onipotente a destinou para fazer aos nacionais felizes, e ao Estado aumento”.
A profecia foi repetida pelo “memorialista do futuro”, D. Marcos Antônio de Souza em 1808 e transformada em realidade pelos ilustres proprieaenses, ao longo do século XIX e início do século XIX, quando o rio – a ferrovia, depois – e os frutos da terra, notadamente o algodão e o arroz, determinavam a prosperidade econômica da região.
Desde então, na historiografia, registrou-se a experiência dessa povoação/vila/cidade/comarca/município como uma linha ascendente, com ápice na primeira metade do século passado e brusca decadência a partir do final dos anos 1960.
A decadência, provavelmente, já fora notada pelo médico João Rodrigues da Costa Dória (1960), que a visitou em 1959, depois de meio século ausente. O cemitério e a praça Rodrigues Dória, em abandono. O Flor e Elisa, “maior e mais luxuoso hotel das margens do São Francisco”, deixando a desejar quanto à comodidade dos quartos e ao estado de janelas e banheiros. O rio São Francisco mais estreito, o porto entulhado de areia e terra – fatos que não o impediram de comentar: o lugar havia “progredido muito nestes últimos tempos” (nos 50 anos em que esteve fora?).
A prosperidade, enfim, encontrou o seu narrador na figura de outro Marcos, o Melo (1945/...), economista, advogado e administrador com passagens pelo primeiro escalão do governo do Estado. Não haveria melhor currículo para descrever o fausto da ribeirinha. Mas, propriamente falando, seriam os “anos dourados” da cidade ou da vida de seu narrador?
Ora, isso tem pouca importância para o escasso leitor das coisas sergipanas. Importa é saber que o livro Própria/mente falando, lançado no último abril, é, talvez, o maior inventário cultural sobre a história de uma cidade, produzido nos últimos anos. Os vinte e dois capítulos varrem a vida de Própria, da segunda metade dos anos 1940 ao início dos anos 1960, registrando as curiosidades e os grandes fatos relativos à centenas de pessoas que habitaram o imaginário da criança e do jovem Marcos Melo.
Lá estão os agentes – professores, professoras, boêmios, políticos, músicos, literatos, desportistas, familiares, padre, sargento do Exército; as instituições – Igreja, imprensa, Tiro de Guerra, partidos políticos; a descrição do traçado e da infra-estrutura da cidade. Também se registram os costumes privados – um domingo em família – e os costumes públicos – a missa, a procissão, a dança, a bebida, o cinema, o circo, a música veiculada nos auto-falantes (traços característicos de uma família de “classe média”).
A memória inicial é a do jovem propriaense, mas o filtro que atualiza as imagens é o do administrador e, mais ainda, do “jazzista” viajante. Os textos são atravessados por citações/comparações de cenas propriaenses com os clássicos do cinema e da música norte-americana, dando margem a algumas críticas sobre hábitos sergipenses do século XXI. No conjunto, não chega a ser saudosista. Entretanto, vence o patriota algumas vezes – a mais bonita, a mais alegre, a mais quente de Sergipe etc. São as marcas da caneta nativista e o veio autobiográfico do relato. Nesse sentido – no traço memorialístico stricto sensu –, o tipo social sintetizado no “incrível Rubens” (pena que não fosse propriaense) e o não menos incrível “Doutor Faninho” foram os meus capítulos preferidos.
Reconheço, porém, que nem tudo são memórias, apesar de o Marcos Melo anunciar-se como a principal fonte de informações do Propria/mente falando. Há trechos dissertados onde se ensaia alguma explicação sobre a decadência da cidade. Há elementos tributários do discurso histórico, pois se tem conhecimento dos antecedentes e dos conseqüentes dos anos dourados. Avalia-se e se atribui valores a determinados fatos, fazendo uso de alguma teoria, não obstante o aparente descompromisso acadêmico/literário. Na verdade, o livro não é nem memória, nem história e está dois passos adiante da crônica. O texto sobre a fantástica cosmogonia do visionário Mariú (1914), que escreveu Emblema do mar luminoso e Denoksuá, a síntese sobre “política e políticos” e a descrição das atividades produtivas do município dão mostras desse outro lado (híbrido) da escritura.
A importância da obra já foi bem assinalada pelo prefaciador. Escreve Luiz Eduardo de Magalhães que a “coletânea” proporciona prazer na leitura, conserva a experiência de pessoas-chave na vida de pequenas comunidades e fortalece a auto-estima do propriaense. Mas, o livro é também um detalhado repositório de dados sobre a cultura de uma cidade não circunscrita à esfera de influência de Aracaju. Isso alarga as possibilidades de estudos sobre outras cidades e até mesmo sobre as futuras sínteses de história de Sergipe.
Resta apenas lamentar que o Marcos Melo não se tenha “aposentado completamente” para – com a experiência de administrador dos negócios do Estado – ensaiar uma história de Própria, exumando esse tão malfadado período de decadência do lugar. Mas, será que não encontraremos nesse novo período um outro tempo dourado para a geração nascida a partir dos anos 1960? Esperemos a história.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Os anos dourados da Urbis Propriaensis. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 09 maio 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
Para ver sumário desta obra, acesse: < http://itamarfo.blogspot.com/2010/11/historiografia-sergipana.html >.

domingo, 2 de maio de 2004

Um resumo da história de Sergipe

Na edição nº 68, (18-24 abr. 2004), demonstrei algumas estratégias de transposição da erudita História de Sergipe de Felisbelo Freire (1891) para o livro didático do mesmo nome, elaborado pelo professor Laudelino Freire (1898). É bom que sejam relevados os truncamentos da transposição e os poucos avanços detectados em termos pedagógicos. Na cidade bandeirante, a introdução da história local nas escolas primárias também não contou com texto exemplar, adequado às possibilidades cognitivas ou, como se dizia no final do século XIX, ajustado ao “interesse da infância”.
As narrativas didáticas destinadas ao “ensino da mocidade”, mocidade que poderia variar desde os 7 aos 16 anos, produzidas por José Joaquim Machado de Oliveira (Quadros históricos da província de São Paulo) e pelo republicano histórico Américo Brasiliense (Noções de história pátria) possuíam estrutura  de frase e vocabulário eruditos. O texto deste último não passava da transcrição integral de conferências proferidas para um público nada infantil em Campinas, logo veiculadas na Gazeta local e, na seqüência, distribuídas nas escolas públicas em formato livro.
Desconheço as tentativas de emendar a obra dos paulistas. Mas, no caso de Laudelino Freire – futuro organizador da Revista Didática (1902/1906) – houve outra oportunidade de escrever um resumo da história de Sergipe para o curso primário, dessa vez, incerta num livro escolar de Corografia.
Corografia era a nomenclatura de uma disciplina cujos conteúdos versavam sobre o conhecimento do espaço de uma determinada região ou localidade. Quadro Corográfico de Sergipe (1898) foi o nome do livro de Laudelino, publicado um ano depois da Corografia do Estado de Sergipe do infortunado Silva Lisboa (Cf. A Semana, 7-13 set. 2003).
No Quadro, o “resumo” da História de Sergipe (1898) foi transformado em “resenha histórica”. Um novo texto foi produzido sob indiciário título de “Notícia histórica” contemplando todas as adaptações que o formato editorial requereria. Ficou 75% mais curto e aqui é interessante registrar o procedimento de Laudelino para compor essa nova síntese.
A periodização foi mantida – tempos colonial, imperial e republicano – e a natureza dos fatos também – conquista, invasões, guerras, posse dos governantes. O que fez com que a narrativa fosse reduzida tão drasticamente foram as omissões de grandes blocos. Ele excluiu os detalhes sobre a catequese, sobre as guerras – os efetivos, as estratégias de combate, o sofrimento dos fugitivos –, os fatos destacados na maioria das administrações, os fatos exorbitantes da história política – a presença da cólera no Estado –, excluiu seus comentários sobre a direção tomada pela história local – o fracasso da ação jesuítica – e o julgamento sobre algumas ações administrativas – a mudança da capital, o desapego dos sergipanos à causa emancipacionista defendida por Carlos Burlamaque.
O texto da História teve suprimido os títulos e subtítulos, capítulos foram fundidos e as listas de governantes e parlamentares migraram das notas de pé de página para um bloco no final da “resenha”. Algumas palavras estrategicamente postadas no curso do texto anterior – nem sempre importando em melhor solução. Laudelino condensou e mudou a ordem de parágrafos. Corrigiu, fez justiça com o historiador Barleus, não citado na História de Sergipe e também deve ter deslizado em alguma informação – no Quadro corográfico o número de cativos em 1590 é de apenas 1.000, enquanto que na História vem grafado 4.000 (erro tipográfico?).
Estava agora a história de Sergipe posicionada na Corografia de Sergipe, ou seja, na segunda parte do livro, intitulada “Descrição política de Sergipe”, após a “Descrição física de Sergipe” – limites, nosografia, orografia, hidrografia, limenegrafia, portos, barras, faróis e divisão civil, judicial e eclesiástica do Estado – e à frente das sinopses de todas as suas comarcas e municípios. Sob o ponto de vista da história a ser ensinada,, a disposição do Quadro é bem mais rica do que a gravada na História de Sergipe. No Quadro, em que pesem os objetivos da Corografia – os fatos geográficos – estão contempladas a história geral e a história local.
A transposição da História de Sergipe para o Quadro corográfico fez recrudescer o caráter narrativo da primeira obra. Com os cortes efetuados, a história transformou-se ainda mais numa seqüência linear de eventos postos em relação de causa e efeito – o antecedente determina o conseqüente –, eventos que, por sua vez, guardavam estreitas filiações com a história do nascente Estado republicano.
Contada dessa forma – conquista e colonização portuguesas, expulsão dos holandeses, redução à comarca da Bahia, emancipação política, transferência da capital, administração republicana – , pelo menos três elementos constituintes do mito fundador de Sergipe seriam renovados entre professores e escolares: a idéia de que estamos fadados à civilização dos costumes, por obra e graça do povo português; a presença da violência como traço marcante da história local, caráter traduzível até mesmo nas lutas partidárias do final do século XIX; e a eleição do nosso “outro”, do nosso diferente, do nosso algoz centrada na Bahia.
Também contada dessa forma, nos textos de Laudelino Freire, a história de Sergipe faria coincidir dois modos operadores do final do século XIX, o do ofício do historiador e o do ofício do professor de história. Para o primeiro, majoritariamente, escrever história era narrar, encadear ações destacadas na experiência política, de preferência, num texto dito a um só fôlego. Para o professor, segundo a pedagogia hegemônica, ensinar história seria uma tarefa mais produtiva se os fatos fossem dispostos em ordem cronológica – o antecedente explicando o conseqüente – de forma a que a memória fosse adequadamente alimentada e treinada, podendo assim conservar as principais informações que o aluno precisaria para situar-se no Estado e na vida.

Para citar este texto
FREITAS, Itamar. Um resumo da história de Sergipe. A Semana em Foco, Aracaju, p. 6B-6B, 02 maio 2004.

Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
Para ver sumario desta obra
http://itamarfo.blogspot.com/2010/11/historiografia-sergipana.html >