Uma
das principais estratégias para o desenvolvimento da educação pela tolerância é
a disseminação de informação atualizada sobre a pluralidade cultural. Este
trabalho foi produzido dentro desse espírito. Com ele, queremos subsidiar a
reflexão do professor sobre a sua prática, propondo e respondendo duas questões
relacionadas ao uso da história dos – indivíduos, grupos, sociedades – indígenas
na formação de pessoas, ou seja, na escolarização básica: (1) o que os
historiadores têm afirmado, nos últimos cinco anos, sobre os indígenas que
habitam o Brasil? (2) Que proposições podem ser transpostas ao cotidiano da
sala de aula para viabilizar a aplicação do artigo n. 26-A da lei n. 11. 645 de
fevereiro de 2008 – que trata da história e da cultura indígena em “todo o
currículo escolar” dos ensinos fundamental e médio, público e privado?
Essas
questões são aqui respondidas mediante o enredamento das teses mais
recorrentes, veiculadas por trabalhos acadêmicos apresentados no maior fórum
brasileiro de discussão historiográfica – o Simpósio Nacional de História,
promovido pela Associação Nacional dos Historiadores nos anos 2005, 2007 e 2009.
A nossa intenção – ainda que apresentemos alguns conceitos ao início de cada
tópico deste trabalho – não é fazer a crítica das estratégias teórico-metodológicas
das formas de abordar a experiência indígena. Esses balanços ou estados da arte
podem ser acessados nos dossiês e nas revistas especializadas de historiadores
(Cf. MONTEIRO, 2001, CUNHA, 1998) e antropólogos (Cf. OLIVEIRA, 1993, VIVEIROS
DE CASTRO, 1999).
O
inventário de teses também não é exaustivo. Trata-se de um recorte bastante
amplo para flagrar as proposições de pesquisadores que atuam nos mais diversos
níveis do trabalho acadêmico, muito diferente, portanto, do que fizemos em
outra ocasião, reunindo teses dos pesquisadores consagrados por sua trajetória
na pesquisa sobre a história indígena e do indigenismo (Cf. FREITAS, 2010).
O que
nos estimulou a empreender esse inventário foi a constatação de que as formações
inicial e continuada – sobretudo, do professor de história –, em relação ao
tema, em geral, deixam muito a desejar. Nos cursos de graduação, rareiam os
especialistas e fora deles, da mesma forma, é insipiente o número de
pesquisadores que se ocupam em traduzir a pesquisa de ponta para situações
didáticas. Pensamos que a divulgação acadêmica focada nas teses pode qualificar
melhor os usos do livro didático de história e potencializar as narrativas
locais como fonte para as aulas que abordam a experiência indígena.
O
inventário das teses, apresentado a seguir, ganhou a forma de cinco conjuntos
relativamente homogêneos: (1) o fenômeno do protagonismo indígena; (2) as
representações construídas por não acadêmicos sobre os indígenas; (3) as
representações dos indígenas sobre si mesmos, ou seja, a discussão sobre as
suas identidades – incluindo-se os processos de etnogênese; (4) as denúncias em
torno do não cumprimento de direitos indígenas – que resultou nas práticas do
etnocídio, genocídio e esbulho da terra; e (5) a descrição dos modos de vida,
ou seja, da organização social, política e religiosa e de temas destacados
neste mundo da cultura – educação, trabalho e territorialidade.
Nas
considerações finais, abordamos compreensivamente as possibilidades de
transposição dessas teses para o ensino de história, seja nos planos de estudo,
seja nos livros didáticos. Da mesma forma, enfrentamos o problema do “erro”
conceitual, eventualmente flagrado pelos professores nos materiais didáticos.
Que fazer com um livro do aluno, por exemplo, que nega a existência de
indígenas em nossa região?
Conheçamos,
então, de início, o conjunto de proposições que reúne o maior número de
trabalhos apresentados nos simpósios da ANPUH: as teses sobre o protagonismo
indígena.
1. Protagonismo indígena[1]
Os
historiadores continuam afirmando que o processo de expansão européia marcou a
experiência brasileira – feudal, escravista ou capitalista –, ainda que tal
experiência fosse caracterizada, nas últimas duas décadas, pelo interesse em
novos atores – negros, indígenas, mulheres, crianças –, questões – sexualidade,
família, religiosidade etc. – e
abordagens – mentalidades (Cf. SCHWARTZ,
2009, pp. 180-182).
Essa
mudança, da história social para a história cultural, junto à militância de
intelectuais, ao poder reivindicatório das instituições indígenas e às
aproximações teóricas entre a história e a antropologia (Cf. MONTEIRO, 2001, p.
5) provocaram desdobramentos nas formas de historiar a vivência indígena. Tal experiência, hoje, não têm sido
interpretada, apenas, pelo binômio vencedor/vencido ou mediante a ideia de
oposição entre barbárie e civilização. Limitada a esse dualismo, a vida
indígena seria – e foi –, durante certo tempo, marcada por um perverso
mecanismo de vitimização. E vitimização, seja de origem teórica, seja de origem
moral (Cf. CUNHA, 1992, p. 17), paradoxalmente, obscurece a ação dos indígenas,
suprime sua condição de sujeito histórico (Cf. COELHO, 2009, p. 275), sua
historicidade e, até, humanidade, impedindo, além disso, o conhecimento de uma
parcela significativa da história do Brasil (Cf. MONTEIRO, 2001, p. 5).
Historiadores,
hoje, tendem a adotar as noções de protagonismo[2],
agente, ator e sujeito histórico. Eles descobriram o que as sociedades
diferenciadas já tinham conhecimento e, há muito tempo, haviam incluído em suas
cosmogonias (Cf. CUNHA, 1992, p. 18): indígenas, seja em dimensão pessoal – membro
do grupo, chefe – ou coletiva – etnia, ONG ou gênero – pensam, agem e sentem de
maneira singular. São produtores e portadores de cultura(s), são construtores
de trajetórias históricas, tomam decisões, são vítimas, são algozes, e também
vítimas e algozes ao mesmo tempo – na verdade, ao tempo que lhes convém. A
historiografia interpreta os contatos interétnicos como fenômenos de
resistência, adaptação e transformação cultural capitaneados, inclusive, pelos
povos indígenas (Cf. FLECX, 2005, p. 1).
A
primeira grande tese sobre protagonismo é a de que os indígenas fizeram
alianças com os mais diversos personagens, por uma grande variedade de motivos
e com durações diferenciadas. Missioneiros do Sul fizeram acordos com
portugueses – em luta contra os espanhóis – flecheiros da aldeia de São Miguel, com
portugueses – contra holandeses. Os
Jandui e os Potiguara aliaram-se aos holandeses – contra os portugueses –,
rebelando-se, depois, contra os próprios aliados – holandeses. Já os Xavante,
Xerente, Akroa e Xacriaba, Paiaguá, Guaicuru fizeram alianças entre si e com os
colonos na região de Cuiabá (MS). No século XIX, os Carnijó acordaram com
membros da elite local de Águas Belas (PE) em período eleitoral e, no XX,
lideranças indígenas de Olivença (BA) fizeram alianças com o Partido Comunista
para derrotar, por armas, os fazendeiros e as autoridades policiais.[3]
Evidentemente,
a temática das alianças não é original. A historiografia já noticiara os
acordos entretidos entre indígenas e europeus na conhecida guerra entre
portugueses e franceses pela posse do território que deu origem ao Rio de
Janeiro. Mas, a narrativa desses episódios, agora, enfatiza o poder de
articulação política dos indígenas. O que estava em jogo era a defesa da liberdade,
da terra, o direito de ficar próximo aos seus familiares, de educar seus filhos
e livrar-se dos recrutamentos militares compulsórios. Era também o desejo de
eliminar grupos rivais ou obter a melhor vantagem nas relações de troca que
motivavam os acordos entre parceiros. Assim, não foram somente os europeus que
colocaram as constantes rivalidades entre grupos indígenas a seu favor. Estes
também souberam, ao seu modo, aproveitar-se dos embates entre portugueses,
espanhóis, holandeses e franceses para auferir alguma vantagem.
Outra
tese recorrente nos trabalhos recentes trata dos usos que os indígenas fizeram
dos instrumentos de subordinação que lhe foram impostos. Eles assumiram fardas,
patentes militares, cargos de vereadores, alferes, sargento-mor dos índios,
capitães e mestre de campo. Solicitaram remunerações e títulos de nobreza no
período monárquico e, no século XX, até engrossaram as fileiras das ligas
camponesas (PE). Assim, ofícios, cartas, petições, e voto – em suma,
instrumentos criados pela cultura não indígena –, tornaram-se portadores de
reivindicações fundadas na legislação que defendia, sobretudo, os direitos
indígenas.
Muitos
desses pedidos foram satisfeitos. Os Parangaba (CE) requisitaram sesmarias
(1707), os Cariri (CE) requisitaram terras e remuneração (1714), uma vez que
contribuíram para a conquista e a colonização do sertão. Ainda no período
colonial, o líder da Vila de Barcelos (BA) denunciou o escrivão por não
escolarizar crianças indígenas e tentar escravizar o restante da população.
Felipe Camarão, em caso bastante conhecido, foi agraciado com o hábito da Ordem
de Cristo e respectiva remuneração, lutando para que tais privilégios fossem
transmitidos aos seus herdeiros. Esses casos demonstram que a legislação
portuguesa no Brasil, principalmente aquela voltada para os indígenas, não foi
aplicada ao pé da letra. Ela dependia dos interesses e limitações dos
funcionários da coroa e moldava-se, também, pela vontade e destreza política de
grupos e lideranças indígenas.
A
terceira tese recorrente dá conta de processos de resistência e de ação direta,
protagonizados pelos indígenas. A
resistência operou-se no plano simbólico na forma de apropriação e
administração dos sacramentos. Os Guarani, por exemplo, efetuavam a confissão,
mas o faziam segundo suas conveniências – os mais simplórios comportamentos
desviantes eram motivos para a confissão. Eles sabiam da importância desse rito
para os jesuítas – por isso confessavam –, mas não entendiam a confissão como
arrependimento ou reconciliação com Deus. Em outras ocasiões, os próprios
jesuítas, flexibilizaram pontos da sua doutrina sobre o casamento indígena para
que algumas metas da Companhia fossem atingidas.
Batizar-se
e casar-se dentro das prescrições católicas do século XIX, assumir pequenas
funções públicas ou privadas – porteiros, vaqueiros – também foram considerados
pelos historiadores como atos de resistência. Eram formas de sobrevivência numa
época em que a identidade indígena fora contestada e negada pelos documentos
provinciais.
Em tempos
republicanos, a adesão aos programas públicos de saúde e educação, além das
tentativas de recuperação da língua, dança, atividade cerâmica, são também
exemplos nesse sentido. Isso se deu com os povos Kinikinau.
A
forma clássica de resistência, a mais conhecida, porém, foi o uso de
estratégias de confronto. Ela pode ser observada já nos primeiros contatos com
os europeus. Assim, entre os estudiosos, a imagem harmônica dos encontros entre
indígenas e estrangeiros – o quadro da primeira missa, por exemplo – é
contraposta à descrição de comportamentos diferenciados. No Ceará, Piauí e
Maranhão (1500), os indígenas esconderam-se ao perceberem a presença europeia.
Mas, no Amazonas, foram agressivos, matando sete ou oito espanhóis (1501). No
decorrer do período colonial abundaram os casos de resistência por emboscada e
no republicano é exemplar o caso dos Guajajara (MA), que mataram todos
missionários capuchinhos (1901).
Outras
formas de resistência – tradicionalmente, consideradas como delituosas – são
flagradas nos séculos XIX e XX. Na Comarca de Garapuava (PR), ela se deu em
forma de assaltos e furtos de ferramentas agrícolas dos colonos. No século
seguinte, são conhecidos os casos de ocupação, mentira/fuga, resistência, dos
Kaingangs (RS), contra a apoderamento ilícito das suas terras; dos indígenas de
Dourados (MS), contra a transferência forçada das suas terras – destinadas a
projetos de colonização –; e dos Kaiowá, contra o retorno aos antigos campos de
colonização.
Pelos
exemplos, portanto, pudemos perceber que a historiografia sobre a experiência
indígena apresenta três teses circunscritas à ideia de protagonismo: indígenas
fizeram alianças e com motivos e atores os mais diversos, empregaram os
instrumentos de subordinação como ferramentas de reivindicação dos seus
direitos e reagiram à dominação europeia, em muitos momentos, inclusive, com o
uso da violência física. Dizendo de outro modo, indígenas não foram, em todos
os espaços e tempos da experiência brasileira, dispersos, apolíticos e
ingenuamente submissos.
2. Representações construídas sobre os
indígenas
O
segundo conjunto de informações sobre a história indígena e do indigenismo
sintetiza-se na idéia de representação[4].
Esta categoria ganhou status de conceito básico na comunidade de historiadores
nas últimas duas décadas. A crítica à verdade histórica fundada na ideia de um
real/ passado preexistente ao trabalho do historiador – “contar as coisas como
verdadeiramente aconteceram” – e a valorização das práticas discursivas no
exame das fontes históricas – o real/passado é também uma construção
lingüística, mediada por interesses do historiador (Cf. CHARTIER, 1990, p. 17)
– orientam grande parte dos trabalhos.
São,
portanto, estratégicos os estudos das imagens construídas sobre os indígenas,
seja nos textos escritos, seja nas artes visuais – gravura, desenho, pintura,
escultura, fotografia e cinema. Eles contribuem para a compreensão acerca da
origem e da sobrevivência dos estereótipos negativos por sucessivas gerações.
São fundamentais para o entendimento da história dos contatos havidos entre
indígenas e não indígenas, além de servirem como ferramentas de combate a
determinadas visões distorcidas e supostamente desinteressadas.
Assim,
uma história das representações sobre os indígenas, ou ainda, uma história dos
exageros e das omissões (Cf. BURKE, 2004, pp. 53-57), sobretudo, de europeus –
gestores, legisladores, literatos e artistas – na “construção do outro” – indígena
– é tema de destaque na historiografia recente. Os resultados da pesquisa, por
outro lado, reafirmam o que já se havia constatado acerca da imagem construída
sobre os indígenas ao longo do processo histórico brasileiro. São elaborações
baseadas – explicita ou implicitamente –, hora no evolucionismo, hora no
providencialismo e, mais recentemente, no funcionalismo.
No
período colonial, é possível encontrar a idéia de que os indígenas eram
“selvagens integrados à natureza” como anunciou o naturalista Alexandre
Rodrigues Ferreira. A base dessa representação estava na classificação binária
de Lineu, que fundamentava a divisão dos homens em: (1) separados da natureza
ou civilizados e (2) integrados à natureza ou selvagens – situados em escala
inferior. Para o citado naturalista, por exemplo, os Caraíba não possuíam
inteligência, sendo, então, comparados aos camponeses e negros.
Jesuítas
do século XVII também construíram representações. O fundamento era a teologia
católica do período, que apontava a inferioridade do indígena. Dessa forma, foi
infiel o povo Guarani, convertido através de uma pedagogia fundada na dicotomia
sermão/castigo. Foram bárbaros, feras e hereges os Tabajara da serra de
Ibiapina (CE), por estarem contaminados com a religião holandesa, segundo o
Padre Vieira.
Expulsos
os jesuítas, já no período pombalino, indígenas foram concebidos, legalmente,
como “crianças” que necessitavam de “tutela”. A noção de “minoridade
civilizacional” foi legitimada pela política indigenista conhecida como
Diretório dos índios.
No
início do século XIX, as temáticas do status civilizacional e do status
jurídico perante o Estado brasileiro foram relacionadas por José Bonifácio e o
Deputado Geral Montezuma. Para o primeiro, os indígenas estavam em “estado
selvático” em condição “primitiva”. Eram “preguiçosos” e “traiçoeiros”, mas
passíveis de civilização e cidadania. Lembremos que na legislação pombalina,
indígenas ganharam a condição de “súditos e vassalos do rei”. O Deputado
Montezuma, em 1924, ao contrário, não estendia a condição de cidadania – posse
de direitos – aos indígenas, já que não reconheciam e nem respeitavam as
prerrogativas (?) e deveres estabelecidos pelo Estado português.
Entre
os gestores e legisladores provinciais, também podemos encontrar representações
sobre os indígenas. Alguns empregaram os argumentos cientificistas, a exemplo
do presidente Francisco de Souza Martins (CE). Para ele, os indígenas tinham a
“inteligência menos desenvolvida” que os europeus. Outros gestores e
legisladores simplesmente negaram o direito à identidade, ou seja, questionam a
existência dos indígenas. Esse foi o caso da Assembléia Provincial do Ceará,
que os declarou inexistentes em 1830, e do presidente da mesma província que,
em 1863, concluiu: não há indígenas. Eles migraram ou misturaram-se com outras
etnias.
Nos
tempos republicanos, intelectuais como José Veríssimo, Manoel Bonfim e Graça
Aranha construíram representações fundadas em pressupostos também
evolucionistas. O primeiro lançou mão do determinismo mesológico para explicar
as razões da ociosidade, indolência, promiscuidade, imoralidade, maus hábitos
alimentares e mau comportamento à mesa”, manifestados pelos indígenas. No
romance Canaã, de Graça Aranha,
indígenas são incivilizados e incivilizáveis. Para Roquete Pinto, indígenas
estavam na idade da pedra, uma representação semelhante à de Olavo Bilac e
Manuel Bomfim – no livro de leitura Através
do Brasil – que descrevem os indígenas como ferozes e atrasados na escala
evolutiva.
Entre
os artistas vigorou a idéia de pureza cultural e de personagens paralisados no
tempo. Foram os casos do fotógrafo Jesco Von Puttkamer, que registrou a
experiência dos indígenas xinguanos, e também dos vários construtores de
monumentos públicos que retratam indígenas pelo Brasil afora. Algumas obras de
arte primam pelo descritivismo e esforçam-se para retratar cenas que provoquem
imediata identificação do público não indígena, tais como: canibalismo, nudez e
arte utilitária. Outras retratam indígenas em posições estáticas em
contraposição ao dinamismo das posições de personagens não indígenas
(cavalgando, por exemplo). Tal é a representação do “Monumento aos pioneiros de
Boa Vista” (RR).
Entre
os religiosos do século XX, ainda podem ser encontradas as noções de indígenas
com “pouca civilidade”, necessitando de salvação. Esse foi caso do Padre
Arlindo, na segunda metade do século XX. Ainda mais radicais foram as posições
dos missionários capuchinhos (MA), envolvidos com os povos Guajajara em 1901.
Eles reproduziam as representações de um ideólogo da Restauração católica –
Joseph De Maistre –, para quem os indígenas eram “a porção mais degenerada da
humanidade”, ou seja, estavam situados abaixo do pecado capital.
Por
fim, a imprensa. Esta ainda constrói representações fundadas em noções
evolucionistas. Nas décadas de 1920 e 1930, o jornal O Malho concebia os indígenas como primitivos e incivilizados. Em
meados do século, a revista O Cruzeiro
difundia imagens de flechas atiradas contra aviões da Força Aérea Brasileira –
FAB, atrapalhando o progresso do Brasil central. Tais impressos reproduziam,
dessa forma, as noções correntes entre os colonos da região: indígenas eram
bárbaros, flagelados indóceis, tenazes e ferozes. Essa imagem dos Xavante, por
exemplo, somente será contestada nos livros e nos filmes de Lincoln de Souza,
Sílvio da Fonseca e Gentil de Vasconcelos.
Recentemente
(2005), o jornal O Progresso, de
Dourados (MS), denunciou a desnutrição de crianças indígenas. No entanto, sem
discutir as questões estruturais – como o problema da demarcação das terras –,
representou os indígenas como “primitivos” e “silvícolas”.
Vemos,
então que as representações construídas sobre os indígenas e inventariadas
pelos pesquisadores confirmam os resultados de investigações realizadas ao
longo dos últimos 20 anos que denunciaram a vinculação não acadêmica da imagem
dos indígenas a três situações-limite: (1) indígenas não existem; (2) indígenas
existem e são ferozes – devem ser catequizados/exterminados/civilizados pela
educação e pelo trabalho/incorporados ao panteão do passado local como signo de
bravura; (3) indígenas existem e são mansos – devem ser protegidos/devem ser
conservados em seu estado original.
3. Identidades indígenas
O
terceiro conjunto de informações destacadas refere-se à(s) identidade(s)
indígena(s), isto é, aquele(s) elemento(s) virtual(is), mas fundamental(is) para
a sobrevivência de qualquer grupo (Cf. LÉVI STRAUSS, 1977, p.) – indígena ou
não indígena. Por essa definição, um indivíduo (pessoal ou coletivo) é indígena
quando afirma que é (indígena), quando é reconhecido pelos outros como tal
(indígena) e mantém relações ancestrais com os povos pré-colombianos (Cf. CASTRO,
2006, p. 41).
No
entanto, a resposta ao que deva “ser um indígena” – a exemplo da definição
acima – foi preocupação maior entre os antropólogos. Deles surgiram as
respostas mais sofisticadas, motivadas pela provável “extinção” do seu objeto –
as “sociedades primitivas” a partir da segunda guerra mundial (Cf. NOVAES, s.d,
pp. 37-60). Também dos antropólogos foram extraídos os argumentos para a defesa
dos direitos indígenas no Brasil dos anos 1970 e 1980 e, curiosamente, para o
questionamento do direito de a etnologia determinar os processos de
identificação indígena (Cf. CASTRO, 1999).
Se
quisermos observar melhor tais motivações – a extinção do objeto, o engajamento
em prol das questões indígenas e a reflexão da entnologia sobre suas limitações
– basta pensar sobre essas duas questões já incorporadas ao senso comum dos
brasileiros: (1) o que acontece com determinado grupo quando elementos “estranhos”
– alimentação, utensílio, culto religioso – são “introduzidos” no seu modo de
vida? (2) Qual o destino de um grupo que entra em contato com a sociedade não
indígena – ou mesmo quando se submete a outro grupo indígena?
Duas
foram as principais respostas, orientadas, respectivamente pelas correntes funcionalista
e interacionista: (1) o grupo sofre processos de descaracterização cultural que
o leva à extinção; (2) o grupo desenvolve estratégias de sobrevivência, se
adapta e constrói um novo modo de vida. Esta última tendência está presente nos
poucos estudos dos historiadores que se propõem, especificamente, a traduzir a
noção de identidade dos indígenas no Brasil, como veremos ao final deste
tópico. Os trabalhos discutem construção/(re)significação dos mitos fundadores
e também as questões atuais que orientam as lutas por identidade diferenciada.
Entre
os primeiros, difunde-se a tese de que os mitos fundadores indígenas não são
estáticos. Eles são atualizados pelos grupos em situação de crise, de ameaça à
sua existência. O mito da guerra entre os tupinambá foi atualizado a partir do
contato com os jesuítas. Um elemento “estranho” – o branco como personagem –
foi introduzido e o mito ganhou novo sentido. A guerra, então, passou a ser
explicada da seguinte forma: um branco amaldiçoou os indígenas com a guerra por
eles se recusarem a seguir o deus cristão.
No
século XIX, D. Pedro é o personagem “estranho” – transformado em “ancestral
mítico de uma das metades tribais” dos Xerente. O monarca adquiriu tal status
por ter supostamente doado terras para esses povos.
Do
século XIX ao XX, podemos dar como exemplo a (re)significação da identidade
corporal dos Kaingang – antes mediadas pelos jogos Kanjire e Pinjire.
Considerados violentos e até bárbaros, pelos não indígenas, tais simulações de
guerra entre grupos étnicos diferentes foram substituídas pelo futebol.
Os
mitos são (re)significados e as questões orientadoras das lutas por espaço
diferenciado também. No período colonial, os Guaicuru tornaram-se cavaleiros e
os Payaguá se destacaram no comércio e na fabricação de armas de fogo.
Evidentemente, sabemos que o trabalho com cavalos e com o ferro são
apropriações indígenas originadas do contato com os europeus. Mas isso não foi
impedimento para que tais práticas constituíssem a identidade dos povos
citados.
As
trocas também ocorreram entre os próprios grupos indígenas. Ainda na colônia, é
exemplar o caso dos Guarani que introduziram a horticultura, novos hábitos
alimentares e a organização de aldeias a partir de grandes famílias, efetivando
um processo conhecido como “guaranização” dos grupos do seu entorno.
No
período republicano é também clássico o exemplo das lideranças indígenas de
Roraima, no final do século XX, que introduziram novas práticas cultura – fazer
roça, comer verdura, trabalhar em sistema cooperativo – como estratégia de
ocupação territorial – limites. A identidade, requisitada nesse momento de
crise, está intimamente ligada à questão da demarcação da terra.
Se observarmos os verbos empregados –
substituir, atualizar, apropriar-se e (re)significar –, será mais simples
entender que a concepção de identidade continua centrada na idéia contrastiva –
indígena é aquele que se afirma e é reconhecido como tal. Mas os pressupostos
requisitados para “ser” e “aceitar” a identidade indígena não são estáticos, ou
seja, fundados em traços ditos puros, que remetem a um tempo distante da
experiência européia. Com a ideia de etnogênese[5], a
identidade indígena passa a ter o dinamismo que tem a identidade dos não
índios, ou seja, mutável, incorporadora de elementos vários ao longo das nossas
vidas. No entanto, são os acadêmicos, dominantemente, quem oferecem a última
palavra, ou seja, o que os indígenas são ou parecem ser.
4. Denúncias de práticas genocidas e
etnocidas
Os
historiadores dos últimos anos também se esmeraram na denúncia das práticas do
genocídio e do etnocídio. Tais palavras, já incorporadas ao senso comum, são
anunciadas nos dicionários da língua portuguesa como o extermínio deliberado,
parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico ou população (genocídio) e
destruição dos modos de vida de certa população, etnia ou comunidade
(etnocídio).
Entre
os historiadores colhidos por nossa amostra, por outro lado, não é comum distinguir
entre uma prática e outra. Além disso, critica-se a idéia de que o contato, as trocas
e a imposição de modos de vida tenham resultado, necessariamente, na morte de
culturas. Alguns tendem a falar em etnogênese, como vimos no tópico anterior.
Independentemente
dessas opções teóricas, historiadores reconhecem que as práticas etnocidas e
genocidas foram e são, ao modo dos dicionários, ações, mediadas por determinadas
técnicas – podemos assim dizer –, que partem de determinados sujeitos históricos
sob as mais diferentes justificativas. É isso que os historiadores buscam informar
em tom de denúncia, na maioria dos casos.
No
período colonial, religiosos, militares, gestores, sertanistas foram os grandes
protagonistas. Nos primeiros contatos, doenças contagiosas como a varíola e a
catapora provocaram a morte de milhares de indivíduos. Em seguida, a busca por
mão-de-obra e a política indigenista de catequese e de proteção aos fazendeiros
e jesuítas contribuíram para o aniquilamento de populações.
Dos religiosos,
são conhecidas as clássicas estratégias – o sermão e o castigo. A idéia de
salvar as almas e civilizar os infiéis fundamentou a mudança dos modos de vida
indígenas. Novas formas de organização do tempo e do espaço foram introduzidas,
como também os padrões de vida familiar – combate à nudez e à poligamia –,
educação dos filhos, trabalho e cosmogonia.
Das
ações militares, em defesa de religiosos e colonos, foram comuns o extermínio,
escravização e o aldeamento de indígenas. Um dos pioneiros nesse sentido foi o
Governador Geral Mem de Sá.
No
governo do Marquês de Pombal, a política indigenista previa o descimento dos
índios por métodos “brandos, suaves, boas palavras, persuasão e prudência”, mas
os governadores, na segunda metade do século XVIII, fizeram largo uso das armas
de fogo. A legislação – Diretório dos índios (03/05/1757) –, por sua vez,
proibia o uso das línguas nativas, a nudez, uso do álcool – juremas –, habitação
coletiva e os nomes próprios/pessoais de origem indígena.
A
reunião compulsória de vários grupos, resultante da transformação das aldeias
em vilas, a distribuição de títulos (oficiais de ordenanças dos índios) e
salários também foi grande fator de mudanças nos modos de vida indígena no
período pombalino. A introdução de práticas não coletivistas de produção, no
território que corresponde ao atual Rio Grande do Norte, é exemplo dessas
alterações.
No
século XIX, as denúncias também focalizam a política indigenista imperial. Neste
caso, a destruição de comunidades, índios aldeados e indígenas “errantes” foi
justificada por diferentes formas. Em São Paulo era a carência de mão-de-obra e
o perigo dos indígenas “errantes”; no Rio de janeiro, era a ausência de terras
e no Maranhão, ausência de terras e de mão-de-obra.
Visando
a ocupação de terras indígenas, fazendeiros e gestores desenvolveram
estratégias complementares. Os primeiros interpretavam as leis de proteção
indígena a seu favor. O poder público, em contrapartida, negligenciava os
serviços de tombamento e de medição das terras, além de não promoverem a
contagem da população indígena, fortalecendo argumentos dos fazendeiros de que
determinados aldeamento estavam em decadência ou extintos.
No
período republicano, por fim, as principais ações que resultaram em processos
de genocídio, etnocídio e ocupação das terras ganharam a forma de confinamento
em reservas (SPI), transferência de áreas para a construção de barragens e
hidrelétricas, projetos agropecuários de exportação e extração de madeira e
garimpo. Para alguns, o confinamento seria uma forma encontrada pelo Estado no
sentido de liberar a terra e evitar o conflito entre empresários e indígenas.
O
desdobramento desse tipo de ação foi, entre os Kaiowá e Guarani (MS), por
exemplo, a mudança brusca na organização social – alteração do horário e das
formas de trabalho –, da relação com a natureza – redução da diversidade agrícola
e extrativista – e com o mundo sobrenatural – extinção de práticas agrícolas e,
consequentemente, de práticas religiosas.
A
educação fornecida por ordens religiosas também foi outro fator de mudança nos
modos devida. O trabalho dos Salesianos no Mato Grosso, por exemplo, provocou a
quebra nas formas de transmissão dos valores indígenas e o desprestígio dos
anciãos do povo Xavante.
Observamos,
então, que a denúncia de práticas genocidas e etnocidas são objetos recorrentes
entre os historiadores das questões indígenas e, não obstante às mutações
acerca das definições do “ser” ou “não ser” indígena – apropriadas da etnologia
praticada no Brasil nos últimos 30 anos –, atores, motivações e técnicas
diversas tem sido eleitas como responsáveis pela destruição de diversos grupos
ao longo dos últimos cinco séculos.
5. Modos de vida
Modos
de vida é uma locução genérica empregada aqui como sinônimo de cultura em sua
acepção mais larga possível. Ela atravessa a obra de pensadores do
esclarecimento ou do esclarecimento renovado que concebem o homem como dotado
de determinadas capacidades distintivas em relação aos demais seres vivos.
Entre
os historiadores, dois significados são costumeiramente utilizados. Cultura
como a capacidade humana de atribuir sentidos ao mundo (Cf. GEERTZ, 1978, p.
57) e cultura como modos padronizados de agir, pensar e sentir. Ambos,
entretanto, são intercomplementares. Cultura como capacidade de atribuir
sentido é mais amplo e inclui tudo que o homem faz. Se a vida humana é uma eterna
atribuição de sentido – nomear, entender, comunicar –, todos os homens fazem e
têm cultura.
Cultura
como modos padronizados de agir, pensar e sentir, por sua vez, detalha melhor
essa potência – de atribuir sentido. Ela inclui também os artefatos que resultam
de tais capacidades –pensar, agir e sentir: hábitos de comer, morar, vestir
trabalhar, organizar-se política e socialmente e relacionar-se com o
sobrenatural. A esse conjunto de capacidades padronizadas e também aos
artefatos e fenômenos que delas resultam é o que
chamamos genericamente de modos de vida.
Mas o
que os historiadores têm dito acerca dos modos indígenas de viver?
Historiadores seguem consensos (ainda que temporários) antropológicos: a
cultura é coletiva, plural e dinâmica. Em outras palavras, não existe cultura
de um só indivíduo, cada grupo possui a sua cultura e a cultura de cada grupo
modifica-se em ritmos e processos diferenciados: apagando, incorporando,
inventando, mesclando ações, sentimentos, pensamentos e artefatos.
Essa
filiação antropológica dos conceitos e objetos no universo da cultura talvez
justifique o fato de os historiadores pouco mergulharem no campo. Modos de vida
são discutidos em forma de denúncia, como vimos no tópico anterior – práticas
etnocidas de religiosos, militares, gestores e colonos. O interesse maior dos
historiadores recai sobre as representações da educação escolar indígena e as
formas de produção da sua riqueza/existência.
O
trabalho é a categoria mais freqüente. Duas intenções ocupam os historiadores:
desmontar a idéia de indolência e de fragilidade dos indígenas, denunciar o
trabalho escravo e informar as variedades de ocupações através dos séculos.
Sobre a primeira tarefa, há esforço para reler as informações dos intérpretes coloniais
e provinciais. Indígenas sempre trabalharam, do contrario, como sobreviveriam?
O problema é que os intérpretes dos seus modos de vida – afirmam os
historiadores – nunca contabilizaram o tempo gasto nas ações de caça,
agricultura e extrativismo; nunca levaram em conta os tempos de espera, o respeito
às condições climáticas e a confecção dos instrumentos de trabalho.
O
trabalho compulsório também foi denunciado pelos historiadores. Do período
colonial, são clássicas as imagens de indígenas cortando madeira e
armazenando-a nas embarcações europeias. Em Minas Gerais, entre os séculos
XVIII e XIX, indígenas atuaram como escravos temporários, trabalhadores
alugados aos fazendeiros. Os lucros da empreitada eram revertidos para os
administradores dos aldeamentos. Indígenas também substituíram escravos negros
na extração do ouro no território do atual Mato Grosso, foram vaqueiros no Mato
Grosso do Sul e escravos agrícolas em São Paulo, no século XVIII, produzindo
milho e feijão para o abastecimento da região das minas. Indígenas exploraram
salinas, reformaram e construíram fortes, plantaram mandioca, criaram gado,
cortaram madeira para tinturaria e plantaram cana de açúcar, tudo a serviço dos
holandeses no Ceará do século XVII. Indígenas foram, também, soldados, como os
Potiguares nas guerras de Pernambuco, sob o comando de Felipe Camarão.
No
século XIX, indígenas trabalharam como comerciantes de víveres, cavalos e
canoas, soldados, informantes – mensageiros –, guias, transportadores de
pessoas e de cargas, coveiros e agricultores, a exemplo dos Guayaná e Terena e,
provavelmente, Bororo e Chamacoco na Guerra do Paraguai. Foram também vaqueiros
sob a forma de camaradagem – Terena (MS) –, sapateiros, alfaiates, tecelões e
vendilhões em Ilhéus (BA), atuaram na abertura e manutenção de estradas,
pacificação de grupos “hostís”, intérpretes e bugreiros (RS), na derrubada da
mata para o plantio do café, produção de alimentos, tecidos e aguardente (RJ), como
carregadores de terra, soldados, marinheiros, caçadores de quilombos – Puris –,
pescadores e marisqueiros (ES).
A
segunda dimensão da vida indígena mais recorrente é a educação. Sobre o tema
também há copiosa denúncia sobre algumas práticas etnocidas e o adestramento
dos indígenas ao mundo do trabalho, como as iniciativas governamentais de
educação escolar (MS).
A
maioria, entretanto, anuncia reivindicações e conquistas indígenas, a exemplo da
atuação dos professores indígenas em Dourados (MS), desde a década de 1960, a
conquista do direito à educação escolar diferenciada, consolidado na
Constituição de 1988, e dos planos dos professores Tremembé (CE), que
reivindicam uma universidade indígena, dirigida por indígenas, no início do
século XXI.
Historiadores
discutem, por fim, a função da escola nas comunidades indígenas. Para os
indígenas recém graduados (MT), é um espaço de transformação e de
fortalecimento da identidade étnica segundo. Para os Guarani (SC), apesar de
proporem o fortalecimento da língua e da tradição, as escolas tem papel
secundário diante da educação, linguagem e economia presentes nas atividades da
comunidade.
Raros
são os trabalhos que tratam de temas como as formas de organização social – famílias,
aldeias, conjunto de aldeias e seu território, conjunto de aldeias e
territórios –, sentido da guerra, o caráter lúdico do cotidiano indígena – apropriado
em favor da catequese jesuítica –, formas de organização temporal e espacial –
modificados com as intervenções religiosas –, a idéia de territorialidade –
concebida sobre costumes migratórios, visitas a parentes –, a origem e as
transformações dos mitos, como já comentados no terceiro tópico deste texto.
Em
síntese, no que diz respeito aos modos de vida, os historiadores tem se
ocupado, predominantemente, em afirmar que os indígenas sempre trabalharam (não
eram indolentes), apesar do escravismo a que foram submetidos, e gozaram de boa
saúde (não eram frágeis). As teses relativas à educação escolar informam sobre
a pluralidade de apropriações desse mecanismo não indígena. Por um lado é
instrumento de controle estatal. Por outro, é instrumento de emancipação e
conquistas, havendo inclusive grupos que pleiteiam a criação de instituições
gerenciadas por indígenas em todos os níveis de escolarização.
Conclusões
Enfim,
o que os historiadores têm afirmado recorrentemente nos últimos sete anos,
sobre a experiência indígena no Brasil? Por meio de uma centena de exemplos,
aproximadamente, pudemos perceber que os acadêmicos se esforçam para apresentar
os indígenas como sujeitos históricos no passado e no presente. E exemplificaram
tal condição, afirmando que indígenas fizeram alianças com motivos e atores os
mais diversos, empregaram os instrumentos de subordinação como ferramentas de
reivindicação dos seus direitos e reagiram à dominação europeia.
Historiadores
também afirmam que as culturas são marcadas por intensa atividade para a
produção da existência, ou seja, indígenas trabalham e nunca foram originalmente
frágeis de saúde. Indígenas também reproduzem os seus modos de vida e mantém
diferentes relações com a escola disciplinarizada, ou seja, contestam sua
função controladora, ao mesmo tempo em que a consideram um instrumento de
emancipação.
A
respeito dos critérios de identificação, historiadores defendem a ideia de que são
indígenas os que se afirmam e são reconhecidos como tal. Suas identidades tem
caráter dinâmico e mutável – como as identidades dos não indígenas.
Não
obstante o reconhecimento de que os indígenas são protagonistas, trabalhadores
e produtores de suas identidades, os historiadores reconhecem o grande poder que
os acadêmicos e o Estado exercem sobre esses processos de legitimação. Da mesma
forma, continuam denunciando o etnocídio e o genocídio e a manutenção de
conceitos evolucionistas que cercearam e ainda impedem o reconhecimento do
direito ao passado e ao futuro dos indígenas.
A
respeito das possibilidades de transposição didática dessas teses, é necessário
refletirmos sobre algumas questões. A primeira delas: é necessário preencher
todo o currículo com a experiência indígena, em termos espaciais e temporais?
Penso que não. A experiência indígena deve ser chamada à cena didática quando
os objetivos do projeto pedagógico, as demandas do alunado e a produção
historiográfica local assim o exigirem.
Outra
dúvida é quando à presença dos indígenas na escola. Será mesmo necessário por
os alunos em contato com sujeitos que se assumem como tal? Correndo o risco da
condenação acadêmica, eu ouso afirmar que não. A aprendizagem de conteúdos
conceituais e atitudinais, como também a apreensão de valores – solidariedade,
alteridade, tolerância, entre outros –, independem do contato físico com os
objetos de conhecimento. Se assim o fosse, não compreenderíamos as ideias
iluministas que forjaram os sentidos de igualdade de oportunidades e de
direitos sob os quais se eleva o nosso sistema educacional. A presença física
de indígenas na escola, em muitos casos, pode reforçar em vez de combater
preconceitos.
Outra
questão frequente nos cursos de formação continuada e que desafia a reflexão
dos pesquisadores, sobretudo do ensino de história, refere-se aos limites da
atualização historiográfica. Devemos incorporar ao ensino escolar todos os
problemas, objetos e abordagens, ou seja, todas as teses produzidas no mundo
acadêmico? É evidente que não. O mundo acadêmico tem suas próprias regras e uma
delas é a liberdade para avançar – diria um leigo – a esmo, experimentar sem a
necessidade de cumprir uma função social de caráter imediato. Esse traço
distintivo da ciência nos obriga a reconhecer que nem todo o material produzido
pela academia deverá e, mais importante, poderá figurar nos currículos, nos
livros didáticos e nos planos de aula. Aqui, novamente, as demandas do alunato
e as orientações do projeto pedagógico da escola estabelecem os limites da
transposição.
Relacionada
a essa limitação está a dúvida sobre as formas de explorar a diversidade dos
indígenas que habitam o território nacional. Como abordar os direitos indígenas
e ao mesmo tempo tratá-los em sua diversidade? As duas situações exigem,
paradoxalmente, um tratamento homogeneizante e diferenciador. Coloquem-se na
posição do elaborador de currículos ou do autor de livro didático: como
distribuir a experiência de 240 grupos sem hierarquizá-los? Qual espaço
atribuir a cada um, sabendo-se que as informações são dispersas e desiguais? Como
evitar o emprego das palavras índio e indígena? Uma boa estratégia para a
resolução desse problema é por os olhos no local. Homogeneizar e diferenciar
são mais factíveis quando nos detemos à experiência do entorno do aluno.
Agora
uma última questão para pensar: se não somos obrigados a incorporar,
apresentar, consumir, preencher todo espaço e todo o tempo do currículo etc. –
como defendo aqui – por que exigir do livro didático uma atualização olímpica
em relação à produção acadêmica? Devemos excluir da sala de aula um livro que
omite, por exemplo, a experiência indígena local? Para esse problema, proponho
o que a vivência de muitos professores do ensino básico indica: um livro ruim
será um excelente instrumento de aprendizagem se o professor estiver bem
informado e engajado na tarefa de desenvolver as capacidades de conhecer,
compreender e criticar do seu aluno. Assim, ao flagrar um erro de datação
tópica ou cronológica, ao detectar uma interpretação incompatível com o nosso
sistema de pensamento – uma identidade indígena a partir de critérios
evolucionistas, por exemplo – o professor pode estimular os alunos a questionar
e a apontar as contradições do discurso veiculado pelo material. Erros factuais
podem ser corrigidos com mais e mais pesquisa.
A
experiência dos mestres também indica que se a organização dos temas é pobre
estética e cognitivamente, o professor pode explorar as mesmas questões
mediante o uso de outras linguagens – sonora, visual – ou gêneros – artigos de
jornal, depoimentos escritos. Se, por fim, os conceitos e teses disseminados
pela pesquisa de ponta são requeridos pelo projeto pedagógico e pelas demandas
do alunado, mas não estão contemplados no material didático, o professor pode
elaborar atividades para desenvolvê-los junto aos alunos.
Em
suma, o saber dos mais experientes professores indica que o compromisso com a
aprendizagem do aluno e a informação atualizada são a chave para transpor as
teses da pesquisa de ponta e contornar as deficiências de todos materiais
didáticos que nos são apresentados ou impostos.
Para citar este texto
FREITAS,
Itamar. A experiência indígena entre os
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Roraima (1978/1990). SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação
Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
SCHALLENBERGER,
Erneldo. O Guarani sem fronteiras na expansão das fronteiras sobre o Gauirá.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais... Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
SILVA, Giovani José
da. Os índios Kadiwéu na História: problematizando fontes. SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
Denúncias
de práticas genocidas e etnocidas
AMORIN, Bruno
Abranches. Feitos de Mem de Sá sobre os nativos: extermínio, escravidão e
submissão indígena nos fins do século XVI. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24,
São Leopoldo. Anais... São Leopoldo:
Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
BRAND, Antônio
Jacó, COLMAN, Rosa Sebastiana, SIQUEIRA, Eranir Martins. Território e
sustentabilidade entre os Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul. SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais...
Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
BRAND, Antonio
Jacó, FERREIRA, Eva Maria Luiz e ALMEIDA, Fernando Augusto Azambuja de. O
processo de demarcação das reservas indígenas Kaiowá e Guarani, no Mato Grosso
do Sul, pelo SPI, e os conflitos de terra, entre as décadas de 1910 e 1940.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1
CD-ROM.
CONRADI, Carla
Cristina Nacke. A luta constante dos Guarani por territórios: as novas
ocupações no oeste do Paraná (1822/2000). SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23,
Londrina. Anais... Londrina:
Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
KOK, Glória.
Peregrinações, conflitos e identidades indígenas nas aldeias quinhentistas de
São Paulo. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 25, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Associação Nacional de História, 2009. 1
CD-ROM.
LOPES, Fátima
Martins. Oficiais das ordenanças de índios: novos interlocutores nas vilas da
capitania do Rio Grande. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 25, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Associação Nacional
de História, 2009. 1 CD-ROM.
MACHADO, Marina
Monteiro. Índios e terras no Império do Brasil. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA,
23, Londrina. Anais... Londrina:
Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
MACHADO, Marina
Monteiro. Leis e embates: as terras indígenas no Império do Brasil. SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
MEDEIROS, Ricardo
Pinto de. Trajetórias políticas de povos indígenas e índios aldeados na
capitania da Paraíba durante o século XVIII. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 25,
Fortaleza. Anais... Fortaleza:
Associação Nacional de História, 2009. 1 CD-ROM.
MEDEIROS, Ricardo
Pinto. Participação, conflito e negociação: principais e capitães-mores índios
na implantação da política pombalina em Pernambuco e capitanias anexas.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1
CD-ROM.
MELCHIOR, Marcelo
N. História, educação e cultura na etnia Xavante. SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais...
Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
OLIVEIRA, Jorge
Eremiltes de, PEREIRA, Levi Marques. "Duas no pé e uma na bunda": da
participação Terena na guerra entre o Paraguai e a Tríplice Aliança à luta pela
ampliação dos limites da terra indígena Buriti. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA,
23, Londrina. Anais... Londrina:
Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
PINHEIRO, Niminon
Suzel. Terra não é troféu de guerra. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23,
Londrina. Anais... Londrina:
Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
PIRES, Fabiana
Pinto. Punições corretivas nas reduções jesuíticas do Rio da Prata (século
XVII). SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1
CD-ROM.
PRESSOTTI, Thereza
Martha. A conquista dos sertões do Cuiabá e d Mato Grosso: os numerosos reinos
de gentios e a "guerra justa" aos Paiagua (1719/1748). SIMPÓSIO NACIONAL
DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais...
Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
ROCHA, Lecy
Figueiredo. Ka Ba Boe Ba? - A indagação da nação Bororo diante das guerras e
conflitos travados contra seus co-irmãos Cabaçais (1750/1843). SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
RODRIGUES, Valéria
Nogueira. De Guaikuru a Kadiwéu: conflito e transculturação. SIMPÓSIO NACIONAL
DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais... Londrina:
Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
SANTOS, Francisco
Jorge dos. Dois governadores, duas políticas indigenistas diferenciadas sob o
mesmo diploma legal na segunda metade do século XVIII, na Amazônia portuguesa.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 25, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Associação Nacional de História, 2009. 1
CD-ROM.
SILVA, Tarcísio
Glauco da. Junta de Civilização e Conquista dos Índios e Navegação do Rio Doce:
fronteiras, conflitos e apropriação de espaços (1808/1822). SIMPÓSIO NACIONAL
DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais...
Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
TORRES-LONDOÑO,
FERNANDO. Os jesuítas e a cristianização dos tupis nas missões de Mayanas.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1
CD-ROM.
Modos de
vida
AGUIAR, José
Otávio. Garapé: a guerra entre os índios Puri e Coroado nos sertões do Rio
Pomba. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais... Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
ALMEIDA, Rosely
Batista Miranda de. A guerra do Brasil com o Paraguai: a presença de grupos
indígenas no conflito (1860/1870). SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina.
Anais... Londrina: Associação
Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
AMANTINO, Márcia. A
escravidão indígena e suas variações: Minas Gerais - séculos XVIII e XIX.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1
CD-ROM.
BORGUES, Jóina
Freitas. Documentos, cacos cerâmicos e fragmentos de Memória: os Tremembés
descalços sobre mosaicos de suas histórias. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24,
São Leopoldo. Anais... São Leopoldo:
Associação Nacional de História, 2009. 1 CD-ROM.
BRAGA, Márcio
André. Discurso e prática indigenista no Rio Grande do Sul do século XIX.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais... Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
CAVALCANTE, Thiago
Leandro Vieira. Apropriações e influências do mito do Pay Sume na evangelização
feita pelos jesuítas na América do Sul nos séculos XVI e XVII. SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais...
Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
CAVALCANTE, Thiago
Leandro Vieira. Culturas em contato e a tradução resignificadora do mito do
Sumé. 24, São Leopoldo. Anais... São
Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
CHAVES, América
portuguesa: conquista e povoamento do extremo oeste.SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais...
Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
CONCEIÇÃO, Taíse
Ferreira da. Edificando sobre fundamento alheio: a catequese calvinista no
Brasil colonial (1630/1654). SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais... Londrina: Associação Nacional
de História, 2005. 1 CD-ROM.
FASSHEBER, José
Ronaldo Mendonça. Kanjire X Estado: um etno-desporto Kaingang e a colonização
brasileira no século XIX. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais... Londrina: Associação Nacional
de História, 2005. 1 CD-ROM.
FUGIMOTO, Juliana.
A leitura Tupinambá da alteridade: o mito sobre a origem da guerra. SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
GIROTTO, Renata
Lourenço. O Serviço de Proteção aos Índios e a política indigenista republicana
junto aos índios da Reserva de Dourados e Panambizinho na área da educação
escolar (1929/1968). 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
GODOY, Silvana Alves.
A vida de Itu e os negros da terra - séculos XVII e XVIII. SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
LEMOS, Cesar de
Miranda e. Fontes para um debate: os índios na urbanidade carioca no início do
oitocentos. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação
Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
LOPES, Marta Maria.
Grupos indígenas na fronteira oeste do Mato Grosso e suas relações com os militares
brasileiros
MARCIS, Teresinha.
O cotidiano das famílias indígenas da comarca de São Jorgue dos Ilhéus através
dos documentos - 1758/1820. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação
Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
MARTINS, Guilherme
Saraiva. A revolta indígena de 1643/1644 no Ceará: alianças e conflitos no
Brasil holandês. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 25, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Associação Nacional
de História, 2009. 1 CD-ROM.
MARTINS, Maria
Cristina Bohn. Acerca da guerra e da paz nas crônicas jesuíticas das reduções:
o caso da conquista espiritual de Montoya. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23,
Londrina. Anais... Londrina:
Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
MEDEIROS, Iraci
Aguiar e GITAHY, Leda. A relação movimento indígena/Universidade: análise de
uma experiência de formação de professores indígenas. SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 25, Fortaleza. Anais...
Fortaleza: Associação Nacional de História, 2009. 1 CD-ROM.
MORAIS, Marcus
Vinicius de. O primeiro conflito no Novo Mundo: o real e o imaginário. SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais...
Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
MOREIRA, Vânia
Maria Losada. Guerra e paz no Espírito Santo: caboclismo, vadiagem e
recrutamento militar das populações indígenas provinciais (1922/1875). SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais...
Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
MOREIRA, Vânia
Maria Lousada. Entre índios ferozes e negros do mato: sentimentos da construção
da ordem nos sertões do Espírito sAnto durante a primeira metade do século XIX
OLIVEIRA, Jorgue
Eremiltes de, PEREIRA, Levi Marques. "Duas no pé e uma na bunda": da
participação Terena na guerra entre o Paraguai e a Tríplice Aliança à luta pela
ampliação dos limites da terra indígena Buriti. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA,
23, Londrina. Anais... Londrina:
Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
PERALTA, Inez
Garbuio e KASSAB, Yara. O desvelar das interações cotidianas entre jesuítas e
indígenas brasileiros no século XVI: privilegiando o lúdico. SIMPÓSIO NACIONAL
DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
RAMINELLI, Ronald.
Honra e privilégio da família Camarão - 1630/1720. SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
ROSA, Helena
Alpini. A presença da escola na comunidade Tekoa Guarani: trajetória histórica.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1
CD-ROM.
SABEH, Luiz
Antonio. Colonização salvífica: o empreendimento missionário de Manoel da
Nóbrega na América Portuguesa - 15491560. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São
Leopoldo. Anais... São Leopoldo:
Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
SCHALLENBERGER,
Erneldo. O Guarani sem fronteiras na expansão das fronteiras sobre o Gauirá.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais... Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
SILVA, Giovani José
da. Os índios Kadiwéu na História: problematizando fontes. SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
SPOSITO, Fernanda.
Conflitos entre indígenas e paulistas na ocupação dos extremos da Província de
São Paulo (1822/1845). SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais... Londrina: Associação Nacional
de História, 2005. 1 CD-ROM.
TORRES-LONDOÑO,
FERNANDO. Os jesuítas e a cristianização dos tupis nas missões de Mayanas.
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1
CD-ROM.
TROQUEZ, Marta
Coelho Castro. Professores índios na reserva indígena Francisco Horta Barbosa
(Dourados-MS): a especificidade destes atores sociais e históricos. SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 23, Londrina. Anais...
Londrina: Associação Nacional de História, 2005. 1 CD-ROM.
TROQUEZ, Marta
Coelho. Educação. Educação escolar indígena em dourados (MS: as instituições e
os professores índios. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 24, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Associação
Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
VIEIRA FILHO,
Raphael Rodrigues. Contatos e solidariedades: negros e Payaya no sertão de
Jacobina-BA. 24, São Leopoldo. Anais...
São Leopoldo: Associação Nacional de História, 2007. 1 CD-ROM.
[1] Esta pesquisa pautou-se pelo
exame de todos os trabalhos completos publicados nos Anais eletrônicos do XV Simpósio
da Associação Nacional de História, ocorrido em São Leopoldo, no ano 2005.
Foram selecionados, lidos e fichados todos os textos que contemplavam os
indicadores “índio”, “índios”, “indígena”, “indígenas”. A leitura incorporou,
portanto, os trabalhos que não fizeram parte do tradicional Grupo de Trabalho
“História indígena”, organizado pelo professor John Monteiro. De cada texto
foram selecionadas as proposições principais. Tais proposições foram
categorizadas segundo as cinco tendências contemporâneas mais recorrentes no
estudo da história indígena e do indigenismo (como descrito na introdução
acima).
[2] Protagonista era o principal ator
entre os três elementos clássicos do teatro grego (protagonista, coro e
figurante). Ele encenava o papel mais importante. Em torno dele construía-se o
enredo. (Cf. HOUAISS, 2007; MOSSÉ, 2004, p. 266). Historiadores empregam
protagonista com mesmo sentido de sujeito histórico. Sujeito histórico é aquele
que tem a idéia, toma a decisão de executá-la e a executa efetivamente. O
responsável pela ação, portanto, pode não ser o mesmo sujeito, pode mesmo
migrar do pessoal ao coletivo e vice-versa. (Cf. AROSTEGUI, 2000, p. 330).
[3] Para não poluir visualmente o
texto – e, assim, facilitar a leitura –, relacionei todas as referências ao
final, classificando-as tematicamente.
[4] Representações são os modos
“como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é
constituída, pensada, dada a ler”. Seu estudo volta-se para as “classificações,
divisões e delimitações que organizam a apreensão do mundo real. [...] As
representações do mundo social [...] são sempre determinadas pelos interesses
de grupo que as forjam” (Chartier, 1990, pp. 16-17).
[5] Revisando a literatura a
respeito, John Monteiro apresenta duas definições para etnogênese e as
sintetiza: 1. Jonathan Hill (1996) – etnogênese inclui estratégias culturais e
políticas de atores nativos, buscando “criar [e renovar] identidades duradouras
num contexto mais abrangente de descontinuidades e de mudanças radicais”, [entendida,
não somente] a partir das “relações entre sociedades subalternas e as
estruturas de dominação de poder”, [mas também] nos conflitos internos e entre
povos indígenas e afro-americanos’. 2. Gary Clayton Anderson (1999) –
etnogênese “está radicada no processo no qual ‘pequenos bandos transformaram as
suas culturas para se unir a outros grupos, abandonando as suas línguas, suas
práticas sociais e mesmo processos econômicos para atender as demandas da nova
ordem”. Tais processos envolviam a incorporação de elementos de outras etnias
[...], bem como a “reinvenção e incorporação” de práticas e de tecnologias dos
europeus, como o cavalo e o comércio. [...] as novas perspectivas passam a
enfatizar a ação consciente e criativa de atores nativos, ação essa informada
tanto por cosmologias arraigadas quanto por leituras da situação colonial
[...]. (MONTEIRO, 2001, p. 56-57).
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