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sexta-feira, 1 de junho de 2007

Sete notas sobre quadrilhas juninas em Aracaju

FREITAS, Itamar. Sete notas sobre
quadrilhas juninas. Aracaju:
Nossa Gráfica, 2007.
Para início de conversa...
Comecei a escrever essas notas por curiosidade sobre alguns aspectos observados nos festejos juninos. Depois, foi estimulado pela ausência de registros escritos sobre as Quadrilhas sergipanas.
Escrevia uma vez ou outra, nos fins de semana, com intervalo de meses. A cada sentada era guiado por uma intenção. As notas, então, foram se acumulando, sem um projeto, sem um fio condutor, crescendo e ganhando inimigos.
Recentemente abandonei a pretensão de utilizar esses dados numa monografia de graduação, pois não tinham o rigor da fonte coletada nos parâmetros da academia.
O hábito de limpar as gavetas, por exemplo, como fez o poeta Nairson Saquarema com os seus sonetos e cartas, quase transforma em cinzas aquela meia dúzia de páginas amareladas que me acompanhava nas constantes mudanças de endereço.
Por isso, para evitar que os registros desapareçam, e enquanto o projeto de uma história das quadrilhas não é formulado, resolvi publicar as sete notas que tratam do movimento quadrilheiro sergipano nos anos 1980 e início da década de 1990.
É importante lembrar que as notas são fruto de uma pessoa que estava “do lado de lá da vitrine”, que vivenciava a manifestação Quadrilha. Isso explica em parte o teor descritivo e fragmentado, o sabor de memória e a ausência de conclusão.
Mas os textos têm, pelo menos, um mérito, bastante para justificar a publicação: registram algumas práticas das quadrilhas da Grande Aracaju, da geração nascida entre 1950 e 1970.
Com eles, quero também estimular os escritos memorialísticos e a pesquisa acadêmica sobre mais quadrilhas, festas de pagode, corridas de argola, imitadores dos grupo Menudos entre outros. Esses são alguns dos vários movimentos/instituições tão freqüentes e intensos na periferia de capital que passam despercebidos aos olhos dos pesquisadores profissionais.
Atualmente, apenas dois fenômenos/objetos ganham prestígio, inclusive como dado de ciência: as manifestações à beira da extinção (guerreiros e reisados) e os eventos figurados como de última moda (Forró Folia, Festa do Mole e Pré-Caju). A Quadrilha navega nesse meio-tempo/meio-espaço: um patrimônio de todos, resguardado por ninguém.


Para ler os demais capítulos dessa obra, acesse:
Sumário
Para adquirir esta obra em suporte papel, escreva para:
Itamar Freitas. itamarfo@gmail.com

sexta-feira, 1 de março de 1996

Patrimônio cultural sergipano (Colônia)

Detalhe do Cartaz do I Forum da Sergipanidade. Aracaju, Fundação Aperipê, 26 e 27 ago. 2010.
Da esquerda para a direita, as cores e imagens representam símbolos da identidade sergipana: estrelas e cores da bandeira do
Estado, fitas coloridas da indumentária de vários grupos foloclóricos, patrimônio edificado, música, fenômeno do cangaço,
e os crustáceos que que nomeiam toponímicos locais, os siris.
Grande parte dos grafites chamados "pornográficos”, colhidos nos banheiros das escolas possuem, pelo menos, uma função em comum. Através deles podemos claramente perceber o estabelecimento de um conflito entre dois grupos: a comunidade dos nascidos em território da Bahia e dos nascidos em território de Sergipe. Essa tensão que gera apelidos, e rótulos em torno de baianos e sergipanos, expressando sentimentos de repulsa, competição e autoestima é um exemplo do manifesto daquilo que convencionalmente chamamos de identidade.
Visto dessa maneira, o conjunto grafites passa a representar muito mais que simples “atos de vandalismo”. Os xingamentos e a troca de acusações passam a ser reflexos das práticas de organização e autodefesa que todo grupo (e também todo Estado, município) utiliza para se fazer existir. Trata-se, na verdade, de um movimento de eleição de símbolos e limites (caju e São João representando Sergipe; acarajé e carnaval simbolizando a Bahia, etc.) produzidos por intelectuais que só terão fim com o desaparecimento de um ou outro lugar (Bahia ou Sergipe).
Na maioria dos casos, esse processo é posterior à implantação das instituições políticas formais (Assembléia Legislativa/Governo, Câmaras) e ao reconhecimento da independência econômica do lugar (o gado, o açúcar).
Considerando que a identidade é elemento simbólico, mas indispensável como ponto de referência para qualquer comunidade fica mais fácil compreendermos os surgimentos desses rótulos naturalizados de que o baiano é isso, sergipano é aquilo...
Ora, sabemos muito bem (não é preciso uma pesquisa estatística para descobrir) que nem todos os baianos foram ou são assim como descritos nos grafites, nas piadas, etc. que nem todos os sergipanos foram ou são ... Mas por que insistimos nos apelidos e rótulos? Várias são as razões.
A primeira é que é próprio da identidade ser construída através de diferenciações. Há uma necessidade em se valorizar a diferença, de estabelecer os limites claros entre “eu” e o “outro” (entre o nosso lugar e o lugar do outro). Vejamos o caso de Sergipe. Um Estado pequeno aos olhos dos “outros”, possuidor da menor quantidade de terras do país. Reconhecendo esse problema, os moradores de Sergipe vivem a procura de outros rótulos ‘diferenciadores’, mais dignificantes, construídos por si próprios e reconhecidos pelos outros Estados. Daí surgirem os apelidos de “terra do petróleo”, “ nascedouro de intelectuais”, etc. A identidade se forma, portanto, no conflito entre o olhar de si e o olhar do outro.
A identidade é construída também a partir da semelhança. Há uma necessidade em se fazer aproximações internas ao grupo, à cidade, ao Estado. Esse elemento me comum pode ser de natureza diversa: uma paisagem mais ou menos homogênea ( o coqueiral, as praias); um vocabulário, um jeito de falar, uma história em comum, particularidades econômicas (a produtividade da cana), etc. Portanto, a identidade é também uma conquista.
As identidades são construídas em período de crise (crises econômicas, políticas): os motivos da colonização; lutas contra os holandeses, protestos contra as imposições políticas de Salvador, as tentativas de emancipação, etc. Nesses momentos os moradores do lugar (escravos, indígenas, pequenos proprietários, trabalhadores livres) constroem referências que, posteriormente, são reelaboradas e conduzidas por aqueles que detém o poder político (intelectuais, parlamentares). Muitas vezes, tais referenciais são utilizadas para servirem aos projetos imediatos daqueles que as reelaboram: as justificativas para a criação de um novo município são um bom exemplo. A identidade é sobretudo um instrumento e objeto de poder.
A identidade, no caso de que estamos tratando, portanto, a identidade de um lugar chamado Sergipe, é construída sobre bases materiais e ideológicas. É gestada a partir de elementos do passado e do presente e de diferentes comunidades, das memórias coletivas, dos documentos-monumentos preservados pelos governos como testemunhos damos o nome de patrimônio cultural.
O patrimônio cultural de Sergipe - colonial é bastante diversificado. Para efeito de estúdo pode ser decomposto em três grandes temáticas: natureza e meio ambiente; o saber e as técnicas; os artefatos e as construções. Nas próximas páginas exibiremos uma mostra daquilo que consideramos como mais significativo em termos desse patrimônio. Mas sobre esse “significativo” é importante fazer duas ressalvas:
  1. A seleção aqui exposta é mais uma entre tantas escolhas possíveis, você pode fazer a sua de acordo com o maior conhecimento que tiver do espaço que se proponha a estudar (o Estado, o município, o povoado, o bairro, etc.).
  2. É preciso entender que a representatividade dos elementos selecionados está relacionada à forma e ao significado que tomou a colonização do espaço que hoje conhecemos como Sergipe. O evento da colonização é uma atitude barbarizadora de ocupação, domínio da terra e das populações primeiras, de ações ligadas a empresa mercantil (mesmo se sabendo das tentativas de catequese – não há conquista pacífica). Essa atitude “colonizadora deixou marcas que até hoje podem ser vistas. Em nível ideológico podemos constatar o mandonismo, o apadrinhamento, e a subserviência como evidência ligados ao poder de perpetuação em nossa formação social. Em nível material, é bem notável a abundancia de monumentos ligados ao poder de perpetuação das elites. As nossas “cidades históricas” estão repletas desse tipo de patrimônio (monumentos religiosos, públicos e/ou privados – igrejas, palácios, engenhos).
Mesmo assim, as chamadas “marcas colonizadoras” não impedem que outros patrimônios também sejam conhecidos. Observado de outros ângulos, o patrimônio cultural preservado deixa de ser “o patrimônio das elites” na medida em que conta da experiência das camadas mais afastadas do poder, os colonizadores construtores diretos desse patrimônio (índios, negros e, depois, uma comunidade que se auto-rotularia sergipanos).
O acervo selecionado ganha mais importância na medida em que testemunha o caráter predatório, “sangrento” de qualquer colonização: o que permite estudar outras histórias que ajudem a construir outras memórias, possibilitando a reflexão sobre as nossas atuais identidades, sobre o nosso modo (de querer ser) sergipano e, sobre o que muito falam a respeito da nossa sergipanidade. Vejamos, então os principais exemplares e a importância de cada um desses grupos representativos do patrimônio cultural sergipano (Continua).

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Fonte da imagem
Detalhe do Cartaz do I Forum da Sergipanidade. Fundação Aperipê, Aracaju. 26 e 27 ago. 2010. <http://projetosergipanidade.blogspot.com/2010/08/i-forum-da-sergipanidade-construindo.html>. Acesso em: 01 dez. 2010.
Nota
Texto produzido sob encomenda da Secretaria de Estado da Educação de Sergipe, entre setembro de 1995 e março de 1996. Constam do mesmo projeto, “A pré-história sergipana” (Profa. Isabel Ladeira) e “História econômica e política de Sergipe” (Profa. Lenalda Santos). Agradeço à graduanda Heloisa Galdino pelo empenho e rigor no trabalho de levantamento de fontes sobre o patrimônio cultural sergipano.