quarta-feira, 1 de março de 2000

A "Casa de Sergipe" (2): historiografia e identidade na Revista do IHGS (1913/1929)

O movimento intelectual nas décadas de 1920 e 1930 (Capítulo 2)
A fundação do Instituto Histórico e Geographico de Sergipe importa inconcusso documento de florescencia intellectual sergipana, e nos fica a assignalar o momento em que a nossa inteligencia se julgou apta a collaborar no grande problema da correlação existencial entre a natureza e o homem.
Mas deste ponto de vista subectivo é que, porem, se me antolham, desde o primeiro lanço, as grandes responsabilidades do Instituto, cujo fim á esta hora do seculo, não é de aclarar pontos obscuros ou recantos crepusculares, porventura ainda existentes nos devãos do nosso Theatro e História para falar com Ratzel, mas crear o estudo da Anthropo-geographia sergipana á luz do moderno critério da Sciencia Social porque é no apparentemente simples estudo da dependencia do homem para com a terra, onde se colhe o exacto systhema do equilibrio resultante da lucta das forças mezologicas e ethnicas, e do qual se deriva mais clara visão da coexistecia social sujeita, por toda a parte a variedade de condições vitaes que lhe são particulares.[1]
*** 
A fundação do Instituto Historico e Geographico se Sergipe não pode ser por mais tempo adiada.(...)
Sergipe não tem um Instituto ou uma associação scientifica com que distinga os seus grandes homens.
Todos os nossos talentos são condecorados pelas sociedades estrangeiras ou de outros Estados.
Dahi o marasmo, a falta de estimulo que existe em nossa terra, não porque nos faltem genios, mas porque estes se apagariam sem reflexo, victimas do meio como a voz se extingue nas planicies desertas, aos poucos, sem echo.(....)
A nova epocha em que entrou em vespera dos notaveis melhoramentos materiaes e intelectuaes projectados pelo reformador de nosso Estado, o exmo. Sr. Presidente do Estado General dr. José de Siqueira Menezes, despertou em mim a lembrança da fundação do instituto de que ora me occupo.[2]
Quando Prado Sampaio anunciava um novo tempo para a intelectualidade sergipana, ele dava mais um sopro de vida ao movimento inaugurado por Tobias Barreto e Silvio Romero que já parecia esgotado no Recife desde 1906. O tobiático Sampaio ainda utilizava combativos argumentos de parte da “geração 70”, empenhada na crítica ao clericalismo e na luta pela renovação dos estudos filosóficos no Brasil. Mas o discurso de Prado Sampaio também revelava indícios de que, pela primeira vez, de forma coletiva, os intelectuais de Sergipe, mormente da capital, experimentavam um momento de reflexão, uma tomada de consciência sobre a aceleração da história, percebida através dos desdobramentos da revolução industrial, do desmoronamento dos últimos pilares do regime político anterior, como também das concepções e modos de pensar a filosofia e praticar ciência.
Instantes de reflexão, como os citados acima, têm sido alvo de estudos interdisciplinares que procuram examinar de perto os discursos de ruptura com o passado, de formação de utopias para com o futuro; discursos que repensam e até vêem com suspeição o seu presente e, por vezes, tentam radicalmente introduzir novos parâmetros de conduta na política – democracia representativa –, arte – modernismo – e ciência – racionalismo, materialismo. Esses instantes de reflexão tem sido chamamos de modernidade.
Quando Florentino Menezes falava em “notáveis melhoramentos materiais”, referia-se claramente ao período em que as conquistas tecnológicas do velho mundo começavam a "respingar" sobre os sergipanos, principalmente sobre os habitantes alfabetizados da capital. Era o tempo da luz elétrica, do saneamento básico, do combate às febres, da introdução do primeiro automóvel, ferrovia e dos telefones em Sergipe.[3] Ao enfatizar a “utilidade” da história e da geografia e reivindicar uma instituição para a guarda das tradições locais, Florentino Menezes denunciava uma tendência dos intelectuais engajados que, dentro da emergência do nacional, procurava fundar uma identidade para o Estado de Sergipe, constituída por elementos locais, entretanto sob os modelos das sociedades que, a seu ver, já tinham alcançado características do supremo estágio de civilização.[4]
Hoje, comparando fragmentos literários dos dois autores, pode-se perceber que tanto o discurso de Prado Sampaio quanto o de Florentino Menezes apresentam curiosas semelhanças, além do fato de terem sido pronunciados na fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (1912) e no lançamento do primeiro número de sua Revista (1913). Ambos fornecem indícios de uma tomada de consciência – da emergência da ocidentalização -, uma instância de reflexão sobre o tempo presente, sentidos que contemporaneamente são expressos pelo conceito de modernidade. Ambos também representam a tomada de consciência do intelectual acerca do seu papel nos destinos da sociedade a que pertencem.
Essa tomada de consciência dos intelectuais exprime-se principalmente na fundação de instituições culturais e estas, através do seu papel fundador, orientador e disciplinar, vão auxiliar na construção de um Sergipe moderno, consequentemente, preparando-o para a sua inserção no mundo civilizado. Assim, com essa missão e nesse contexto eram iniciadas em 6 de agosto de 1912 as atividades do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, a primeira instituição assumidamente científica do Estado.
Intelectuais
A fundação do IHGS é apenas um entre os vários acontecimentos que marcaram a experiência intelectual de uma pequena parte dos sergipanos nascidos entre 1840 e 1900, bem como a maturidade cultural da Capital Aracaju ante os centros produtores como Estância, Laranjeiras e Maruim. O dinamismo das atividades literária e científica é um dos indícios da consolidação da liderança da nova capital[5] desacreditada pelos problemas infraestruturais que enfrentou desde a sua instalação em 1855. Mesmo sabendo que os intelectuais têm relativo papel na elaboração da cultura política[6] e no resultado final das políticas públicas, é importante estudá-los sob os aspectos da organização e auto-identificação. Essa tarefa lança luzes sobre o processo de institucionalização das ciências sociais no Estado e dimensiona o poder de intervenção desses grupos no cotidiano da sociedade sergipana.
Com essa abordagem tentarei apresentar uma possível resposta a questões como: quem eram e o que faziam os intelectuais das décadas de 1910/20, período que envolve a consolidação do IHGS. E ainda, de forma mais breve, como se organizavam, que tipo de relações mantinham e quais as possíveis implicações dessa rede de influências na tecedura de uma determinada escrita da história.
Certamente, “intelectual” não é uma categoria homogênea. Os próprios articulistas do período estudado se auto-reconheciam pelas funções desempenhadas – jornalismo, literatura stricto sensu (contistas, poetas, dramaturgos), magistério, magistratura – e/ou titulação adquirida através de cursos superiores. Por esse segundo critério – “a cultura literária” os “dotes da inteligência” – recebiam o nome de intelectuais todos os engenheiros, militares de alta patente, bacharéis em direito e medicina que manifestassem a sua opinião oralmente ou tivessem publicado algum trabalho relacionado às suas respectivas áreas de atuação profissional.
Essa ausência de limites sobre o que poderia ser chamado grupo intelectual nas décadas de 1910/20 esconde, paradoxalmente, algumas características que podem facilitar a abordagem desse tema. Está claro que a homogeneidade também não é característica do conceito nos tempos atuais entretanto, nesse trabalho, o “intelectual” poderá ser genericamente caracterizado como “os sujeitos a quem se atribui de fato ou de direito a tarefa específica de elaborar e transmitir conhecimentos, teorias, doutrinas, ideologias, concepções o mundo ou simples opiniões, que acabam por constituir as idéias ou os sistemas de idéias de uma determinada época e de uma determinada sociedade.”[7] Recortando mais ainda o objeto, e continuando com as palavras de Norberto Bóbbio, é importante enfatizar que a caracterização do intelectual enquanto tal não está diretamente determinada ao trabalho que exerce, mas a sua função: “um operário que também desenvolva obra de propaganda sindical ou política pode ser considerado um intelectual, ou pelo menos os problemas éticos e cognoscitivos da sua obra de agitador são os mesmos que caracterizam o papel do intelectual.”[8]
Essa definição é suficiente para suprimir a equivocada dicotomia entre trabalho intelectual e trabalho manual, bem como as confusões entre esse mesmo trabalho intelectual (com função adjetiva) e o intelectual (com função substantiva). Penso ainda que essa definição e caracterização dão conta do problema atual que é descrever os “criadores”, “mediadores” (numa acepção mais larga)[9], e até mesmo os agentes “engajados” (numa acepção mais estreita) em tentativas de produção literária e científica no solo sergipano.
Por esses critérios são enquadrados como intelectuais nas décadas de 1910-1920 não apenas os bacharéis em direito e medicina, engenheiros, militares graduados e oficiais, jornalistas militantes, padres, mas também os professores do ensino secundário, funcionários públicos responsáveis por bibliotecas, serviço de instrução, diretores de sociedades multualistas, comerciantes e uma série de outras categorias a quem se atribui o papel de difusor cultural ou formador de opinião.
Esse entendimento do intelectual como criador ou mediador, independente das especificidades do seu trabalho, apresenta, à primeira vista, devido a sua abrangência, inúmeras dificuldades para o desenvolvimento da pesquisa. Mas, dispensando o anseio de visualizar a totalidade, de inventariar todos os intelectuais do período, adotando uma determinada amostra tão representativa quanto qualquer “amostra”, pode-se incorporar, para responder às questões inicialmente propostas, uma das mais primorosas fontes impressas existentes no Brasil sobre o tema: Dicionário Bio-Bibliográfico Sergipano[10]. Essa obra reúne 586 verbetes sobre a experiência de sergipanos nascidos entre 1648 e 1908 que contribuíram e tiveram, segundo os critérios do seu autor, Armindo Guaraná, ação destacada na sociedade sergipana e na “cultura intellectual do paiz.”[11] No prefácio, Guraraná reconhece que o Dicionário não terá serventia “para espíritos superiores, versados nos achados das sciencias particulares e busca de uma concepção geral”. Esse juízo era, aliás, um sintoma do clima cientificista reinante nas discussões de alguns intelectuais no período quando à busca por leis gerais se constituía numa das mais nobres tarefas do “scientista”. Para nós, entretanto, a narração dos “fatos mais ou menos interessantes” dos “pro-homens” de Sergipe, colhidos através da oralidade, da pesquisa em periódicos ou nos compêndios biobibliográficos é simplesmente um grande achado, um manancial de informações sobre climas, crenças e opiniões constitutivos da rede de sociabilidade dos intelectuais em Sergipe.
Manuel Armindo Cordeiro Guaraná (1848/1924) formou-se em Direito pela Faculdade de Recife e exerceu funções públicas inerentes à sua titulação – advogado, promotor, chefe de polícia, juiz e desembargador. Depois de aposentado (1905), dedicou-se às atividades associativas de caráter beneficente, religioso e principalmente literário. Dentre essas últimas, mantinha ligações com a Société Academique d’Histoire de Paris (1912). Foi membro dos Institutos Históricos do Ceará (1907) e de Sergipe (1913) e presidente da sub-comissão de bibliografia da Academia Brasileira de Letras no Estado (1922). Essa trajetória do público para o privado, da carreira de Estado para dedicação exclusiva às atividades “acadêmicas” parece ter sido uma constante entre os elementos daquilo que pode ser chamado, em sentido amplo, de elite intelectual sergipana, constatado nas páginas do seu Dicionário. O autor é, pois, um dos "tipos intelectuais" dominantes do período.
A elite intelectual de Guaraná [12]
A elite eleita por Guaraná é constituída por gerações de nascidos entre 1840 e 1900. Nada menos que 73,4 % dos biografados têm origem nesse período e mantiveram-se ativos na política e na atividade literária até o final da década de 1920. Mas nem todos contribuíram com a mesma intensidade ou partilharam experiências no Estado natal.[13] Da mesma forma, somente alguns viveram o suficiente para vislumbrar vitórias de Sergipe como unidade autônoma: o reconhecimento de seus homens de letras, a reivindicação dos limites territoriais, a instalação de representações locais da esfera jurídica e religiosa ou ainda, a inserção da capital no ansiado “estado de civilização”. Os eleitos por Guaraná, que participaram desse “nascimento cultural” das décadas de 1910 e 1920, não contabilizam muito além de uma centena de indivíduos.
Levando-se em consideração a faixa etária, pode-se distribuir esses homens e mulheres em dois grandes grupos: os nascidos nas décadas de 1850/60 e 1880/90. O primeiro grupo, minoritário, tem a existência marcada por eventos fundadores como a patriótica Guerra do Paraguai e a experiência institucional do Segundo Império, as campanhas abolicionistas e republicanas e a tragédia de Canudos (marcos deflagradores de solidariedade e também de revisões na conduta política). As gerações de 1880/90 herdaram marcos fundadores diferenciados que estimularam a discussão de questões estratégicas para o desenvolvimento “moral” e econômico do local. Fomentou-se a construção do nacional em nível científico e, junto a esses, a possibilidade de construir em bases [atualizadas] uma nova ordem política e social tanto em nível de Brasil quanto de Sergipe. As últimas gerações são marcadas, sobretudo, pela crise de auto-estima provocadas pelas intervenções do governo central no processo eleitoral, pelo assassinato das mais importantes lideranças da virada para o século XX, a experiência da 1º Guerra Mundial e pela necessidade de produtos trazidos com o surto industrial.
Apesar das relativas diferenças etárias e de perspectivas, os elementos caracterizadores desses indivíduos como intelectuais não variam muito. Em geral, entre os eleitos de Guaraná, essas pessoas foram selecionadas por sua militância jornalística, pela dedicação à atividade literária – em sentido estreito ou aplicada a suas respectivas áreas profissionais – por serem agentes formadores de opinião nas atividades religiosas, em sala de aula, sociedades de auxílios mútuos, partidos políticos, grêmios, e nos cargos-chave da administração pública.[14] Pelo fatalismo da conservação das fontes ou – mais responsavelmente afirmando – pela forma com que a sociedade estava estruturada no período, os cumpridores do papel de intelectual compõem uma centena de homens e mulheres que no período alvo desse estudo – 1910/1930 alcançavam idade variável entre 35 e 65 anos.
São majoritariamente do sexo masculino, 119 ao todo. As mulheres biografadas por Guaraná[15] contam apenas cinco. Para o cronista Nobre de Lacerda, que escrevia pouco antes da publicação do Dicionário (1924), não eram comuns em Sergipe “mulheres distintas pelos predicados da inteligência produtiva. Tanto assim que através da nossa já um tanto longa existência de povo definitivamente constituído, poucas se apontam cultoras das letras. Das diversas manifestações do pensamento só a poesia tem tido em nosso meio representantes do sexo frágil.”[16] A opinião e o panorama traçados por Nobre de Lacerda parecem um pouco exageradas e refletem, aliás, a postura dominante no código social do período acerca das questões de gênero. De maneira inversa, pensou a profª. Maria Thetis Nunes quando realçou a participação feminina nas lides intelectuais através do jornalismo e atuação dessas como profissionais liberais. Além das biografadas por Guaraná[17], Thetis Nunes aponta a participação da professora e poetisa Etelvina Amália, das professoras Leonor Telles de Menezes e Penélope Magalhães dos Santos, da farmacêutica Cesartina Régis, as dentistas Laura Amazonas, Ester Aranha, Mary Firpo, Maria Anita de Carvalho Leite, Dulce Menezes, Francisca Marsillac, e as advogadas Alice Cardoso e Maria Rita Soares de Andrade.[18] Mesmo se consideradas todas as citadas como intelectuais, triplicando-se tal número para abranger as que não foram registradas, a desproporção em relação ao gênero masculino é simplesmente gritante.
Os intelectuais são migrantes no sentido literal da palavra[19]. Uma característica incorporada positivamente pelos homens de letras durante a passagem do século. Transitaram do interior para a capital do Estado, de Aracaju para Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e desses para outros Estados e países em busca de fortuna financeira, política, ou de reconhecimento como literatos.
O esboço do percurso interior-capital fornece indícios da configuração econômico-política de lugares e famílias constituintes da província de Sergipe na segunda metade do século XIX. Na elite de Guaraná estão representadas vinte e sete cidades com predominância para Aracaju, Laranjeiras e Estância. Em posição pouco mais distante aparecem São Cristóvão, Capela, Lagarto, Maruim e Itabaiana. A freqüência desses nascimentos também é diferenciada. Enquanto Laranjeiras e Estância “produzem intelectuais” por todo o período – 1850/1900 – Aracaju e Maruim vão contribuir intensamente entre 1870 e 1890. Inversamente, São Cristóvão e Capela fornecem muito mais intelectuais nas décadas de 1850 e 1870.
A primeira “migração” é justificada pelas deficiências do aparelho educacional. É certo que a maioria dos intelectuais recebeu o “ensino das primeiras letras” nas próprias localidades onde nasceram. O caminho foi quase sempre o professor particular, o padre, o pai ou o irmão mais velho. Mas para os estudos do secundário a opção viável era mesmo a saída para Aracaju. Pelo menos um terço dos examinados fizeram esse trajeto, e esse contingente tornou-se expressivo após a fundação do Atheneu Sergipense em 1870. O Partenon Sergipense (1879), escola privada sob a direção do professor Alfredo Montes[20], foi a segunda opção mais freqüente dos estudantes em Aracaju. Para os nascidos entre 1850 e 1860, ou simplesmente para os melhor aquinhoados, caminho seguro para o curso secundário foram as escolas de Salvador ou mesmo o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro.
Aqueles que terminavam o curso secundário e por qualquer motivo não prosseguiam nos estudos formais enquadravam-se nas ocupações disponíveis à época, de acordo com as relações familiares que possuíam ou a vocação para adequar-se às conjunturas políticas do Estado. Trabalharam na imprensa como jornalistas, redatores, revisores, tipógrafos; montaram o próprio negócio na área de ensino, vendas ou ainda; iniciaram carreira militar como praça. Foram também funcionários públicos nas funções de contínuos, escriturários, amanuenses, guarda-livros, arquivistas, inspetores, auxiliares de administração em repartições públicas das áreas de saúde, educação, obras, fazenda e segurança.
A segunda migração dos futuros intelectuais também foi motivada pela ausência de instrumentos que permitissem a educação integral dos filhos das “elites”. Em geral, seguiam em busca dos títulos de bacharel os filhos de militares de alta patente, de médicos, advogados, desembargadores e, em menor proporção, de professores destacados por seu saber e clientela. Os pais eram participantes ativos na política local e quase sempre proprietários de engenho. Algumas das famílias foram fundadoras ou mantenedoras de prestígio em suas cidades de origem como os Carvalho, os Fontes, em Itabaiana; Oliveira Ribeiro, Faro, em Laranjeiras; Cruz, Amado, Cardoso, em Estância; Sobral em Japaratuba; Dória em Propriá; Brito em Porto da Folha, e ainda, os Barreto, os Telles de Menezes, e os Rolemberg, dispersos por vários municípios sergipanos.
Estimulados a dar seqüência às atividades dos pais – médico/médico, desembargador/advogado -, ou simplesmente melhorar o status social da família – militar/médico ou advogado, os candidatos ao bacharelado terminavam muito cedo os seus estudos. Mais da metade concluiu pelo menos um curso superior até os vinte e quatro anos e apenas seis dos citados adquiriram o título de bacharel depois dos vinte e nove, havendo casos, inclusive, de formação superior aos dezenove anos de idade. Os cursos escolhidas foram majoritariamente Direito (39) e Medicina (29). Em menor proporção seguiram os sergipanos para os seminários (6), as escolas politécnicas (5) e militares (8).
No início, as opções mais freqüentes, desde as primeiras formações (1870) foram as Faculdades de Medicina da Bahia e a Faculdade de Direito de Recife com leve proeminência da primeira. Os formados nos cursos de Ciências Jurídicas e Sociais, apesar da recorrência predominante da Faculdade do Recife, estudaram também nas Faculdades de Direito do Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto Alegre, São Paulo. Quanto aos pretendentes à carreira de médico, a tendência foi mesmo seguir para a Bahia. Entre esses, a clínica foi a habilitação pretendida em detrimentos de odontologia e farmácia. Os dedicados à teologia estudaram na Bahia, em Maceió e na Universidade Gregoriana de Roma, e os militares, na Escola Militar do Rio de Janeiro.
Na primeira década do século XX, ocorre uma sensível mudança nesse pêndulo entre a influência baiana e pernambucana na formação dos bacharéis. Uma nova tendência é esboçada na década de 1910 quando cresce a participação de estudantes sergipanos nos cursos de Direito da Bahia e mais ainda, do Rio de Janeiro. A ocorrência dessa mudança – ainda no período 1880/1900 foi detectada por Thétis Nunes. Essa autora afirmou que o número de formados, oito em 1892, passou a apenas um, dez anos depois.[21] Sobre a transferência de orientação dos intelectuais sergipanos submetidos às duas zonas de influência – Pernambuco/Bahia –, José Calazans inaugurou uma interpretação original. Para esse historiador, os principais agentes dessa mudança foram o estabelecimento de comunicação regular Aracaju-Salvador-Rio de Janeiro, através da Estrada de Ferro e da recepção diária dos jornais baianos, a morte dos bacharéis formados no Recife, e a nova formação dos estudantes sergipanos na Faculdade de Direito da Bahia.[22]
A vinculação à terra natal, a reflexão sobre questões locais e, em conseqüência disso, a iniciação à atividade intelectual de muitos desses homens começavam ainda na faculdade através da participação na imprensa seja por meio de artigos relacionados à sua futura atividade profissional, opinando sobre os rumos da política nativa, ou ainda, manifestando pendores literários produzindo poemas e relatos de viagem. Mas a produção efetiva só acontecia depois que esses jovens estudantes voltavam a Sergipe com o título, em sua maioria, de bacharel. Os médicos iniciavam carreira na própria área de formação atuando, de forma autônoma, como clínicos, dentistas e farmacêuticos. Freqüentemente disputavam os cargos de comissários, inspetores e delegados de órgãos do governo ligados à saúde pública. Os bacharéis em Direito, em sua maioria, eram logo nomeados promotores públicos em localidades do interior do Estado e, com o tempo, galgavam os postos de juiz municipal e de órfãos, e juiz de Direito. Outros atuavam como advogados. Os militares cumpriam a escalada hierárquica de sua área. Normalmente serviam em vários Estados brasileiros e somente se fixavam em Sergipe após terem sido “reformados”.
O trabalho dos intelectuais
O que há de comum entre todas essas trajetórias, além da militância partidária, da disputa por cargos no executivo, e a atuação no magistério[23] é o crescente cultivo de práticas artístico-literárias seja através das falas, do bate-papo, recital, discursos e conferências, seja através da escrita veiculada em periódicos e livros.
Das falas, restaram apenas os títulos e convites, pouco valiosos, portanto, para os antiquários, mas suficientemente indiciários sobre práticas dos intelectuais e suas estratégias de consagração. Os títulos e convites registrados nos jornais, principalmente de Aracaju, indicam a conferência como um dos gêneros mais praticados. Contabilizei uma centena aproximadamente, mas esse número pode quadruplicar se examinadas de perto o cotidiano de cada associação fundada no período.
Por volta de 1921, havia quem afirmasse que “a espécie oratória das conferências, na maior parte fúteis e insignificantes” já estava completamente desacreditada.[24] Bacharelice ou não, o certo é que foram constantes e funcionaram como instrumentos para difusão de opiniões, atualização de conhecimentos, “verniz social”, reforço da auto estima local. Esses freqüentes encontros entre homens de letras e platéia ocorreram pelos mais variados motivos: festas beneficentes em prol de uma escola, associação ou Revista, as comemorações referentes à tomada da Bastilha, assinatura da Lei Áurea, a Independência do Brasil, a Emancipação de Sergipe. Entre os locais mais freqüentes, além das sedes das diversas organizações, estavam o salão da Biblioteca Pública e do Palácio do Governo, a Escola Normal e os cine-teatros Royal, Carlos Gomes, Universal e Guarani.
Nesse mesmo período, de maneira menos sistemática, poderia se "tocar dedos de prosa", na Praça Fausto Cardoso, um “refúgio a céu aberto, manto tutelar [dos] jovens literatos... parecendo pombos-correio airosamente pousados na Praça de São Marcos, em Veneza”. As reuniões nas calçadas, em fim de tarde, um costume provinciano em vigor até a década de 1950 em Aracaju, eram, provavelmente, momento privilegiado para o comentários sobre novidades literárias mesclados com os temas últimos da política local.[25] Podia-se ainda, como narrou o próprio Oliveira Rocha, usufruir “ao entardecer, debaixo dos galhos da figueira em frente à casa do Desembargador Antônio Teixeira Fontes” das tertúlias dos magistrados, advogados, médicos, engenheiros, jornalistas, políticos e professores.[26] A residência do poeta Garcia Rosa era outro reduto de intelectuais e/ou aspirantes. Na casa ou no sítio do velho mestre, discutia-se de filosofia a literatura, iniciavam-se os vários admiradores do professor nas leituras de Machado de Assis, Taunay, Raul Pompeia, Joaquim Nabuco, Graça Aranha, Euclides da Cunha, Olavo Bilac e de alguns clássicos estrangeiros como Verlaine, Musset, Lamartine, Baudelaire, Montaigne, Rousseau, Antero de Quental, Stendhal, Crocce, Taine e Renan. O poeta foi um verdadeiro guru para várias gerações. Entre os seus tutelados estiveram nada menos que os escritores Amando Fontes, Jackson de Figueiredo, Gilberto Amado, Hermes fontes, Alfredo Cabral, Passos Cabral e o artista plástico Jordão de Oliveira.[27] Também as tertúlias da casa do Cel. Vicente Ribeiro, próspero “capitalista” local, serviam como forte elemento de sociabilidade para um grupo de intelectuais que tencionava destacar-se como a inteligentzia do Estado. Os encontros no sobrado do coronel no principal logradouro da capital eram regados à música e récita e agregavam tanto os produtores locais como artistas e escritores em visita à capital. Não esqueçamos, como esclarece Silvério Fontes, que a essa época, Aracaju “era uma cidade provinciana, obscura, de olhos voltados para as metrópoles distantes, aguardando delas a palavra de ordem sobre os nomes e as idéias a admirar e a seguir.”[28]
Quanto a outras cidades no interior do Estado, não há muitos registros sobre reuniões familiares voltadas para a prática da leitura mas é possível que estas não se distanciem muito da experiência do desembargador Gervásio Prata (1886/1968) que costumava reunir-se com outros bacharéis da cidade de Lagarto onde trabalhou como juiz. A "mansão" ou o "gabinete" eram o local das palestras. O movimento da feira próxima completava o cenário. Rememorando a década de 1910, Gervásio Prata afirmava que discutiam-se os mais variados assuntos, "dos reservados ou triviais aos da ciência nos livros e revistas chegados da França"... Os livros de ciência, continua o desembargador, "perfaziam o tempo sem ter melhor. Possuía catálogos de algumas livrarias, na França e por eles escolhia as minhas preferências... Assinava L'Ilustration e a Révue philosophique. Entre o pedido e a recepção, o prazo não excedia dois meses." Isolado dos grandes centros urbanos e de suas instituições os intelectuais faziam da leitura sobre filosofia e ciência, portanto, uma prática confessadamente amadorística.[29]
Outro ponto de convergência dos intelectuais, local de trocas entre iniciantes e veteranos em assuntos literários, científicos e políticos, eram as redações dos jornais. Nesse tipo específico de periódico registravam-se os convites, o resumo das falas, as críticas e réplicas das conferências. Era, portanto, o veículo por excelência de divulgação e a principal instância de consagração dos intelectuais até meados da década de1910, pelo menos até a fundação do IHGS em 1912. Para Gilberto Amado “a importância que tinham as ‘letras’ em Sergipe [na primeira década desse século] era considerável. Fazer versos, publicar versos, aparecer nos jornais, constituía preocupação de muitos, velhos e moços. O autor ao atravessar a rua era apontado: – Publicou hoje um artigo”.[30]
No início dos anos vinte, eram raros os livros de autores nativos e o movimento editorial, incipiente. Mesmo em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo o “surto editorial” só aconteceria nos anos 1930 após a fusão de várias editoras, transformações no maquinário, nas formas de investimento, especialização da mão-de-obra e mudanças no sistema de ensino.[31] Em Aracaju, as opções para a publicação de livros esgotavam-se nas próprias oficinas dos periódicos. Tolhidos pelas deficiências técnicas, grande parte dos que se aventuraram a publicar os seus escritos, fossem eles de qualquer natureza, o fizeram através das principais casas editoras do Rio de Janeiro como a Laemert & Cia., Francisco Alves e as tipografias de O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil e Jornal do Comércio.
Um outro fator para a escassa produção de livros, obras orgânicas, bem mais significativo por sinal, era a própria identidade polígrafa dos homens de então. Ainda é cedo para relacioná-los aos “anatolianos” de Sérgio Miceli. Não se pode afirmar que os escritores sergipanos “se esforçavam por satisfazer a todo tipo de demandas que lhes faziam a grande imprensa, as revistas mundanas, os dirigentes e mandatários políticos da oligarquia, sob a forma de críticas, rodapés, crônicas, discursos, elogios, artigos de fundo, editoriais, etc.”.[32] Mas certo é que tanto “o grau incipiente de diferenciação do mercado cultural”, a produção em horas de folga, como a formação bacharelesca da maioria fizeram com que esses intelectuais exercitassem variados gêneros ao mesmo tempo e em poucas oportunidades se detivessem em trabalhos de grande fôlego.
Apesar dessas insuficiências pode-se observar que já no início do novo regime, em Sergipe, há preocupações em incentivar a produção “literária” e “científica” local. A Constituição Estadual, promulgada em 18 de maio de 1892, contém, em seu artigo 83, uma espécie de embrião sobre “direito autoral”. Todavia, a efetivação do mecenato estatal em matéria de publicações somente será legitimada em 1904 com a lei que autoriza a impressão anual de uma obra de autor sergipano residente no Estado. Esse dispositivo previa o julgamento dos trabalhos através de uma comissão composta de cinco membros. Ao vencedor caberiam quinhentos exemplares seis meses após finalizado o concurso.[33]
Os resultados dessa iniciativa são ainda desconhecidos. Sabe-se apenas que três anos depois, 1907, a Assembléia Legislativa autorizou o governo a imprimir as obras didáticas e literárias do professor, escritor e também parlamentar Severiano Cardoso (1840-1907). Talvez a intimidade do autor com várias instâncias do poder (camarista em Aracaju, Deputado por duas legislaturas, oficial de Gabinete do presidente Pelino Nobre) e o valor estético da sua obra que abrangia teatro, poesia e biografia tenham sido determinantes para esse ato, até mais que as próprias intenções de aplicação da lei do mecenato.[34]
Na segunda década desse século, os incentivos do governo estadual tornaram-se mais freqüentes principalmente nas ocasiões em que o “espírito patriótico” envolveu o movimento intelectual configurado nas comemorações do centenário de emancipação política do Estado (1920) e na questão de limites com a Bahia. Se tal “espírito” espraiou-se por vários setores da sociedade, é preciso também não omitir que esse “sentimento” foi, em vários momentos, construído pela ação individual de administradores “ilustrados” e Gracho Cardoso é o exemplo mais apropriado. Era sua intenção que o Estado dispusesse de uma bibliografia sergipana, reunindo títulos esgotados de autores como Coelho e Campos, Pedro Calazans, Fausto Cardoso, Felisbelo Freire, Manuel Curvelo de Mendonça e Ivo do Prado.[35] Marcando esse período, entre as vésperas do Centenário e o final da administração Gracho Cardoso, estão a publicação das Obras completas de Tobias Barreto,[36] organizadas por Manoel dos Passos de Oliveira Telles, Pela imprensa e pelo povo, do jurista Gumersindo Bessa, Minha gente e Álbum de Sergipe, de Clodomir Silva, História dos Limites entre Sergipe e Bahia, de Francisco Carvalho de Lima Júnior (1859/1929)[37] e o já citado Dicionário biobibliográfico sergipano[38].
Especificamente sob a rubrica de historiografia, além das três últimas obras relacionadas no parágrafo anterior e tornadas clássicas para a historiografia sergipana, em Aracaju, pouco mais de uma dezena de livros foi editada até 1930. Acrescentando-se os trabalhos mesclados história/geografia, sociologia/geografia, esse número pode chegar a vinte obras. A maior parte dessas foi composta e impressa nas oficinas da Imprensa Oficial, ou da Tipografia de O Estado de Sergipe. Pelo menos 40% foram produzidas entre 1916 e 1922. A questão dos limites com a Bahia e o centenário da emancipação do Estado, mais uma vez, foram a tônica das pesquisas e publicações.
Quanto aos jornais da capital, entre 1910 e 1919 circularam aproximadamente 72 veículos com funções e público diverso: comercial, literário, artístico, noticioso, recreativo e principalmente político; vespertinos, hebdomadários, mensais e quinzenais. Observando-se o inventário produzido por Clodomir Silva,[39] pode-se concluir que da primeira para a segunda década não há alteração no número de títulos, mas verifica-se maior longevidade e aumenta o número de folhas diárias. Na década de 1920 esse panorama começa a ser alterado. A atividade jornalística se dinamiza e chegam a circular na capital, somente em 1924, treze títulos diferentes, entre esses, quatro jornais diários. Melhorias na qualidade técnica e um maior poder de comunicação das matérias também marcam os periódicos desse período.[40]
Muitos desses jornais tiveram vida efêmera e/ou circulação irregular. A maior parte autodenominava-se noticioso, comercial e político (com inversões nessa ordem). No período 1910/1920 contam-se cinco os jornais classistas e quantidade idêntica para os “literários”. Esses últimos, majoritariamente hebdomadários, foram fundados entre 1915 e 1919 (excetuando-se o Diário da Manhã, político, literário e noticioso originado em 1911). Declararam-se, portanto, “órgãos literários” O Século XX (1916/20/27), A Alvorada (1915), O Hélio e O Paladino ambos em 1919. Deve-se acrescentar ainda O Acadêmico (1928) embora seja O Século XX o mais representativo da categoria tanto pela quantidade de matérias, perenidade dos temas quanto pela especificidade dos intelectuais que contribuíram para sobrevivência desse periódico.
A despeito do reduzido número de folhas com tais características, pode-se notar que as expressões literárias stricto sensu estavam distribuídas em periódicos de toda espécie e principalmente nos jornais de cunho “político”, os mais regulares das décadas em estudo. O uso dos diários para a divulgação de produtos estritamente literários tem justificativas óbvias. Para José Ibarê da Costa Dantas, talvez o pesquisador de maior intimidade com os periódicos do período republicano, “o jornal se apresentava como um dos meios mais efetivos para exercer influência”. Certamente, estão nos jornais os registros mais significativos: os produtos que permitem esboçar um rápido panorama da reflexão sobre filosofia, sociologia, literatura, história e geografia em Sergipe.
A sociologia, até o momento da pesquisa, aparenta contar apenas com um representante: o acadêmico de Medicina Florentino Menezes. Odiada pelo intelectual-mor, Tobias Barreto, e cultivada por Silvio Romero, a sociologia parece não ter encontrado terreno fértil em ambiente dominado por alunos e admiradores do fundador da Escola do Recife. Seja essa a hipótese mais provável ou não, o fato é que nos periódicos da época, apenas os artigos de Florentino Menezes assumem a rubrica, tratando de problemas relativos à divisão territorial do país, os motivos do seu atraso e veiculando propostas para um desenvolvimento material e intelectual do povo brasileiro. Artigos, inclusive, que geraram livros de reconhecimento do exterior como o Estudo Corográfico e Social do Brasil (1912) e Leis de Sociologia Aplicadas ao Brasil (1913) premiados pela Academia Latina de Ciências, Artes e Letras de Paris.[41]
Através dos estudos etnológicos ou antropológicos fizeram incursões Manoel dos Passos de Oliveira Teles (1859/1935) com as monografias Ao romper do século XX: o município de São Cristóvão (1907) e O território sergipense e a sua função histórica (1916) e Prado Sampaio (1865/1932) principalmente em A literatura em Sergipe: estudo etnopsicológico (1908). Ambos os autores, influenciados pelo trabalho de Silvio Romero, abordaram a matéria como forma subsidiária ao estudo da história e literatura sergipanas, respectivamente.[42] Para José Calazans, na década de 1920, não houve quem tenha investigado com mais vigor a “poranduba” sergipana que o pesquisador Clodomir Silva (1892/1932). Minha gente (1926) foi sua obra de destaque. Nesse trabalho estão recolhidos exemplares da poesia e da linguagem popular cultivados pelo sergipano. Discípulo confesso do folclorista cearence Leonardo Mota, Clodomir trabalhava através da coleta direta e apresentação dos resultados em conferências. Além dos autores já citados, Calazans aponta ainda como divulgadores da “cultura de folk” em Sergipe os coletores de lendas, professor Severiano Cardoso (1840-1907), cantigas e expressões, Alberto Deodato (Senzalas – 1919 e Canaviais – 1922) e, por fim, o manuscrito inédito de Serafim Santiago, Anuário Cristovense.[43]
Os trabalhos que enfocaram Sergipe sob perspectiva especificamente geográfica, excetuando-se os artigos sobre limites Sergipe/Bahia, podem ser encontrados nos jornais sergipanos em um reduzido número de textos assinados pelos mesmos autores anteriormente citados: Joaquim do Prado Sampaio, Geografia Social Sergipana[44], Francisco Soares de Brito Travassos, “Japaratuba: notícia geográfica”[45] e Manuel dos Passos de Oliveira Telles com os comentários acerca de Geografia Clássica de I. F. Tozer[46]. Cabe lembrar que esse último é citado por Guaraná como tradutor da Geografia Física de George Gore e de outra obra homônima produzida por Archibal Geikie.
Os textos assumidamente historiográficos têm Sergipe como espaço privilegiado e particularmente as cidades de Aracaju, Campos, Vila Nova, Propriá, São Cristóvão e Anápolis. Os jornalistas historiadores quase sempre estiveram envoltos em questões do Império ou do período de transição Império/República. Pouco avançaram sobre o seu próprio tempo ou fizeram recuos até à colônia. Foi o passado recente que os interessou.
Um passado recente onde o motor da experiência humana continuou sendo a ética de indivíduos exemplares. Essa idéia está representada no quantitativo sobre os gêneros praticados. Nesse sentido, como expressão majoritária, a biografia segue tipo imbatível. Para completar a equação cientificista em voga, recorreu-se freqüentemente a uma história da formação, uso e posse dos espaços e o exemplo por demais citado é a história dos limites entre Sergipe e Bahia. Também, e sobretudo nos jornais, o tema do espaço sobrepõe-se às questões religiosas, literárias, administrativas e militares.
A historiografia é um tema destacado nesses artigos. Mas a despeito de igualar-se em quantidade aos textos sobre a experiência do político, não aparenta ser prática geral entre os articulistas a auto-reflexão sobre o fazer historiográfico. Apenas um autor demorou-se em divulgar e dar como exemplos-padrão de narrativa as obras de historiadores tornados clássicos como Vico, Niebhur, Momsem e Buckle. A "História universal", publicada em sete partes entre abril/maio de 1910, é o esboço de uma memória que seria apresentada à congregação do Ateneu. Os artigos de Alfredo Cabral ganham mais importância ainda pelo esforço em narrar a trajetória da disciplina desde a Antiguidade até o século XIX, abordando questões-chave como o objeto, a idéia de tempo histórico, o avanço do método, os fins e os projetos cientificistas em voga aplicados à historiografia.[47]
Além de Alfredo Cabral, entre as três dezenas de autores localizados, os destaques pela declarada preocupação com o ofício do historiador ficam por conta de Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior, Manuel dos Passos de Oliveira Telles, Joaquim do Prado Sampaio, Rafael Arcanjo Montalvão e Elias Rosário Montalvão. São esses historiadores os que mais publicaram no período. Aqueles de quem se vai também ouvir falar muito em termos de produção em verso e na reflexão filosófica no Estado. O período em que floresce esse tipo de atividade localiza-se entre os anos 1912 e 1919, fase onde foram produzidos dois terços de todos os títulos coletados entre 1902 e 1924. É também o período de expansão da imprensa sergipana ainda que no todo, apenas os grandes periódicos, os diários de caráter político, noticioso, tivessem abrigado a maior parte dos artigos. Esse foi o caso de O Estado de Sergipe, periódico oficial que abriu espaço para diversos autores entre 1902 e 1916, e, principalmente na década de 1920, os jornais Correio de Aracaju e o Diário da Manhã.
Também nos jornais os intelectuais se revelaram poetas e prosadores, “viveram em contatos uns com os outros, criando tradições literárias definidas.” A produção do período foi classificada por Jackson da Silva Lima como de orientação neo-parnasiana estendendo-se essa fase de 1910 à 1928. Na época, “entram na liça os primeiros modernistas de verdade, deferindo os golpes iniciais as cidadelas de marfim. Nesse mesmo ano, aglutinam-se os da velha guarda na 'Hora Literária', donde três anos mais tarde, nasceria a Academia Sergipana de Letras.”[48]
A “velha guarda” a que se refere Jackson Lima, reúne principalmente os nascidos nas décadas de 1850/60 a exemplo de Justiniano de Mello e Silva, João Pereira Barreto, Deodato Maia, Joaquim do Prado Sampaio, Manoel dos Passos de Oliveira Telles e Francisco A. de Lima Júnior. Quanto aos debutantes de 1880/1890, como Florentino Menezes, Gilberto Amado, Clodomir Silva, Sebrão Sobrinho, Jackson de Figueiredo, o traço que vai prevalecer na sua produção em verso é majoritariamente a experiência simbolista que se estende de 1896 até o final da década de 1920. Os moços, os modernistas de 1928, pelo menos em nível de trânsito, honrarias pode-se afirmar que pouca e/ou reduzidíssimas foram as suas influências e repercussão na grande média do período.[49]
A “velha guarda” também foi responsável pelos estudos filosóficos no Estado. Ao longo das três primeiras décadas desse século ela esteve quase sempre dividida entre manifestações cientificistas e espiritualistas, embora houvesse casos de mudança de posição e até fusão das duas propostas.
O mote principal para esse debate foi uma herança das últimas décadas do século XIX. Para Jackson da Silva Lima,[50] o espiritualismo (católico ortodoxo) se estruturou em Aracaju (1871) com um ex-aluno do Frei Itaparica, o professor Brício Cardoso. Pouco tempo depois, em 1876, o médico Guedes Cabral, recém-chegado da Bahia, propagava teses materialistas, sustentando polêmicas com religiosos em Laranjeiras. Outra forte herança, ainda no século XIX, tem origem na proeminente posição alcançada por Tobias Barreto no início da década de 1880 entre jovens estudantes das faculdades de Medicina da Bahia e de Direito do Recife. “A publicação de A filosofia no Brasil (1878), de Silvio Romero, e o destaque dado à obra tobiática nessa área de estudos, possibilitou a Ernesto Haeckel, em carta ao seu conterrâneo e amigo Karl von Koseritz, residente no Rio Grande do Sul, manifestar-se de maneira entusiástica sobre a figura intelectual de Tobias Barreto (...) A notícia ganhou logo as ruas e o fato tornou-se lenda.”[51]
Assim, Fé e ciência deram rumos ao debate filosófico no período em estudo. Excetuando-se as duas polêmicas provocadas por Ávila Lima, “que se restringiram ao campo científico propriamente dito... as demais trazem a marca da religiosidade, antepondo-se à crença espiritual, retrógrada por natureza, ao conhecimento científico, de essência progressista.”[52]
As querelas de Ávila Lima, citadas por Jackson da Silva Lima, tematizaram principalmente a distinção entre ciência e filosofia, a defesa do monismo haekeliano (1909/1910) e as concepções teórico-metodológicas sobre pedagogia (1914). As disputas e comentários mais comuns, freqüentemente produzidas sob pseudônimos,[53] envolveram alguns membros do discipulato da geração 1870: Rodrigues Dória, Helvécio de Andrade, Gumercindo Bessa, Manoel dos Passos de Oliveira Telles, Prado Sampaio, Florentino Menezes, Ávila Lima e Costa Filho – entre os cientificistas, e Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior, João de Matos Freire de Carvalho e João Pereira Barreto, pelo lado espiritualista. O monismo de Haeckel, as doutrinas de Lamark e Darwin foram freqüentemente avaliados, elogiados e/ou contestados através de várias séries de artigos. O ponto central dessas questões (fé/ciência; Deus/natureza) apenas modificou-se, formalmente, com a emergência da propaganda socialista em 1918 (Centro socialista/Diocese de Aracaju) e dos conflitos intrareligiosos, envolvendo periódicos oficiais dos católicos e dos protestantes (A Cruzada/O Cristão).
Apesar dessa variada produção, da discussão sobre filosofia, das experiências simbolistas, parnasianas e neo-parnasianas, há quem considere a qualidade do produto veiculado nos jornais sergipanos bastante incipiente. Em 1908, traçando um panorama da vida intelectual em Sergipe, Prado Sampaio chegou a afirmar que “quem vive entre nós em regra escreve para nós (...) A jornalística indígena não se fez um órgão de expansão, nem adquiriu ainda a força intensiva de que há mister para apresentar ao espirito nacional o vibrante documento do espirito sergipano.”[54] O autor mostrava-se àquela época, bastante céptico em relação à imprensa sergipana que insistia em não assumir o seu papel de estimuladora do progresso sócio-econômico do Estado. A atividade jornalística estava dividida entre o partidarismo exacerbado e a completa falta de opinião em questões relevantes para a sociedade no final da primeira década dos novecentos. Vinte anos depois, portanto, a situação parece ter mudado e a avaliação do autor tornou-se positiva. Considera que a imprensa “vae-se tornando uma força de expansão no intercâmbio das ideias. E o jornal, o livro e as revistas surgem em melhores condições como atestados da nossa actividade intellectual. Junto à estruturação da Biblioteca Pública, o incremento da educação primária e a introdução do ensino técnico, anuncia Prado Sampaio uma nova fase “de alentado revigoramento e largas esperanças.”[55]
O cepticismo inicial de Prado Sampaio aponta indícios de que o papel dos periódicos, a “influência” científico-literária dos jornais, mencionada parágrafos atrás, vai além da estratégia de consagração literária. Ela é especificamente político-partidária. Esse poder de “influenciar seus leitores no calor da hora”[56] forneceu ao historiador Ibarê Dantas a possibilidade de identificar três fases distintas na imprensa sergipana: “Durante o período de 1900 a 1911, os jornais refletiram divergências das principais forças políticas do Estado, envolvendo grande parcela da população nas polêmicas exacerbadas.(...) a da segunda década foi marcada pelo acordo incondicional e pelo governismo (...) de 1911 a 1920 predominou o elogio fácil e estéril ou, quando muito, a indiferença tácita.”[57] No início da década de vinte, apesar da renovação dos grupos diretores, os jornais permanecem governistas em sua maioria.[58] Não sem razão encontram-se nas redações dos jornais os dois tipos comuns de animadores culturais do período: o mecenas e experto; o dono do jornal e o ágil redator em busca de prestígio entre os grandes mandatários. Os mesmos personagens que consagrar-se-ão no IHGS nos anos 1910 e 1920.
Além de veículo político-partidário e literário a imprensa cumpria importante papel transmitindo informações de fatos externos a exemplo das notícias sobre a Primeira Guerra Mundial e a revolução bolchevista. Para Ibarê Dantas, essa prática “introduzia novas idéias que, uma vez assimiladas, fomentavam tomadas de posição.” Assim foram difundidas a propaganda socialista, a campanha civilista (pró Rui Barbosa), o movimento operário pela redução das horas de trabalho (1918/1919), e a propaganda pelo voto secreto (1923).[59]
Os jornais também abriram amplos espaços para temas cotidianos como o custo de vida, as deficiências dos serviços básicos de saneamento, problemas da instrução pública e particularmente do analfabetismo. O combate ao analfabetismo era um tema estrutural, ligado a uma necessidade superior: uma busca frenética pelo desenvolvimento econômico. Esse último, sendo o legitimador do lugar de Sergipe entre os “povos” civilizados.[60] A idéia de progresso estava disseminada entre os intelectuais do período. E não nascera de ontem. Fora herdada do final do século XIX e incorporada paralelamente ao surto industrial no Estado no início desse século. O próprio Prado Sampaio, afirmou que os sergipanos estavam “condenados à civilização, e o dilema [era] este, o comum a todos os grupos ethno-psychologicos: ou progredimos ou desapareceremos.”[61] Outra preocupação estrutural, veiculada pelos periódicos, foi a reorganização do Estado brasileiro, as reivindicações por maior representatividade – o conflito entre o velho centralismo do Império e a quimera federalista da República Velha, entre uma “pátria nacional” e uma “pátria local”. Algumas dessas questões, deflagradas na produção da imprensa, podem ser melhor visualizadas nos mais importantes testemunhos de organização dos intelectuais, nos pilares das instituições fundadas entre as décadas de 1910 e 1930.
Equipamentos e formas de organização dos intelectuais
Os indícios das falas e o exame da produção jornalística desse período demonstram que o espírito “socialista” foi progressivamente cultivado nas duas últimas décadas da República Velha no Estado de Sergipe. Partindo da colaboração em periódicos, pequenos experimentos em ambiente familiar, nas tertúlias vespertinas e em eventos cívicos, os intelectuais agruparam-se aos poucos, segundo circunstâncias familiares ou político-partidárias, em agências de cunho recreativo (teatrais, filarmônicas, esportivas), beneficente (fraternais, mutualistas), político (partidos, clubes) ou de instrução (educação, científico-literárias).
Especificamente sobre essa última espécie de agremiações, as científico-literárias, pode-se afirmar que não foram prerrogativas do início desse século. Desde as primeiras conferências públicas, instituídas em Aracaju[62] que a capital vinha conhecendo as experiências do Gabinete Literário Sergipano (1871),[63] Gabinete Literário Tobias Barreto (1889), e do Clube Literário 24 de Julho (1898), presidida pelo jovem Laudelino Freire. Epifânio Dória chegou a falar em "calor bibliotecófilo" para justificar a proliferação desse tipo de equipamento no terceiro quartel do século XIX.[64] No início do XX o entusiasmo das "campanhas contra o obscurantismo" continuaram com a instalação do Clube Esperanto (1907),[65] do Centro Literário Educativo (1914)[66] além de outras instituições das quais não se têm notícia sobre o início dos trabalhos como Gabinete Literário de Aracaju e a Sociedade Ensaios Literários. Entretanto, não é difícil perceber que ao se aproximar o final da década de 1910 as atividades associativas na capital foram se tornando cada vez mais intensas e especializadas.[67]
A primeira dessas sociedades intitulou-se Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Fundado em 1912, sob a tutela de desembargadores e capitalistas de peso, a primeira instituição assumidamente científica do Estado arvorou-se na missão de coletar e divulgar fontes bibliográficas, manuscritas, arqueológicas e etnográficas que subsidiassem a historiografia sobre Sergipe. Seus estatutos prescreviam a finalidade de organizar um “museu de história” e uma biblioteca, escrever biografias e publicar uma Revista. Era, portanto, uma instituição preocupada com a memória e o registro escrito da experiência dos sergipanos habitantes do espaço territorial reconhecido como Sergipe.[68]
Os trabalhos literários stricto sensu, a prosa amena, o cultivo da poesia tinham outro endereço: eram as “horas”, “centros” e “grêmios” que se encarregavam de tais práticas. E foram tão numerosas quanto efêmeras. Jordão de Oliveira cita pelo menos quatro agremiações com as quais colaborou aos domingos, provavelmente entre 1916 e 1920: as horas literárias “Silvio Romero”, “Tobias Barreto”, “Fausto Cardoso” e “Gumercindo Bessa.”[69] As agências que possuíram uma existência relativamente duradoura e onde o testemunho textual permitiu algum esboço frutificaram principalmente no período 1919/1929.[70] Entre esses anos, por exemplo, situaram-se as experiências da Academia Literária Santo Tomás de Aquino e a Hora Literária General Calazans, coincidentemente com origem no mesmo ano de 1919.
A Hora Literária General Calazans, fundada em 1º de abril, incluía nos estatutos, como desiderato principal, a promoção e o “cultivo da língua pátria” e a luta pelo “desenvolvimento literário e artístico de Sergipe.”[71] Essa sociedade, que planejava atuar através de palestras, preleções sobre língua portuguesa e intercâmbio com outros centros literários do Estado, nasceu sob a marca do mecenato do “capitalista” José da Silva Ribeiro. O nome escolhido para a instituição, homenageia o “republicano histórico” José Calazans (1863/1948), primeiro presidente constitucional do Estado no novo regime.
Silva Ribeiro Filho, um dos seus principais freqüentadores, informou que a Hora Literária “possuía biblioteca, fichários, pequenino museu de arte sacra e profana”.[72] Esse mesmo membro afirma que a sociedade passou por duas fases: “a do centro da cidade e a da colina que domina o rio Sergipe.” No primeiro período, estava sediada na residência do Coronel José da Silva Ribeiro, à rua Japaratuba – hoje João Pessoa. Nesse local, ocorreram muitas das mais importantes reuniões lítero-musicais da capital. As poucas informações encontradas a esse respeito somente se referem á segunda fase da instituição. Mas talvez não diferenciem muito da época de fundação. As práticas abrangiam as récitas, recepções de novos sócios, inauguração de retratos, homenagens a visitantes ilustres da cidade – escritores e artistas.[73]
Na segunda fase, a entidade mudou o nome para “Hora Literária Santo Antônio”. Desse período há notas sobre o seu empenho em comemorar fatos como o centenário do Uruguai e o martírio de Tiradentes. Também há informações sobre a composição social. Seus membros constituíram-se nos mais representativos poetas das décadas de 1910 e 1920 como: Garcia Rosa, Helvécio de Andrade, João Cabral, Clodomir Silva, Manoel dos Passos de Oliveira Telles, Prado Sampaio e Pires Wynne. Padres, parlamentares e profissionais liberais formavam o perfil da sociedade que mais tarde se transformaria na Academia Sergipana de Letras.
Uma das características que mais chamam a atenção na formação do quadro social é a forte participação feminina nos destinos da instituição. Na eleição de 1926, por exemplo, o efetivo de mulheres somava 10 entre os 23 membros da diretoria. Elas estavam presentes nas comissões de “Orçamento e finanças” e “Donativos e interesses externos”. Também exerciam funções de 1ª secretária, tesoureira e bibliotecária. Coincidência ou não, os postos da “comissão de sindicância”, uma espécie de “controle de qualidade” das aquisições para sócios, dos trabalhos a serem publicados ou lidos na “Hora Literária”, eram dominados por homens (pelo menos em 1926/1927) como o farmacêutico Silvério Fontes, o “capitalista” Thales Ferraz e o almirante Amynthas Jorge.[74]
De modo inverso, em reduto totalmente masculino, instalou-se, em 1919, o “Grêmio Literário de Santo Tomás de Aquino. Ainda no mesmo ano, o “Grêmio” recebeu regimento e passou a intitular-se “Academia.” Para a sua criação foi determinante a participação do Monsenhor Adalberto Sobral, Reitor do Seminário Diocesano do Sagrado Coração de Jesus, que estimulou vários clérigos e seminaristas a construírem uma instituição destinada ao cultivo das letras, mas secundados pela ética da Igreja Católica em Sergipe.
A primeira reunião ocorreu em 20 de abril[75] e a instalação definitiva em 1º de junho do mesmo ano. A academia mantinha sede no Seminário Episcopal e as reuniões festivas no Salão Bento XV à rua Itabaiana (1922). Ao julgar pela programação de posse da diretoria em 1928, suas atividades rotineiras constituíam-se de apresentações de poesias, monólogos, discursos e conferências que contribuíssem com o “desenvolvimento intelectual, moral e social dos jovens” que a compunham. Esse “desenvolvimento intelectual” foi estimulado principalmente com a “fundação” de uma biblioteca dotada de gabinete de leitura acessível a todos os alunos do Seminário. Além do cultivo das letras, a Academia empregava parte da sua rotina na comemoração de datas cívicas locais como o 24 de outubro, 8 de julho – referentes à emancipação política de Sergipe – e nacionais – o 7 de setembro e o 13 de maio.[76]
O primeiro grupo diretor da Academia Santo Tomás de Aquino era composto por pessoas que se destacariam depois na sociedade sergipana como: os futuros cônegos Domingos Fonseca de Almeida e Carlos Camélio Costa, o futuro padre de Porto da Folha, Antônio de Freitas e os egressos do próprio Seminário José Olino de Lima Neto e Porfírio de Brito. Conta um articulista que a instituição esteve em franca atividade entre 1919 e 1925. Com a saída de uns doze dos seus sócios para “ganhar almas para Deus” o ritmo foi diminuindo sensivelmente. Em 1929, quando o Seminário estava sob a responsabilidade do citado Carlos Camélio Costa, a Academia estava “marchando francamente pela estrada do Progresso” e a sua diretoria, sempre presidida por um clérigo, compunha-se dos seguintes nomes: Edgard Brito, Antônio Padilha, Augusto Melo, Luiz Medeiros, José Machado, Geraldo Barbosa e Gervásio Feitosa.[77]
O esforço para dinamizar as atividades da Academia em 1928 fez ressurgir também o seu órgão de divulgação O Acadêmico. O mesmo objetivo do grêmio católico – a formação moral e intelectual – estava expresso nas páginas desse jornal: “luctar contra todos aqueles que cerrando os ouvidos aos ensinamentos santos e sublimes da sã e confortadora sciencia, enchafurdaram-se no lamaçal pútrido do crime, da ignorância, do erro e do analphabetismo, e em uma palavra, propugnar e difundir a virtude, o bem e o bello.”[78]
O espírito associativo e o esforço dos intelectuais em participar do movimento incessante do progresso estimularam o governo a apoiar a “atividade intelectual” e reduzir os baixos níveis de instrução da população em geral. Essas demandas sociais, aliadas a alguns casos de afinidade entre intelectuais e administradores, ou à participação de políticos “ilustrados” nos cargos majoritários, fez com que o governo atacasse o problema do “atraso cultural” em duas frentes: para a massa da população construiu escolas de ensino elementares. À classe média foi prometida a reestruturação de equipamentos essenciais para a produção científico-literária como biblioteca, teatro e museu. De todas as realizações no período 1900/1930, parece ter sido o reaparelhamento da Biblioteca Pública Estadual a mais relevante contribuição estatal para o movimento intelectual da terra.
A Biblioteca já havia sido instalada[79] em 1851, na antiga capital São Cristóvão, juntamente com uma seção de Arquivo. À instituição, além da guarda e serviço do acervo bibliográfico, foi atribuída a esclarecida missão de recolher informações sobre a história, o desenvolvimento econômico e administrativo de Sergipe. Mas o efetivo e estratégico papel de instrumento civilizador foi somente adquirido com o governo republicano, encarnado pelo historiador Felisbelo Freire. Em sua administração (1889/1890), a reorganização da Biblioteca ficou a cargo dos intelectuais Antônio Carvalho Lima Júnior e Josino Menezes. Ambos contribuíram para o dinamismo da instituição, providenciando a confecção de catálogo e o aumento do número de títulos. Assim, a instituição foi ganhando maior importância no circuito intelectual do período. De 872 leitores/ano em 1890 atingiu a marca de 6.186 em 1912. Em 1913 a instituição tornou-se independente da Secretaria de Governo, foi reorganizada administrativamente e ganhou novo prédio (1914).[80] Nesse mesmo ano, o acervo, que já contabilizava quinze mil volumes, recebeu substancial aumento com as centenas de doações efetuadas pelos intelectuais sergipanos moradores ou não do Estado.[81] A ampliação do acervo se deu principalmente através do investimento público com a aquisição das bibliotecas do historiador Felisbelo Freire (1914/1917),[82] dos juristas Gumersindo Bessa (1915) e Dionísio Teles de Menezes[83] e de obras da biblioteca de Silvio Romero (1919).[84]
A Biblioteca Pública apresentava-se como uma espécie inicial de uma “política cultural” para o Estado. Sua dotação orçamentária estava destacada da rubrica “Instrução pública”, desde 1918. Os gastos com a instituição, que em 1917 significavam 1,1% em relação à Instrução pública foram aumentando progressivamente até atingir 4,5% em 1929.[85] A partir de 1917 a legislação também já autorizava a subvenção estatal a algumas sociedades de caráter científico e literário como o IHGS. Cinco anos depois, seis sociedades já eram contempladas com o mesmo benefício. Estavam fixados como despesas as subvenções ao IHGS, Liga Sergipense contra o Analfabetismo, Centro Sergipano (RJ), Centro Operário, Clube Literário Silvio Romero, e o Gabinete de Leitura de Maruim. Apesar da “concorrência”, os gastos com a Biblioteca Pública superaram todas as dotações estabelecidas para o conjunto dessas associações. Isso vale para todos os anos em que essa comparação é permitida.
Os investimentos aplicados na Biblioteca não decorreram somente do crescimento do número de leitores e do surto modernizador verificado na capital por toda a década de 1910. A longeva administração de Epifânio da Fonseca Dória também foi responsável pela transferência de recursos e pela manutenção do acervo organizado e relativamente atualizado. Além do prestígio junto à comunidade letrada, que rendeu muitos frutos à Biblioteca, o interesse colecionista do Diretor e a sua preocupação com a memória do Estado acabaram por refletir-se no perfil da instituição[86]. Para Epifânio Dória “as bibliotecas de caráter geral como a nossa, que não fazem seleção de autores nem de leitores na missão a que se votaram, devem colecionar tudo que sair dos prelos ou da pena dos escritores. (...) É ouro de raro quilate que se armazena para as gerações que nos sucedem séculos adiante. Agora que celebramos o nosso primeiro centenário de vida autônoma é que estamos observando quão pouco fizeram neste sentido os nossos antepassados.”[87] Assim, procedia Epifânio, colecionando tanto os clássicos da literatura como os periódicos de “mero reclamo comercial” (Revistas Brasil e Souza Cruz, Almanaques Bristol ou Ayer).[88]
Mas o afã colecionista orientado à prática da pesquisa histórica através de "fontes primárias" parece ter interessado apenas a uns poucos abnegados como o próprio Epifânio. É certo que o movimento dos leitores da Biblioteca ainda não foi alvo de estudos e que os livros de registro pouco expressam sobre práticas de leituras. Mas é certo também que a insuficiência da perquirição durante a década de 1910 prossegue como hipótese bastante plausível acerca dos diferentes destinos tomados pela Biblioteca e pela Seção de Arquivo dessa instituição. Além de não funcionar como coletora sistemática da documentação administrativa produzida pelo governo, a referida seção, que ganhou foros de independente em 1926 para voltar meses depois à condição de agregado à Biblioteca Pública, só viria a possuir uma política arquivística no início da década de 1970 após a intervenção dos professores do Departamento de Filosofia e História da UFS e da Secretaria Estadual de Educação.[89]
Todavia, se não chegou mesmo a dinamizar a pesquisa histórica no Estado, a Biblioteca foi um importante “instrumento civilizador” no período em estudo. Além das atividades de estímulo à leitura e à preservação de bens culturais móveis, a instituição funcionou como palco principal dos eventos ligados ao civismo e à instrução pública. Para o seu salão convergiu, principalmente entre 1918 e 1922, numeroso público freqüentador de conferências sobre temas de grande relevância no período, como: educação pública, doenças, segurança nacional. Tais eventos foram promovidos por escolas, ligas ou outras instituições desprovidas de sede própria. O salão da Biblioteca, localizada no segundo pavimento do prédio onde hoje funciona a Câmara Municipal de Aracaju, era também bastante requisitado para recitais e concertos, bastante comuns no período em foco.[90] Anunciado por Clodomir Silva como o maior do Brasil, o salão foi também o local escolhido para a instalação de outras instituições como o Centro de Propaganda do "Voto Secreto" e o Centro Socialista Sergipano.[91]
Longe da capital, Aracaju, tanto as opções associativas como os equipamentos públicos de leitura eram reduzidíssimos. Têm-se notícias esparsas sobre instituições dedicadas à leitura como o Clube Literário de Itabaiana (1875), Clube Literário Estanciano (1884), Clube Caixeiral (Estância, 1900), Clube Comercial (Estância, 1901), Gabinete Literário Laranjeirense (1886), Clube Literário Progressista (Boquim, 1905)[92], Clube Literário Silvio Romero em São Paulo (atual Frei Paulo),[93] e os Gabinetes de Leitura das cidades de Riachuelo,[94] Capela e Maruim.
A “Casa do livro” em Capela foi criada em 2 de setembro de 1928, no final do período em foco e os seus fundadores conservam nomes conhecidos entre aqueles selecionados por Guaraná. Essa instituição, organizou-se com feição aparentemente educacional. Seus fins estatutários previam o desenvolvimento e a propagação da instrução, estimulando o desenvolvimento intelectual de todos em geral, especialmente de seus associados, sem distinção de sexo ou nacionalidade.”[95] Seus objetivos seriam alcançados através da criação e manutenção de uma biblioteca (através do empréstimo de livros). Esse caráter de benemerência, apesar de considerar os livros um verdadeiro patrimônio “lítero-social” era confirmado pelas principais e únicas características requeridas dos candidatos a sócio: “Ter meio de vida honesto” e “não estar condenado em algum crime” – contra a honra, vida, probidade e bons costumes.[96] Mas era preciso também dispender somas anuais e mensais para pertencer à instituição. À clientela esperada – pelos estatutos -, “empregado público ou do comércio” seria permitido o empréstimo de obras e a dispensa das taxas em caso de desemprego.
A insistência na possibilidade de aplicação de multas, estatutariamente instituídas como uma das atribuições do bibliotecário aos que não soubessem comportar-se condignamente no salão da biblioteca, é bastante sintomática. As multas seriam então um instrumento educativo para uma clientela pouco adaptada aos hábitos civilizados? Segundo o mesmo estatuto, a biblioteca funcionaria como veículo para a “distração e educação intelectual do público” especialmente dos sócios. O seu acervo compor-se-ia de livros, periódicos, manuscritos e cartas geográficas entre outros elementos. Aos sócios era permitido o empréstimo das obras e ao público em geral, liberada a leitura no próprio salão da biblioteca.
A Casa do Livro também nasceu tencionando criar uma escola noturna. Tanto é que no mesmo mês de sua fundação já pedia o auxílio de “escritores, jornalistas e amantes da letras, propugnadores pertinazes da extinção do analphabetismo em nossa patria” visando a formação do seu patrimonio litero-social.”[97] A instrução pública era tema eleito como prioritário além do comércio e lavoura quando da promoção de conferências. Os estatutos prescreviam que a diretoria estaria obrigada “moralmente” a comemorar “os dias de maior culto, nacionais – 7 de setembro, 15 de novembro – e estadual, o 24 de outubro.
O Gabinete de Leitura de Maruim possuía estrutura já consolidada desde 19 de agosto 1877 e era uma das últimas instituições votadas à tarefa de animador cultural fundadas durante o Império. Em Maruim, apesar das mudanças de quadro e do fim de um período de prosperidade econômica, o Gabinete de Leitura permaneceu em atividade pelo menos entre 1907 e 1926, ano da última referência coletada nos periódicos[98]. Em discurso comemorativo ao trigésimo sexto aniversário dessa instituição, Enock Santiago o anunciava como o melhor equipado de todo o Estado.[99] A sua diretoria incluía (1919/26), além do presidente, secretário, tesoureiro e orador, os cargos de bibliotecário, de vogais, e uma comissão de contas.[100] A sociedade, reconhecida como de utilidade pública em 1919, também parece ter sido administrada e financiada, ainda na década de 1920, pelos comerciantes mais prósperos do lugar como os proprietários das firmas A. Fonseca e Alcebiades & Irmãos, e o banqueiro, depois industrial, Josias Vieira Dantas (1890/1971)[101].
Das suas práticas nas décadas de 1910 e 1920, além das comemorações de aniversário da instituição, há poucas notícias. Sabe-se que no início, ainda no século XIX, vários juristas, padres, políticos, pensadores e poetas utilizavam o Gabinete para a exposição de trabalhos literários e principalmente consultas ao acervo bibliográfico. Em 1890 manteve por oito meses a Revista Literária, periódico que divulgava a produção local. A instrução também fora seu objetivo inicial. Um projeto realizado somente em 1918 com a inauguração da escola José Quintiliano da Fonseca.[102] É importante notar a relação prosperidade comercial com interesse pela atividade literária e por instrução básica em massa. O mesmo incentivador do Gabinete, o negociante José Thomaz Cruz, já havia construído em 1913, com recursos próprios, um edifício destinado à instrução da população maruinense.
Fora do Estado os intelectuais emigrados também mantinham a solidariedade e a livre troca de saberes. Ainda são insuficientes as pesquisas, mas há indícios que os sergipanos emigrados atuavam conjuntamente em pequenos empreendimentos intelectuais e políticos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e as já citadas Recife e Salvador. Desses agrupamentos solidários nasceu em 1922, o Centro positivista da Bahia, fundado por Otávio Murgel de Resende e os sergipanos Geonísio Curvelo e Zózimo Lima.[103] Este último, fiel correspondente por algum tempo, do conhecido militante Teixeira Mendes, também faria parte da "Casa do Livro" de Capela no final da mesma década.[104]
Com formação mais sólida, o “Centro Sergipano”, sediado no Rio de Janeiro, era uma espécie de posto avançado. Um ponto de convergência entre a “cultura” e a política, um fator de atualização dos que por aqui ficavam acerca das idéias vigorantes na capital federal em termos de literatura, ciência e filosofia.
O Centro Sergipano reunia militares, políticos, jornalistas, bacharéis e estudantes sergipanos, radicados na Capital Federal ou em passagem por cargo eletivo. A sociedade congregava, em sua maioria, os que já haviam adquirido o reconhecimento como intelectual, político ou alto funcionário público no Rio de Janeiro. Seus membros eram egressos de cidades como Simão dias, Lagarto, Aracaju, Laranjeiras, Campos, Itabaiana, Geru entre outros. Os principais propósitos dessa instituição, fundada em 16 de novembro de 1918, eram o estímulo ao crescimento econômico e social de Sergipe[105] e o estreitamento das relações entre os sergipanos ali residentes. Isso não impedia, muito pelo contrário, de se tornar, na prática, um importante local de discussão sobre os destinos da política partidária no Estado. Entretanto, na palavra de um dos seus membros, o professor da Faculdade Nacional de Medicina (RJ), Antônio de Abreu Fialho, o Centro Sergipano seria o lugar do cultivo do “sergipanismo” e da manutenção do “nosso temperamento de nortista”.[106] Uma miniatura de Sergipe, continua o professor, um local de divulgação de todas as vitórias culturais e econômicas desse Estado.
Diferente das instituições citadas até aqui, o Centro Sergipano era estruturado administrativamente sobre uma extensa diretoria: presidente, vice-presidente, 1º secretário, 2º secretário, orador oficial, diretor comercial, bibliotecário, diretor de publicidade, tesoureiro, procurador e um conselho fiscal formado por doze membros. Suas atividades centravam-se na comemoração das “grandes datas do Estado”, na imortalização de seus “grandes homens”. Tais eventos eram mantidos pelos sócios – do Rio de Janeiro e de Sergipe - e, possivelmente, por auxílios enviados à capital federal pelos Governadores do Estado. O Centro mantinha estreito contato com o Estado através da remessa dos periódicos locais. Os seus membros possuíam tal notoriedade na sociedade local que pelo menos três dos sócios diretores já haviam sido Governadores do Estado no momento de sua fundação; Siqueira de Menezes, José Rodrigues da Costa Dória e Josino Menezes.[107] Essa instituição[108] parece ter operado também como sociedade de auxílios mútuos. O Centro Sergipano propôs-se amparar os conterrâneos em um tempo onde todos os Estados da federação mantinham colônias no Rio de Janeiro e procuravam manter os laços de afetividade com a terra natal, afirmando-se perante os demais membros da federação.
***
Em resumo, os intelectuais sergipanos no período 1910/1930 eram majoritariamente bacharéis em direito e medicina, engenheiros, militares graduados, jornalistas, padres e professores do ensino secundário, comerciantes e industriais. Ocupavam funções na burocracia estatal, atuavam de maneira mais ou menos intensa na política partidária. Oriundos da aristocracia rural nas décadas de 1850/1870 e de setores liberais urbanos nos anos 1870/1890, eram migrantes e viveram experiência nos mais atualizados centros urbanos do país. A sua produção é marcadamente diversa, abrangendo gêneros dramáticos, narrativo, oratório e didático. Dentre as espécies mais cultivadas estavam o artigo, discurso, conferência e biografia. Os estudos concentraram-se em áreas de literatura, filosofia, direito, geografia e história. O veículo de difusão, foi, por excelência, o jornal em sua vertente noticiosa e política de circulação diária.
Os intelectuais de Sergipe também mobilizaram-se no sentido de acompanhar os caminhos seguros da "civilização" já trilhados por outras sociedades e experimentados por eles próprios quando em viagem por outras províncias/Estados. Para tanto, esforçaram-se na criação de instituições de caráter literário e instrutivo que guardavam traços em comum: instrução pública, cultivo da língua pátria, desenvolvimento das artes, mecenato estatal (livre trânsito entre o público e o privado). Essas entidades, guardadas as proporções de finalidade estatutária e grupo mantenedor, eram visitadas por todos. Havia um verdadeiro intercâmbio entre elas. A impressão é que o número de intelectuais era bem reduzido para o número de associações já que a maioria dos mais produtivos associaram-se à maior parte das instituições.
Entretanto, alguns indicadores fornecem indícios de uma (re)tomada no “desenvolvimento intelectual” do Estado entre o início da década de 1910 até as comemorações do centenário de emancipação de Sergipe, período posterior à 1ª Guerra Mundial. Alguns desses indicadores são expressos pela instalação de equipamentos básicos que incidem diretamente sobre o aumento desse tipo de produção como: ampliação da rede de escolas do ensino básico e de combate ao analfabetismo; a expansão da atividade jornalística; o aparelhamento de bibliotecas; manutenção dos gabinetes de leitura; crescimento do espírito associativo com a instalação de academias e grêmios voltados para a apreciação estética.
Todos esses indicadores expressam um momento considerado como aceleração da história. Um instante em que todos "correm" para a civilização. Lendo os comentários nos periódicos do período, tem-se a impressão que Sergipe esteve prestes a ser atropelado por esse processo. Mas civilizar-se, desejo de todos, tem vários significados e orientações. Se há divergências sobre a função e os resultados do processo civilizatório, a maioria dos que discutiram o assunto, encararam o "civilizar-se" como "evoluir". O fim último desse “evoluir” seria a sociabilização plena do homem. Nesse programa/contexto, as associações constituem-se no meio e no fim do processo civilizatório. O IHGS, como uma das agências do período, nasce dentro, e para servir a esse projeto. O espírito é cientificista, a ciência deve redimir a sociedade de todos os seus males. Em vista do exposto, é preciso então, estudar a instituição fomentadora da “ciência” no Estado e verificar o seu papel dentro desse processo civilizatório; estudar a sua organização, produção e as estratégias de legitimação, e consagração de determinados autores, discursos e saberes.
Para citar este texto:
FREITAS, Itamar. O movimento intelectual nas décadas de 1920 e 1930. In: A "Casa de Sergipe": historiografia e identidade na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (1913/1929). Rio de Janeiro, 2000. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio de Janeiro. http://itamarfo.blogspot.com/2010/10/casa-de-sergipe-historiografia-e_8639.html

Para continuar a leitura:

Capítulo I
A experiência da história da historiografia e os institutos históricos como objeto de estudo   
Capítulo II
Movimento intelectual nas décadas de 1910 e 1920  
Capítulo III
A experiência do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe
Capitulo IV
A Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe 
Conclusão
Fontes
Referências bibliográficas


Notas:
[1] Sampaio, Prado. Palavras de início. Revista do IHGS, Aracaju, n. 1, p. 24-25, 1913.
[2] Menezes, Florentino. Discurso pronunciado pelo acadêmico Florentino Telles por ocasião da fundação do “Instituto Histórico e Geographico de Sergipe”. Revista do IHGS, Aracaju, n. 1, p. 09-13, 1913.
[3] As obras de abastecimento d’água e esgoto foram iniciadas em 1909 e concluídas em 1914; em maio de 1911 foi inaugurada a primeira estação telefônica da cidade; os bondes da empresa “Carris Urbanos” inauguravam uma nova forma de lazer em 1910; em dezembro de 1913 os aracajuanos comemoraram a chegada do serviço de luz elétrica e em menos de dois anos estavam ligados por estrada de ferro até a fronteira com Alagoas. Mendonça, Corinto. Contribuição ao Centenário do Aracaju: Realizações dos Governadores em prol da Cidade (1892/1954). Aracaju: [ASI, 1954]. p. 27-37; Cabral, Mário. Roteiro de Aracaju. Aracaju: Regina, 1955. p. 168; Especificamente sobre as linhas de bondes ver o jornal O Estado de Sergipe em suas edições de: 6 set. 1908. p. 2-3; 27 out. 1908. p. 2; 16 e 18 jul. 1909. p. 2; e 1 mar. 1909. p.2.
[4] O termo "civilização", no discurso dos membros do IHGS, guardam os mesmos sentidos presentes na obra de Felisbelo Freire: ação/processo e estado. Salvo conotação expressa pela estrutura do parágrafo, "civilização" deverá ser considerado em seu segundo sentido: "um determinado estágio de desenvolvimento. Civilização é o ápice do desenvolvimento de um povo. É a realização de uma sociedade, em condições desejáveis, caminhando rumo à civilização que neste caso se confunde com uma meta da evolução. Civilização é o destino de todos os povos. [Cf. Alves, Francisco José. “A marcha da civilização”... op. cit. p. 174-175.] Quando acompanhado do termo "progresso", "civilização" refere-se ao padrão superior das atividades do "espírito" (ciência, arte, constumes etc.) enquanto "progresso" está relacionado às questões "materiais" como o desenvolvimento da economia e da tecnologia.
[5] As cidades de Estância e Laranjeiras foram líderes nesse sentido durante a segunda metade do século XIX. A primeira, entreposto comercial de vulto, ponto de exportação fluvial, local de implantação da imprensa em Sergipe. Motivos idênticos transformaram Laranjeiras em rival de Estância. No entender de M. P. de Oliveira Telles, Estância é pátria da música, e Laranjeiras a mestra de Sergipe, a propagadora das idéias republicanas, abolicionistas e das teorias cientificistas. Teles, Manoel dos Passos de Oliveira. Sergipenses: escriptos diversos. Aracaju: Tipografia de “O Estado de Sergipe”, 1903. p. 83-84.
[6] Sirinelli, Jean-François. Os intelectuais. In: Rémond, Por uma História Política. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV, 1996. p. 237.
[7] Bobbio, Norberto. Os Intelectuais e o Poder: Dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea. São Paulo: Unesp, 1997. p. 110.
[8] Ibid. p. 115.
[9] Sirinelli, J-F. op. Cit. , p. 242.
[10] Guaraná, Armindo. Diccionario Bio-bibliographico Sergipano. Rio de Janeiro: [Governo do Estado de Sergipe], 1925.
[11] Guaraná, A.. op. Cit. p. xvii.
[12] Apesar dos senões apontados por Giovanni Levi ("a característica interstical da liberdade individual e a questão da racionalidade limitada"), examino as biografias de Guaraná sob a forma prosopográfica onde "os elementos biográficos só são considerados historicamente reveladores quando têm alcance geral". as outras formas mais comuns de uso da biografia para ao conhecimento histórico citadas por Levi são a vida pessoal explicada à luz do contexto e a biografia dos casos extremos. Esta última é usada especificamente para esclarecer o contexto. Levi, Giovanni. Usos da biografia. In: Ferreira, Marieta de Moraes e Amado, Janaina (orgs.) Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 167-182.
[13] Sob esse aspecto alinho-me à acertada opção de Jackson da Silva Lima quando escreveu sobre os estudos filosóficos em Sergipe: “Os autores excluídos atuaram fora do nosso ‘espaço-cultural’, identificados com outras realidades sócio-culturais, longe, portanto, do dia-a-dia provinciano terrantês. Lima, Jackson da Silva. Os estudos filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995. p. 14.
[14] Os intelectuais assinalados nesse trabalho pertencem à “classe média” local, no sentido do termo ironicamente empregado por Silvio Romero ainda em 1895: “é o mundo dos médicos sem clínica, dos advogados sem clientela, dos padres sem vigararias, dos engenheiros sem empresas e sem obras, dos professores sem discípulos, dos escritores, dos jornalistas, dos literatos sem leitores, dos artistas sem público, dos magistrados sem juizados ou até com eles, dos funcionários públicos mal remunerados.
Eis a nossa riquíssima classe média...”. Romero, Silvio. Doutrina contra doutrina: o evolucionismo e o positivismo no Brasil. Rio de Janeiro: Alves e Cia., 1895. p. xlix.
[15] Dentro do recorte temporal especificado para esse trabalho.
[16] Lacerda, Nobre. O Diário de Chica Chaves. .... p. 8
[17] Maria da Conceção P. Ferraz, Guiomar Calasans Gonçalves, Ítala Silva de Oliveira, Silvia de Oliveira Ribeiro e Antônia Angelina de Figueiredo Sá.
[18] Nunes, Maria Thétis. História da Educação em Sergipe... P. 255-256.
[19] A respeito dessa marca, Manuel dos Passos de Oliveira Telles afirmava em 1903 que “esse ímpeto para longe dos filhos de Sergipe nunca foi contrabalançado por ímpeto para cá dos filhos de outros Estados. (...) Realmente, quem havia de querer vir para uma terra de onde ausentam-se moços e velhos? ... De tempos para cá o exodo tomou proporções deploraveis, e a sahida dos moços obedeceu, por assim dizer, aos acontecimentos políticos do derradeiro quinquênio.” Para Prado Sampaio “nós, os sergipanos, como os nossos irmãos os cearences, temos no sangue algo de israelitas. É que a falta de patria nos tornamos errantes e nômades.” [Telles, Manoel dos Passos de Oliveira. Sergipenses. Maruim, ... 1903. p. 151-152; Sampaio, Prado. Sergipe. Maruim: Imprensa Econômica, 1906. p. 70]. Em recente estudo, Josué Modesto dos Passos Subrinho afirma que a imprensa local tentou justificar forte emigração sergipana para a Amazônia e cidades de São Paulo e região Sul da Bahia caracterizando o espírito do povo como aventureiro, desgarrado e inconstante. A ausência de oportunidades de emprego e a estrutura fundiária do Estado também foram causas aventadas. Havia consenso, porém, entre "as elites locais quanto aos prejuízos que ela causaria ao desenvolvimento econômico do Estado. (...) Foi este o Estado que mais sofreu, em termos relativos, emigração líquida de brasileiros natos para outros Estados, entre 1900 e 1920." Passos Subrinho, Josué Modesto dos. Reordenamento do trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste Açucareiro - Sergipe (1850/1930). Campinas, 1994. Tese (Doutorado em História Econômica) Universidade Estadual de Campinas.
[20] “De Alfredo de Siqueira Montes, que começou funcionário público burocrático e acabou diretor de colégio e catedrático de inglês do Ateneu, o ‘Parthenon’, também conhecido como Ginásio Sergipense, ou simplesmente Colégio de Alfredo Montes, era situado precariamente em três casas adaptadas, na antiga Praça José de Faro, entre o palacete da Assembléia e a Biblioteca de hoje, que foi o Ateneu naquele tempo. O colégio tinha fama e resumia o que havia de melhor no gênero. Fôra fundado pelo Dr. Ascendino Reis em 02/02/1879....O estudo era duro e aprendia-se tudo o que se estuda hoje com outros nomes. A ordem das matérias podia ser escolhida pelos alunos, exceto o Português, obrigatoriamente a primeira e a Matemática que devia preceder as Ciências Naturais. O ensino de línguas se fazia de maneira deficiente....Alfredo Montes era em tudo um homem respeitável: de média estatura, magro, cabeça grande, fisionomia serena, usava um bem tratado cavanhaque, que êle acariciava enquanto lia em aula os exercícios de Abílio Cesar Borges, ou capítulos das ‘Lectures Choisies’, da Estrada Suave, ou de ‘History of England. Gostava de dar bôlos e andava de botinas com rangedeira para dar tempo ao pessoal se ajeitar, enquanto êle como passo firme e vagaroso se aproximava (...) No Parthenon não se ensinavam tôdas as matérias do curso médio e os pensionistas tinham permissão de sair para outros cursos, especialmente no Ateneu, que era do Govêrno e ficava defronte, mas foi durante alguns anos transferido para um prédio inadequado nos fundos do antigo Quartel de Polícia. No meu último ano tirei lá, Física e Química com o Dr. José Moreira Magalhães e História Natural com Teixeira de Faria.” Campos, Edilberto. O Parthenon Sergipense. In: Crônicas da passagem do século. [Aracaju: s.n.], 1967. p. 5-8. v. 2. [O período do relato situa-se aproximadamente em 1896].
[21] “A partir da fundação da Faculdade Livre de Direito da Bahia em 1891, foi diminuindo a presença do estudante sergipano na Faculdade de Direito do Recife, onde, em 1890, colaram grau 5 estudantes, em 1891, 8, em 1892, 4, em 1893, 1 e em 1894, 5, em 1895, 3, 1896, 1; já nos anos de 1897, 98 e 99 nenhum, enquanto em 1900, 1901, 1902 apenas 1.”Nunes, Maria Thétis. História da Educação em Sergipe... p. 210 n.
[22] Calazans, José. O desenvolvimento cultural de Sergipe na primeira metade do século XX: conferência realizada pelo Dr. José Calazans Brandão da Silva, convidado especial na sessão solene comemorativa do jubileu do Instituto Histórico a 6 de agosto de 1962. Revista do IHGS, Aracaju, n. 26 B, v. 21, p.46-57, 1965.
[23] É de se lamentar a exiguidade de informações produzidas sobre a experiência dos colégios secundários em Sergipe. Sabe-se pouco sobre os quadros docente e discente, e muito menos sobre polêmicas, disputas por cadeiras, defesas de tese, e atividades associativas dos alunos.
[24] Ribeiro, João. Braz do Amaral: discursos e conferências. O Imparcial, [Rio de Janeiro], 6 dez. 1921. In: Leão, Múcio (org.).Obras de João Ribeiro: Crítica - Historiadores. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1961. p. 293-297.
[25] Registros sobre o costume de reunir-se em calçadas nos finais de tarde em Aracaju estão em: Campos, Edilberto. Crônicas ... p. 68, v. 2.
[26] Rocha, Antônio de Oliveira. Aracaju rediviva: conferência pronunciada no Centro Sergipano em 4 de julho de 1963. Rio de Janeiro: [s.n., 196--]. p. 14 e 22.
[27] Ver traços da influência de Garcia Rosa na formação de jovens intelectuais em: Figueiredo, Jackson. Garcia Rosa. Rio de Janeiro: Tipografia da Revista dos Tribunaes, 1915; Oliveira, Jordão. Caminhos perdidos. Rio de Janeiro: Gráfica Ouvidor, 1975. p. 63-66; Rocha, Antônio de Oliveira. Aracaju rediviva: conferência pronunciada no Centro Sergipano em 4 de julho de 1963. Rio de Janeiro: [S.l.: s.n.]. p. 27 e 30; Fontes, José Silvério Leite. Razão e fé em Jackson de Figueiredo. Aracaju: Editora da Universidade Federal de Sergipe, 1998. p. 40-41, 118 e 139-140. Fontes, Amando. Os Corumbas... p. vi.; Freire, Ofenísia Soares. Discurso comemorando o centenário de nascimento do escritor Amando Fontes. In: Nascimento, José Anderson (Coord.). O Sodalício. Aracaju: J. Andrade, 1999. p. 135. Guaraná, Armindo. Dicionário... p. 21-22; Amado, Gilberto. História da minha infância. Aracaju: Edufs/Fundação Oviedo Teixeira, 1988. p. 192-197; Calazans, José. Entrevista concedida à Maria Marlene Alves Calumby. Arcaju, 1993. (Programa Videoteca Aperipê Memória).
[28] Fontes, S. Razão e fé... p. 33.
[29] "O correio itinerava em lombo de burro, de Aracaju, via Estância, Boquim, Lagarto, Simão Dias, conduzido pelo prestante caboclo Severo, armado de chuço pontiagudo, símbolo de sua missão de estafeta solitário onde andava.
Quando se avizinhava o tempo, eu ia dando de aparecer na Agência à hora das malas postais. Não se descreve a satisfação toda vez que a funcionária D. ascendina denunciava, meio risonha, visando a me contentar: 'Dr. Gervásio, tem registrado para o senhor.' Saía com o pacote ou os pacotes para os desembrulhar em casa.
Lançava uma vista superficial pelos índices e fechava os livros um por um; separava-os todo eufórico.
Entregava-me a aprender em mestres que divulgavam conhecimentos científicos para o mundo, as novas descobertas e as interpretações dos sábios mais eminentes do começo do século: Henri e Lucien Poincaré, Ed. Poirier, F. Le Dantec, T. Huxley, Ch Darwin, F. Topinard e mais expressivos representantes da cultura e da Filosofia científica, cujas obras formavam a base da minha biblioteca, recentes, depois dos meus livros de Direito vindos comigo da Academia." Lima, J. Fraga (org.). Memórias do Desembargador Gervásio Prata. Aracaju: Governo do Estado de Sergipe/Secretaria de Estado da Educação e Cultura/Fundação Estadual de Cultura, 1886. p. 42.
[30] Amado, Gilberto. História ... p. 192-193.
[31] Miceli, Sérgio. Intelectuais e classe dirigente no Brasil: 1920-1945. Rio de Janeiro: Difel, 1979. p. 69, 75 e 78.
[32] Miceli, Sérgio. Intelectuais e classe dirigente no Brasil.... p. 131-132.
[33] Coleção de Leis e Decretos de 1902. Aracaju: Tipografia do Estado de Sergipe, 1903; Coleção de Leis e Decretos de 1904. Aracaju: Tipografia do Estado de Sergipe, 1905.
[34] Coleção de Leis e Decretos de 1907. Aracaju: Tipografia do Estado de Sergipe, 1919. Ver também Guaraná, Armindo. Dicionário... p. 259-259.
[35] Nunes, Thétis. História da educação... p. 254-255.
[36] As Obras foram publicadas em 1923. Ver Cardoso, Maurício Gracho. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 7 de setembro de 1923, ao instalar-se a 1ª sessão ordinária da 15ª legislatura. Aracaju: Imprensa Oficial, 1923.
[37] O Decreto n. 690, de 18 de julho de 1919 abre crédito de oito contos de réis para o pagamento dessa obra que foi publicada no ano anterior.
[38] Lobo, Joaquim Pereira. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1919, ao instalar-se a 1ª sessão ordinária da 14ª legislatura. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919.
[39] Silva, Clodomir. Imprensa. In: Álbum de Sergipe: 1820-1920. São Paulo: Secção de obras de “O Estado de São Paulo”, 1920. p. 99-105. Para as demais localidades do Estado o autor contabiliza vinte e nove títulos, no mesmo período. Das cidades citadas, Capela, Estância, Maruim, Laranjeiras, Propriá, Santa Luzia, e Vila Nova, apenas as três primeiras possuem títulos especificamente “literário”, dois cada uma.
[40] Dantas, José Ibarê da Costa. O Tenentismo em Sergipe. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 66.
[41] Silva, Adriana Elias Magno. Florentino Menezes: um sociólogo brasileiro esquecido. São Paulo, 1997. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. p. 9.
[42] Ver Lima, Jackson da Silva. Os estudos antropológicos, etnográficos e folclóricos em Sergipe. Aracaju: Governo do Estado de Sergipe/Secretaria de Estado da Educação e Cultura/Subsecretaria de Cultura e Arte, 1984. p. 17-19.
[43] Calazans, José. Clodomir Silva e o folclore sergipano: conferência proferida no I Encontro Cultural de Laranjeiras, em 1976. Caderno de cultura do estudante, São Cristóvão, n. 9, p. 59-65, 1992.
[44] Diário da Manhã, Aracaju, 10-14 set. 1913.
[45] O Estado de Sergipe, 29 nov. 1916.
[46] Estado de Sergipe, 27 out. 1906 a 16 jan. 1907.
[47] Cabral, Alfredo. A História universal. O Estado de Sergipe, Aracaju, 10, 13, 14, 15, 26, 28 abr. e 01 mai. 1910.
[48] Lima, Jackson da Silva. História da Literatura Sergipana. ... p. 66 e 89. v. 1.
[49] Ver a esse respeito: Romero, Silvio. Parnaso Sergipano. Aracaju: Tipografia de “O Estado de Sergipe”, 1904; Araújo, Acrísio Tôrres. Literatura Sergipana. 2 ed. Brasília: Senado Federal, 1976.
[50] Lima, Jackson da Silva. Os estudos filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995.
[51] Lima, Jackson da Silva. Os estudos filosóficos em Sergipe... p. 71-72. Ver também, do mesmo autor: Ernesto Haeckel e a fama de Tobias Barreto (1879-1882). Revista do IHGS, Aracaju, n. 30, p. 73-77, 1989.
[52] Lima, Jackson da Silva. Os estudos filosóficos em Sergipe... p. 98.
[53] O uso de pseudônimos, costume freqüente nas Arcádias do século XVIII, foi prática comum nas primeiras décadas desse século. A esse respeito é significativo o depoimento do cronista Nobre de Lacerda registrado em meados da década de 1920: “O pseudônimo foi a melhor e maior invenção do mundo. (...) Fosse eu apadrinhar com o meu nome verdadeiro o que tenho escrito e as minhas elocubrações perderiam cinqüenta por cento de seu valor. Pelo menos enquanto me oculto não corro o risco de ouvir o ne, sutor, ultra crepidam.” Lacerda, Nobre de. Diário de Chica Chaves. Brasília: Senado Federal, [19--]. p. 28.
[54] Sampaio, Prado. A literatura sergipana. Maruim, Imprensa Econômica, 1908. p. 74.
[55] Sampaio, Prado. Sergipe, artístico, literário e scientifico. Aracaju: Imprensa Oficial, 1928. p. 85-86.
[56] Calazans, José. Um livro sergipano. In: Tôrres, Acrísio. Pó dos arquivos. Brasília: Thesaurus, 1999. p.9.
[57] Dantas, José Ibarê da Costa. O Tenentismo em Sergipe. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 55-56. O mesmo entendimento expressa Thétis Nunes: os jornais da década de 1910 “são marcados pelo aulicismo, os elogios ao governo, ou transcrevem notícias favoráveis à administração” do período. Nunes, Thétis. História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Aracaju: Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Sergipe/Universidade Federal de Sergipe, 1984. p. 221
[58] Dantas, José Ibarê da Costa. O Tenentismo em Sergipe. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 56.
[59] Dantas, José Ibarê da Costa. O Tenentismo em Sergipe... p. 61, 62, 65. Os partidos políticos em Sergipe: 1889-1964. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. p. 73-87.
[60] Frederico Romão também percebeu a relevância da educação no conteúdo dos jornais operários em Sergipe. Para o autor, “a preocupação com a educação não teria apenas um caráter pedagógico ou cultural, estaria associado diretamente à possibilidade de sua libertação enquanto classe.” Romão, Frederico Lisbôa. O movimento sindical têxtil de Aracaju no governo Augusto Maynard:1930/1935. São Cristóvão, 1999. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, Universidade Federal de Sergipe. p. 41.
[61] Sampaio, Prado. A literatura sergipana. Maruim: Imprensa Econômica, 1908. p. 76.
[62] Armindo Guaraná aponta o bacharel Manuel Luiz Azevedo de Araújo como o instituidor das primeiras conferências literárias de Aracaju. Fato provavelmente situado entre 1869 e 1875 quando exerceu as funções de professor de História do Brasil, Deputado provincial, diretor da Biblioteca Provincial, diretor Geral da Instrução Pública. Dicionário... op. cit. p. 212.
[63] Talvez deva se tratar do mesmo Gabinete Literário Sergipano que teve como um dos fundadores e primeiro presidente o bacharel Pelino Nobre em 1870 e como membros, Justiniano de Melo e Silva e Etelvino José de Barros (oradores em 1872 e 1874, respectivamente) e o Barão de Propriá (sócio benemérito em 1875). Ver Jornal de Aracaju, 05 out. 1872; Dória, Epifânio. Pelino Nobre: Revista do IHGS, Aracaju, v. 3, n. 6, p. 191, 1917; Relatório de Manoel ... (Diretor do Atheneu) ao Barão de Propriá em 31/12/1873, apud. Sebrão Sobrinho. Laudas da história de Aracaju... p. 435.
[64] "É provável que esse calor bibliotecófilo que reinava na Côrte e nas províncias do Império contribuísse de algum modo para fazer recrudescer o entusiasmo que lavrava em Sergipe, sendo forçoso acentuar que em todas as campanhas contra o obscurantismo Sergipe sempre marchou na vanguarda, com sobranceria das maiores e mais ricas províncias do Império. (...) O livro, este 'mestre mudo da ciência', foi sempre objeto de culto para o sergipano." Dória, Epifânio. A Biblioteca Provincial de Sergipe: elementos para a sua história. Revista do IHGS, Aracaju, v. 11, n. 16, p. 87, 1940.
[65] O Clube Esperanto foi instalado em setembro de 1907 nos salões da Escola Normal. Participaram desse ato como palestrante os senhores Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Costa Pinto, Leôncio Fontes e Artur Fortes. A Trombeta: Revista humorística, literária, crítica e ilustrada, Aracaju, n.7, p.2, set. 1907. Em 1924 o “Club” já é considerado extinto assim como a sociedade “Tobias Barreto”. Guaraná, A. Dicionário... p. 39.
[66] Correio de Aracaju, 12 jun. 1914.
[67] Apenas para efeito de futuras reflexões é oportuno anotar que o maior vigor associativo nas atividades recreativas, instrutivas e literárias acompanha também uma possível periodização das associações de trabalhadores no Estado. Frederico Lisbôa Romão afirma que as primeiras organizações trabalhadoras surgem a partir de 1871 e até 1910 mantêm caráter mutualista. De 1910 a 1930, apesar de diminutas, as entidades trabalhadoras são “de cunho mais reivindicatório e de resistência, e menos mutualista". Nesse último período são altamente relevantes as intervenções dos “intelectuais” no movimento obreiro. Seja na arregimentação de quadros, na condução de conferências ou mesmo na defesa dos trabalhadores em juízo. Romão, Frederico Lisbôa. O movimento sindical têxtil de Aracaju no governo Augusto Maynard... op. cit.
[68] Por ser um dos objetos específicos desse trabalho discutiremos a experiência do IHGS em separado no capítulo seguinte.
[69] Oliveira, Jordão. Caminhos... op. cit. p. 60.
[70] A primeira mobilização em torno da idéia de fundação de uma academia de letras em Sergipe coube a Prado Sampaio por volta de 1904. Sergipe Jornal, Aracaju, 22 mar. 1924. p.1; Via Lucis, Aracaju,27 mar.1904. apud Torres, Acrísio. A imprensa em Sergipe. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1982. p. 149, v. 1.
[71] Estatutos da “Hora Literária”. Diário Oficial do Estado de Sergipe. Aracaju, 28 jul. 1929.
[72] Ribeiro Filho, Silva. Hora Literária. In: Nascimento, J. Anderson. e Nascimento, José Amado. O Sodalício. Aracaju: J. Andrade, 1999. p. 9.e 14.
[73] As atividades literárias no Estado não eram estimuladas apenas pela experiência da própria terra. Os nativos acompanhavam com certa freqüência o movimento dos escritores em outros centros do país. Os informes sobre mudanças e principalmente a participação de sergipanos como João Ribeiro, Laudelino Freire na Academia Brasileira de Letras eram reproduzidos com júbilo pela imprensa local. Funcionavam como um incentivo a mais para a fundação de entidades similares no próprio berço desses homens, àquela época, nacionalmente consagrados. Assim, não foram raras as reivindicações por uma Academia Sergipana de Letras. Mas a tão sonhada Academia ao modelo da “casa de Machado” apenas seria criada em 1929 através do empenho do poeta Garcia Rosa e de intelectuais como José Magalhães Carneiro, Cleomenes Campos, José Augusto da Rocha Lima e Clodomir Silva. A ASL, sucederia a “Hora Literária Santo Antônio”. A respeito do tema ver: Nascimento, José Anderson e Nascimento, José Amado. O Sodalício. Aracaju: J. Andrade, 1999. p. 9.; Sergipe Jornal, Aracaju, 22 mar. 1924. p.1.
[74] A Cruzada. Aracaju, 23 mai. 1926. p. 2.
[75] A Cruzada, Aracaju, 4 mai. 1919. p. 3.
[76] A Cruzada, Aracaju, 14 nov. 1919. p. 2 e 18 set. 1921; Sergipe Jornal, Aracaju, 2 set. 1922.; Sergipe Jornal, Aracaju, 6 set. 1928. p. 2.
[77] O Acadêmico, Aracaju, 7 set. 1928. p. 2; Sergipe Jornal, Aracaju, 6 set. 1928. p. 2.
[78] O Acadêmico, Aracaju, 7 set. 1928. p. 1.
[79] Criada por iniciativa do Deputado Martinho de Freitas Garcez através da lei 233, sancionada pelo presidente Zacarias de Góes e Vasconcelos em de 16 de junho de 1848. A Biblioteca foi instalada em 2 de julho de 1851 na antiga capital São Cristóvão. Pedrinho Santos relaciona a idéia de criação da Biblioteca ao entusiasmo de Martinho Garcez pelo progresso intelectual de Olinda-PE onde havia concluído o bacharelado em Direito nove anos antes. Ver Santos, Pedrinho. Instituições... p. 26; Lima Júnior, F. C. Memória sobre o Poder Legislativo em Sergipe (I) - 1824 a 1889: apontamentos para a História. Revista do IHGS, Aracaju, v. 4, n.8, p. 1-176, 1919.
[80] O edifício onde funcionou o Atheneu foi remodelado para uso da Biblioteca Pública e inaugurado em 14 jul. 1914 após a entrega ao público das linhas de bondes elétricos da capital. [Santos, Pedrinho. op. cit. p. 29.] Durante o ato, distribuíram-se postais com os retratos do Presidente do Estado Siqueira de Menezes, do Coronel Francino Menezes, um dos responsáveis pelas reformas no edifício, do diretor da instituição, Epifânio Dória e da planta do edifício recém-inaugurado. Também foram distribuídas medalhas de ouro para os Generais Hermes da Fonseca e Siqueira de Menezes, de prata, para Epifânio Dória e de bronze para as autoridades, sociedades científicas e literárias e representantes da imprensa. Lanche e baile completaram essa solenidade. Correio de Aracaju, 16 jul. 1914. p. 2.
[81] As doações tornaram-se mais freqüentes a partir de 1913 e 1914 mas no período 1919 até 1930 podem ser encontradas, no Diário Oficial do Estado de Sergipe, mais de quatrocentos registros de transferência de obras de particulares para a instituição reformada.
[82] Lei n. 702 de 15 de julho de 1916; Decreto de 26 de fevereiro de 1917; Valadão, Manuel Prisciliano de Oliveira. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa de Sergipe, em 07 de setembro de 1916, ao instalar-se a 3ª sessão ordinária da 12ª legislatura. Aracaju: Imprensa Oficial, 1915.
[83] Lei n.633 de 26 de setembro de 1914. apud. Santos, Pedrinho. Instituições... p. 30.
[84] Lei n. 746 de 16 do novembro de 1917; Lei n. 755 de 21 de outubro de 1918; Lobo, Joaquim Pereira. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em 07 de setembro de 1919, ao instalar-se a 3ª sessão ordinária da 13ª legislatura. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919.
[85] Despesa do Governo do Estado de Sergipe
Instituições
1917
1918
1919
?
1921
1922
1926
1927
1929
Biblioteca
5,940
8,240
11,590
12,300
16,234
15,826
75,595
55,841
19,568
Instrução Pública
517,339
486,677
638,611
681,668
700,760
696,674
3.132,958
1.468,728
432,755
Atheneu
562
96,628
IHGS
1,200
Arquivo Público
23,568
Dados em contos de réis. Fonte: Mensagens dos presidentes do Estado.
Fixação de despesas com subvenções para instituições culturais do Estado através de lei
Instituições
1916
1917
1919
1920
1921
1922
1923
1924
1925
1926
1927
1928
1929
1930
IHGS
2,400
2,400
2,400
2,400
2,400
2,400
2,400
2,400
2,400
3,600
3,600
3,600
3,600
Centro Operário
0,600
3,200
1,200
1,200
1,200
1,200
2,000
2,000
2,000
2,000
Liga S. Analf.
0,300
3,000
2,400
2,400
2,400
2,400
3,600
3,600
3,600
C. Sergipano
2,400
2,400
0,600
0,600
2,400
2400
3,000
3,000
3,000
3,000
Gab. L. Maruim
0,600
0,600
0,600
0,600
0,600
0,600
0,600
1,200
1,200
Club S. Romero
0,300
0,300
0,300
1,200
0,300
Valores em contos de réis. Fonte: Leis e Decretos do Estado de Sergipe.
[86] É preciso notar que fazia parte da estrutura da Biblioteca, desde a sua fundação, uma seção de Arquivo “destinada ao recolhimento de documentação administrativa, histórica, científica e geográfica produzida no Estado. Mas, somente em 1926 ganha regimento e poucos meses depois volta à condição de seção da Biblioteca.
[87] Sergipe Jornal, Aracaju, 25 set. 1924. p. 2.
[88] Ibid. Ibdem.
[89] Ver sobre essas questões: Arquivo Público Estadual. Dimensões da Arquivologia Sergipana ontem e hoje. Aracaju: Arquivo Público Estadual de Sergipe, 1988; Fontes, José Silvério. Fontes primárias.... Cadernos UFS...Santos, Pedrinho. Instituições Culturais de Sergipe. op. cit.
[90] Os jornais das décadas 1910 e 20 também fornecem dados sobre a atuação de outros grêmios [ligados a estabelecimentos industriais] como o Tomás Cruz (1918) e o Centro Cívico Amintas Jorge (1918), ambos promotores de conferências comemorativas. O Centro Cívico Amintas Jorge estava voltado para a instrução das “classes pobres e laboriosas”. Era o progresso de Sergipe que estava em questão assim como o fortalecimento das instituições nacionais. Por isso, junto à campanha contra o analfabetismo veiculada pelo Centro, eram ministradas aulas de civismo através de conferências comemorativas nas chamadas datas máximas da nação. Para um apologista desse Centro, o sentimento patriótico, que deveria ser consumido com o “colostro maternal”, só se desenvolve e clarifica "na comunhão da escola, onde os espíritos se plasmão e definem, resultando mais tarde na formação completa dos caracteres”. Século XX, Aracaju, 15 set. 1918. p. 1.
[91] Sergipe Jornal, Aracaju, 03 out. 1923; Diário da Manhã, Aracaju, 28 mar. 1918; Silva, Clodomir. Álbum... p.
[92] Dória, Epifânio. A biblioteca Provincial de Sergipe...p.87.
[93] Fundado pelo bacharel, jornalista e sócio do IHGS Josias Ferreira Nunes (1895/?) em 25/04/1918 “tinha como finalidade debater assuntos do mundo literário, principalmente aqueles voltados para o interesse do nosso Estado e do município.” Josias fundou também uma escola intitulada “Liga Paulistana contra o Analfabetismo em 26/08/1928. Matos Neto. Antônio Porfírio de. História de Frei Paulo: história, política, religião, seca, cangaço e estatística. Aracaju: J. Andrade, 1999. p. 117 e 207.
[94] Sergipe Jornal, Aracaju, 18 nov. 1927, p. 01
[95] Estado de Sergipe, Aracaju, 24 maio 1929. p. 6-9.
[96] Estado de Sergipe, Aracaju, 24 maio 1929. p. 6-9.
[97] Sergipe Jornal, Aracaju, 28 set. 1928. p. 2.
[98] Dados sobre as atividades do Gabinete de Leitura de Maruim na primeira década desse século podem ser colhidas em A Trombeta: Revista humorística, literária, crítica e ilustrada, Aracaju, n.4, p.4, 1907.
[99] O Estado de Sergipe, Aracaju, 7 set. 1913. p. 2.
[100] Século XX, Aracaju, 21 set. 1919. p. 3; A Cruzada, Aracaju, 4 ago. 1926. p. 1; Sergipe Jornal, Aracaju, 19 ago. 1922. p. 2.
[101] Cruz e Silva, Maria Lúcia Marques. Inventário Cultural de Maruim: Edição comemorativa dos 140 anos de Emancipação Política da cidade. Aracaju: Secretaria Especial da Cultura, 1994. p. 292.
[102] Talvez deva se tratar do mesmo curso noturno (de português, aritmética e escrituração mercantil) anunciado em periódicos no ano 1918. Aguiar, Joel. Escorço Histórico do Gabinete de Leitura de Maruim. Aracaju: Gráfica Gutemberg, 1929; Século XX, Aracaju, 16 jun. 1918. p. 3.
[103] Vida, Aracaju, n. 1, p. 5, set. 1930. Segundo Tito Lívio de Castro, Geonísio Curvelo de Mendonça chegou a ser chefe da Igreja Positivista no Rio de Janeiro. Sant’Ana, Tito Lívio. Os produbrutantes: memórias. Rio de Janeiro: Olímpica, 1979. p. 79.
[104] Diário Oficial do Estado de Sergipe. Aracaju, 2 set. 1930. p. 5.
[105] A Cruzada, Aracaju, 27 ago. 1919. p. 3 e 19 out. 1924. p. 3.
[106] Sergipe Jornal, Aracaju, 12 jan. 1922. p. 2. Dentre as várias sociedades de que participou, o professor ocupou a vice-presidência da Sociedade Brasileira de Cultura Alemã. Guaraná, A. Dicionário...p. 158.
[107] Sergipe Jornal, Aracaju, 24 nov. 1921. p. 1; Século XX, Aracaju, 7 dez. 1919. p. 1; A Cruzada, Aracaju, 19 out. 1924. p. 3.
[108] Em 1936 o Centro lançou o primeiro número do seu periódico oficial Sergipe. Nessa época ainda mantinha a missão de louvar os filhos emigrados que faziam sucesso na capital federal. Em artigo intitulado “Estatística das atividades dos sergipanos no Brasil” são apontados, entre os vários destaques, a participação de Geonísio Curvelo de Mendonça na Igreja Positivista, de Moreira Guimarães como líder da Maçonaria no Brasil e de Laudelino Freire, à época, presidente da ABL. Sergipe: periódico do Centro Sergipano. Rio de Janeiro, n. 1, fev. 1936 [páginas não numeradas].

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