A primeira turma do curso de Geografia e História foi constituída em 1951, a partir da autorização provisória concedida pela inspeção federal à Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Fundada um ano antes, e mantida pela Sociedade Sergipana de Cultura, a FCFS também abrigava em seu primeiro lustro os cursos de Filosofia, Matemática e Línguas neo-latinas e anglo-germânicas (cf. Santos, 1998). O início não foi fácil. Como ocorrera em outras localidades, as matrículas na Faculdade de Filosofia estiveram aquém do seu limite de vagas – trinta alunos. O curso de Geografia e História é um exemplo desse obstáculo inicial: o total de matriculados variou entre 12, 13, 12 e 17 estudantes por ano. O referido curso representou, respectivamente, 20%, 26%, 17%, e 23% do total de alunos da Faculdade no período 1952/1955 (cf. Freitas, 1993).
Do quadro docente (1952/1955), há registros de, pelo menos, dezessete professores atuantes na Faculdade de Filosofia. O perfil era multifacetado. Três tipos dominaram a cena: o filósofo/teólogo, os bacharéis em ciências jurídicas e sociais e os engenheiros. Os médicos contavam apenas três, havendo também um odonto-clínico. Isso demonstra quão distante encontravam-se os cursos superiores das práticas de especialização nas Letras, na História e na Geografia. Apenas Maria Thétis Nunes, Clarice Xavier de Oliveira e Maria da Conceição Barreto Ouro fugiam à silhueta do lente do final século XIX e das décadas iniciais do século XX. As duas primeiras professoras eram diplomadas em Geografia e História e a última em Letras neo-latinas.
Mas, não se pense que o reduzido número de especialistas em Geografia e História significou um entrave intransponível à formação dos alunos. De início, é forçoso lembrar a abrangência dos estudos superiores desinteressados antes da década de 1930 e a simplicidade da estrutura curricular do curso de Geografia e História (tomando o ensino superior atual como termo de comparação). O nosso Geografia e História não estava muito distante do primeiro esboço criado em São Paulo em 1934. Tal padrão, contudo, já era bastante criticado por José Honório Rodrigues com base no ensino norte-americano, posto que não incluía disciplinas “de método”, traço diferencial para a formação historiadora. Mas... precisávamos de historiadores?
O curso sergipano, provavelmente modelado pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, era ministrado em três anos (dois períodos por ano), mediante nove disciplinas: Geografia Física (1º e 2º ano), Geografia Humana (1º e 2º) e Geografia do Brasil (3º ano); História da Civilização (1º, 2º e 3º), História do Brasil (2º e 3º), História da América (3º). Além dessas disciplinas, ofertava-se Teologia para todos os cursos da Faculdade como matéria optativa. Na grade de Geografia e História ela ocupava o 1º e o 2º ano do curso.
Já se vão quase cinqüenta anos de formação das duas primeiras turmas, entre as quais incluíram-se Elisete Batista Nogueira, Gildete Santos Lisboa, Josefina Sampaio Leite, Maria Clara V. de Faro Passos, Magnória de Nazareth Magno, Izabel Amaral Barreto, Maria de Lourdes Araújo Fontes e Adelci Figueiredo Santos. Foram vencidas, portanto, as cinco décadas que separam o tempo breve, o tempo dos acontecimentos, o “piscar dos pirilampos” de Ferdinand Braudel, que distingue a conjuntura histórica do tempo intermediário. Os fatos já estão assentados, segundo os metódicos, e já é tempo de historiar a experiência dos professores Lucilo da Costa Pinto (Antropologia), Gonçalo Rollemberg Leite (História da Civilização), Joaquim Fraga Lima (Geografia Humana), Petru Stefan (Geografia Física) e Maria Thétis Nunes (História do Brasil), mestres que cumpriram os pontos diários do curso de Geografia e História no ano de 1952.
Se não for possível fazer história da vivência dessas pessoas e sobre as práticas da Faculdade de Filosofia, que se registre ao menos, o depoimento dos instituidores do oficio de Clio em nível superior nas terras de Sergipe no ano do seu cinqüentenário. Oportuna a efeméride e mais oportuna ainda é a nova conjuntura que se nos avizinha: não bastasse o curso de História da UFS ter enriquecido a bibliografia sergipana em mais de duas centenas de trabalhos nos anos noventa (além de ter aberto um curso noturno), nesse momento, a comunidade acadêmica observa meio estupefata a ampliação 80 para 240 o número de vagas nos cursos de licenciatura em História, quando acrescida a oferta da Universidade Tiradentes no segundo semestres de 2003 (160 vagas). É um bom começo de século, tanto para a formação do historiador como para a oficio de professor de História. E então? O cinqüentenário das primeiras turmas vale ou não uma monografia? A sugestão está registrada.
Para citar este texto
FREITAS, Itamar. A licenciatura em História faz cinquenta anos. Jornal da Cidade, Aracaju, 19 ago. 2003.
Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
Para ver sumário desta obra, acesse: < http://itamarfo.blogspot.com/2010/11/historiografia-sergipana.html >.
Este artigo foi publicado no livro Historiografia sergipana.
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