Heurística – arte de reunir os documentos necessários à pesquisa histórica – e arquivo – instituição responsável pela guarda e tratamento de documentos acumulados por pessoas físicas ou jurídicas ao longo de suas atividades – foram duas expressões que os novos alunos de história da UFS mais ouviram falar nesses últimos quatro meses. Na sexta-feira (24/09), finalmente, trinta e seis alunos da disciplina Introdução aos Estudos Históricos puderam conhecer de perto, ou melhor, por dentro, um desses repositórios de documentação arquivística. Durante três horas, os alunos foram informados sobre as principais tarefas dos especialistas responsáveis pela tão falada heurística, dentro do Arquivo do Poder Judiciário de Sergipe - AJES.Na primeira parte dos trabalhos, o professor Itamar Freitas comparou as noções de fonte e de observação histórica da escola metódica e da escola dos Annales. Concluiu a preleção ressaltando que a relevância dos arquivos – notadamente dos arquivos públicos, como o do Poder Judiciário –, atravessa gerações de historiadores e concepções de cidadania.Em seguida, a professora Eugênia Andrade, diretora da instituição, falou sobre a origem do arquivo e da natureza da documentação ali custodiada. Informou sobre o ciclo vital das peças e das etapas de processamento técnico, incluindo-se a hierarquização, acondicionamento e a elaboração de instrumentos de pesquisa.Os alunos puderam conhecer algumas das dificuldades encontradas pelos arquivista para manter em condições de uso um processo do século XVIIII ..., por exemplo. Receberam orientações de como não só utilizar a documentação cartorária, mas também aplicar um questionário inteligente, em outras palavras, como fazer as fontes falarem, à maneira de Marc Bloch.Da excelente acolhida proporcionada pelos funcionários e estagiários do Arquivo, os visitantes da UFS recolheram, pelo menos, duas boas notícias. A primeira refere-se ao fato de o Arquivo do Judiciário estar recolhendo 100% da documentação do século XX, produzida nas várias comarcas de Sergipe. Em breve, todo o acervo que depõe sobre o patrimônio dessas localidades, sobre os costumes que estruturaram a experiência social dos sergipanos receberão o mesmo tratamento aplicado às demais unidades de arquivamento armazenadas no AJES, desde a sua fundação.O outro fato alvissareiro veio em forma de forma de imagens. A diretora anunciou para este ano, ainda, a veiculação de algumas peças do acervo digitalizado por meio da rede mundial de computadores, como já ocorre com alguns instrumentos de pesquisa. Além disso, apresentou o projeto do novo Arquivo. As modernas instalações, situadas no Centro Administrativo de Aracaju, ao lado do Fórum Gumersindo Bessa, já estão prontas para a inauguração. Pelo porte do empreendimento e pela a incorporação de tecnologia de ponta no que diz respeito à restauração do acervo, não é somente a documentação pública que vai ganhar casa nova e tratamento digno. São também os profissionais da área que terão ampliadas as possibilidades de trabalho.Estão de parabéns, portanto, todos os que fazem o Arquivo Público do Poder Judiciário, tanto pelo tratamento profissional concedido aos graduandos da UFS durante a visita, quanto pelo empenho em fazer da Arquivística em Sergipe, além de ferramenta administrativa, um importante campo da erudição.
Para citar este texto:
FREITAS, Itamar . Por dentro dos arquivos. Judiciarium, Aracaju, n. 82, p. 17, 2004.
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