segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Sete notas sobre quadrilhas juninas em Aracaju (5) - A organização do movimento quadrilheiro

A idéia de criar-se uma associação, liga ou instituição semelhante não é recente. Ela surgia esporadicamente nas reuniões preparatórias de concursos importantes, como o da rua de São João. Era cultivada, principalmente, quando se comentava sobre a ajuda financeira concedida pelo Governo aos blocos e escolas de samba do Estado. Esse auxílio era tema de acalourados debates que resultavam em protestos.
Das reuniões formavam-se comissões encarregadas de levar ao poder público as reivindicações dos grupos. À frente dessa idéia de Associação, quase sempre, estava o Senhor Antônio Freitas, que além de presidente do Centro Social São João de Deus, era diretor da Quadrilha São João de Deus. “Seu” Antônio sentia na pele os mesmos problemas dos demais representantes dos grupos.
A discussão sobre como organizar o movimento, que tinha como principal motivo a ausência do auxílio estatal, só era menos importante que o tema da organização do concurso da Rua de São João. A escolha das chaves implicava na discriminação do local, horário, posição, adversários das quadrilhas em disputa. Contudo, a dita associação ficava somente ao nível das comissões de quatro ou cinco representantes das quadrilhas mais influentes de Aracaju, desfazendo-se ainda no mês de junho, antes do fim dos festejos, a essa época, 30 de junho.
A reduzida participação – na maioria dos casos, por desinteresse – dos demais representantes de grupos nessas comissões resultava no privilegiamento das “grandes” que, utilizando-se das relações pessoais com os administradores dos poderes executivo e do legislativo do Estado e do município, sempre conseguiam alguma ajuda em dinheiro. A situação de desigualdade refletia-se nos resultados dos concursos. Patrocínio garantido significava melhor traje, contrato de músicos conhecidos e boas premiações.
À medida que o número de grupos foi aumentando, a discussão sobre essas questões tornou-se freqüente em outros pontos da cidade: nos bingos da quadrilhas, nos concursos, e atraíram a participação de grupos menos influentes; grupos esperançosos em provar do “bolo” que era repartido, geralmente, entre as quadrilhas Mocotó, Chapéu de Couro e São João de Deus, por exemplo. Assim, organizou-se o movimento.
A fundação da Liga de Marcadores de Quadrilhas da Grande Aracaju pode ser compreendida como resultante da conjugação de três propostas. A primeira nasce dos próprios quadrilheiros, marcadores e diretores que reivindicavam do Governo os mesmos benefícios concedidos aos blocos e escolas de samba. Justificando os pedidos, os quadrilheiros afirmavam que o São João – e não o carnaval – era “a festa tradicional do sergipano”. Os líderes argumentavam que o próprio poder público reconhecia esse fato. Era freqüente o uso da Quadrilha nas campanhas publicitárias do Governo, como elemento de atração turística.
A segunda proposta veio da Secretaria da Cultura, na gestão Aglaé Fontes de Alencar. Assediada por um número crescente de quadrilhas, surgidas de um ano para o outro, a instituição tentava fiscalizar a existência das mesmas, contando, além da sua assessoria, com o auxílio dos marcadores expressivos dentro do movimento. Essa relação entre a Secretaria e os marcadores, como Dunga, da Quadrilha Pé de Chinelo, constituiu-se em grande reforço para a Liga.
O terceiro estímulo veio do então vereador de Aracaju, Rosalvo Alexandre, que, sabiamente, vinha percebendo a importância de um movimento cada vez mais intenso, eminentemente popular e com entrada em todas as comunidades da Grande Aracaju. Esse parlamentar, utilizando-se do livre trânsito que possuía entre os principais marcadores de Aracaju, peregrinou pelos ensaios a espalhar as sementes de uma associação, expondo todas as vantagens que teriam os grupos, caso esse projeto fosse concretizado. Para isso, empregou a sua assessoria, e até o espaço da Câmara de Vereadores (na praça João XXIII), viabilizando as primeiras reuniões da Liga.

Para citar este texto:
FREITAS, Itamar. A organização do movimento quadrilheiro. In: Sete notas sobre quadrilhas juninas. Aracaju: Nossa Gráfica, 2007. pp. 37-39.

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